Estados Unidos da América
O primeiro debate entre os candidatos à presidência dos Estados Unidos centrou-se na presente crise económico-financeira doméstica e na política externa, nomeadamente Iraque, Irão e Rússia. Com medo de tropeçar, nenhum dos dois quis correr demasiados riscos. Obama tratou de associar o candidato republicano à política de Bush. McCain, por seu turno, insistiu na falta de experiência de Obama no que diz respeito à política externa. Os especialistas falam de empate.
Nos noventa minutos do debate, o primeiro de uma série de três antes do escrutínio presidencial de 4 de Novembro, mais de um terço do tempo foi consagrado à crise financeira que sacode “Wall Street” há mais de 10 dias. Os dois candidatos concordaram com o plano de emergência proposto pelo secretário de Estado do Tesouro, Henry Paulson, apoiado pela Casa Branca mas ainda em discussão no Congresso.
Paradoxalmente, foi aqui – nas questões económicas – que Obama se mostrou mais nervoso, quando o moderador, Jim Lehrer, um veterano nestas andanças eleitorais, o inquiriu sobre a sua posição em relação ao plano de recuperação financeiro. O senador do Illinois alongou-se e baralhou- se, não tendo tempo de terminou o seu raciocínio nos parcos minutos reservados à sua intervenção. McCain, por seu turno, preferiu aludir a detalhes lógicos, defendendo- se bem numa área onde, todos sabem, não está nada à vontade. O candidato republicado atacou o seu ódio de estimação: a despesa pública. O senador do Arizona chegou mesmo a pedir que se “considere uma congelação da despesa pública”, uma proposta que não deixa de ser sui generis num país que necessita de 700 mil milhões de dólares de dinheiros públicos de modo a evitar o colapso total do sistema financeiro.
Barack Obama procurou associar uma possível vitória de McCain a um prolongamento do mandato de presidente George W. Bush. O candidato republicano, por seu turno, tentou sublinhar a sua experiência por oposição a um adversário que “parece não compreender” o que está em jogo. Por meia dúzia de vezes McCain repetiu esta fórmula, tendo inclusivamente afirmado que Obama “parece não compreender a diferença entre táctica e estratégia”. O senador do Illinois não respondeu imediatamente mas acabou por fazê-lo a propósito do Iraque. Atacado por se ter recusado a reconhecer que o envio de reforços foi um “sucesso”, Obama remeteu para McCain os “erros” iniciais como o de ter dito que a guerra seria fácil: “Você estava enganado”. E, sem esquecer a suposta presença de armas de destruição maciças, repetiu: “Você estava enganado”.
Mau grado este momento, vários comentadores reprovaram em Barack Obama a sua falta de belicosidade, criticando- o por ter várias vezes dado a seu total apoio às posições de John McCain nesta matéria, atitude interpretada como uma tentativa de sedução dos eleitores independentes, que o lado anti-establishment do republicano atrai há alguns anos. Obama declarou que é ostensivamente favorável à energia nuclear e à exploração de petróleo off shore. McCain acusou o toque, descrevendo o seu adversário como muito “liberal” afirmando que “não é fácil quando se é de esquerda estender-se a mão ao centro.”
Sobre o Irão, os dois candidatos tiveram uma discussão parecida à que Obama teve com Hillary Clinton durante as primárias. McCain criticou o candidato democrata por ser este ter defendido negociações com Mahmoud Ahmadinejad, o presidente iraniano, sem a imposição de condições prévias. O senador democrata, por seu turno, criticou McCain por este recusar contactos com Teerão quando o seu conselheiro Henry Kissinger os aprovava. Imediatamente após o debate, o gabinete do antigo Secretário de Estado de Richard Nixon, veio a terreiro esclarecer que, como John McCain, Kissinger opunha-se a contactos a nível presidencial sem condições com o Irão, mas mantinha-se favorável a discussões directas a nível ministerial.
Tentando dissipar a sua reputação de super-falcão, Mc- Cain propôs uma resposta diplomática passando por sanções que seriam decididas fora da ONU por uma “liga de democracias” ainda a constituir- se. Esta é também, aliás, uma ideia partilhada pelos democratas.
Sobre a Rússia e o conflito na Geórgia, McCain fez questão de criticar a posição inicial de Obama, apelando a uma moderação das duas partes, antes devendo-se assinalar uma aproximação mais moderada à que lhe é geralmente atribuída. “Não é uma questão de regresso à guerra fria”, referiu. “Nós queremos trabalhar com os russos.
Já no final, num tom emotivo, Barack Obama contou como o seu pai veio do Quénia para estudar nos Estados Unidos e da “inspiração” que este país representava naquela época para o mundo. John McCain falou da sua prisão afirmando que sempre “soube tratar as minhas feridas d