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Criminosos controlam Mafuiane em Namaacha

Criminosos controlam Mafuiane em Namaacha

Os moradores de cinco quarteirões de Mafuiane, na província de Maputo, vivem apavorados, inseguros e desconhecem o destino que o futuro lhes reserva. Ao cair da noite não dormem ou pernoitam foram da sua povoação porque um grupo de malfeitores à solta, supostamente desconhecido, faz e desfaz a seu bel-prazer. Há violações sexuais, assaltos a residências e estabelecimentos comerciais com recurso a armas brancas. As acções das autoridades com vista a refrear este problema são fracas de tal sorte que as vítimas acreditam haver conivência entre os meliantes e a Polícia.

Mafuiane é uma localidade do distrito de Namaacha, composta por oito povoações, nas quais existem 5.367 habitantes, segundo o censo de 2007. Nos cinco quarteirões a que nos referimos moram 1.704 pessoas, parte das quais relata situações aterradoras de criminalidade. Clama-se por socorro que, para os nossos entrevistados, tarda a chegar. Certas famílias já abandonaram as suas moradias e procuraram refúgio noutras zonas.

Os residentes, que pediram para não serem identificados por medo de represálias, acreditam que os autores destes crimes são indivíduos da mesma zona que se uniram para instalar uma onde de terror. Porquê ninguém sabe explicar. Porém, os relatos dos indivíduos cujos domicílios foram invadidos levam à conclusão de que os tais marginais escolhem a dedo as suas vítimas, das quais não faz parte gente que não sabe onde buscar uma refeição.

De há dias a esta parte, parece que a gangue decidiu dar tréguas mas ninguém deixa de estar sempre atento. Nunca se sabe quando é que voltará a dar o “bote”. O que inquieta sobremaneira a população é o facto de os agentes da Lei e Ordem fazerem vista grossa em relação às pessoas que são suspeitas de estarem envolvidas nos assaltos e desvirtuamento das normas de convivência social.

“A Polícia diz sempre que não há provas. Nas reuniões com a comunidade ficámos a saber que há gente que é restituída à liberdade porque pagou suborno”, contou-nos uma mulher adulta, que em 2005 saiu de Triunfo, na cidade de Maputo, para fixar residência naquele ponto.

Ela recebeu-nos em sua casa e disse que já sofreu vários roubos. Há semanas escapou da morte por um golpe de sorte. Os malfeitores agem impunemente e não existe protecção. “Eles assaltam à vontade e não têm medo de nada”. Antes de iniciar a conversa com a nossa Reportagem, a senhora pediu para fumar um cigarro, talvez para acalmar os nervos, e desembuchou: “Eu criava patos, galinhas e gansos mas destruí a minha capoeira porque não podia criar aves para alimentar gente desconhecida”.

“O último assalto que sofri, numa noite de domingo para segunda-feira, foi horrível. Por volta das 23h00 saí de dentro de casa para fumar um cigarro e quando entrei novamente ouvi ruídos. Apercebi-me de que havia pessoas estranhas do lado de fora, baixei o volume do televisor e desliguei as luzes. Não sei como, mas os ladrões entraram e quando tentei resistir um deles deu ordem a um comparsa para atirar em mim, mas isso não aconteceu”.

A vítima narrou ainda que foram longos minutos de aflição. Volvido algum tempo, ela conseguiu fugir da janela e correu em direcção ao Posto Policial de Mafuiane, que fica a pouco menos de 200 metros do seu domicílio, para pedir ajuda. Infelizmente, quando regressou já na companhia dos agentes da Lei e Ordem, os seus bens tinham sido saqueados e a pessoa com quem estava em casa não pôde fazer nada.

“Para mim eram cinco homens mas o meu filho diz que eram quatro. Ele fez uma chamada para um dos números dos telefones roubados e quem lhe atendeu foi um dos bandidos, o qual disse que mesmo que chamássemos a Polícia esta não havia de fazer nada. Estamos desesperados e vou-me mudar daqui. Não aguento mais esta situação (…)”, desabafou ela.

Há poucas semanas, uma jovem grávida, prestes a dar à luz, foi inesperadamente visitada por uma gangue composta por oito indivíduos. Ela e a sua empregada foram abusadas sexualmente, tendo a notícia chegado a lugares mais distantes de Mafuiane e chocado a todos. Tal como noutros casos desta natureza, a apatia da Polícia, que trabalha numa espelunca em Mafuiane e em condições que deixam a desejar, prevaleceu e ninguém foi detido em conexão com este crime.

O @ Verdade não pôde falar com as vítimas do referido estupro em virtude de elas terem mudado de habitação por conta desta tragédia. Uma vizinha que viveu o caso de perto assegurou que a quadrilha que perpetrou tal crime hediondo nunca foi localizada porque a capacidade de resposta da corporação revela-se fraca. “Não tem meios de trabalho e quando nos queixamos de algum problema pouca vezes age na hora. E há dias em que no posto policial não há nenhum agente”.

Ainda em Mafuiane, um lugar aparentemente calmo, numa outra noite, um grupo de malfeitos dirigiu-se a uma barraca, onde envenenou o proprietário que viria a perder a vida no hospital depois de estrebuchar durante horas a fio.Volvidos poucos dias, a mesma gangue, de acordo com testemunhas, assaltou a viúva e manteve uma cópula forçada com ela. A vítima passou também a morar noutro bairro por causa do recrudescimento da criminalidade. Este é outro delito por esclarecer!

A dezenas de metros da habitação da família acima referida, um cidadão ficou ferido com uma marreta quando tentava impedir um assalto na sua casa, também à noite. O bando que pretendia protagonizar tal acto trazia consigo uma pistola e alguns instrumentos contundentes. O lesado apercebeu-se de que a arma de fogo era falsa e, na tentativa de deter um dos elementos da quadrilha, foi dominado. O seu guarda foi igualmente rendido e amordaçado para evitar que pedisse auxílio aos vizinhos.

Aliás, uma empresa que actua na área de terraplanagem de estradas e construções, sita naquela zona, foi também assaltada por um bando ainda a monte. Há quatro meses que o crime está a ser investigado e os proprietários da firma perderam a esperança de obter esclarecimento por parte da Polícia. O @Verdade visitou as instalações em causa e constatou que só uma pessoa que conhece bem o local é que está em condições de orquestrar um assalto sem deixar pistas.

Enquanto o Posto Policial de Mafuiane não se pronuncia sobre este assunto, alegadamente por falta de autorização do Comando Distrital de Namaacha para tal, Dionísio Rafael, chefe da localidade, confirmou cada facto narrado pelas vítimas, pese embora tenha desdramatizado a situação. Em termos de detalhes, ele não disse nada diferente do que os nossos interlocutores contaram.

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