Os alimentos na Somália vão ficar cada vez mais raros até que venha a próxima colheita, por isso a crise que se arrasta há meses no Corno de África ainda não atingiu o pico, disse nesta quinta-feira António Guterres.
“Ainda não chegámos ao pico da crise”, referiu António Guterres, alto-comissário para os Refugiados. O antigo primeiro-ministro português que trabalha no Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados falava aos jornalistas no Quénia, depois de visitar o Sul da Somália e a capital Mogadíscio.
“Do ponto de vista da segurança alimentar das pessoas, obviamente, à medida que o tempo vai passando, a situação vai tornar-se pior”, disse António Guterres. Até Outubro, cerca de três milhões de pessoas correm o risco de morrer à fome. Segundo Guterres, a situação só será aliviada quando voltar a chover e com uma nova colheita, o que só vai acontecer em 2012.
Para já, as Nações Unidas já declararam situação de fome em cinco zonas do Sul do país, onde o grupo militar Al-Shabaab, ligado à Al-Qaeda, controla a região e não permite que o Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas entregue alimentos. No entanto, Guterres referiu que tanto o Comité Internacional da Cruz Vermelha, como organizações islâmicas ou o fundo das crianças da ONU terão acesso às áreas do Al-Shabaab.
“Eles estão a trabalhar juntos para tentar garantir que todas as áreas vão ser cobertas. Mas ainda não estamos nessas áreas”, disse. A Somália não tem um Governo central desde há duas décadas, devido à guerra civil.
Algumas organizações de solidariedade referem que a falta de segurança e o cansaço de quem providencia a ajuda está na base da falta de meios que se tem vivido durante esta emergência. “Durante décadas, vimos muito pouco interesse por parte da comunidade internacional [para enfrentar] a crise da Somália. Precisamos ampliar [esforços].”