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Criminalidade: o dilema de “Luís Cabral”

Criminalidade: o dilema de “Luís Cabral”

Há poucos meses, os habitantes do bairro Luís Cabral, na cidade de Maputo, queixavam-se de uma onda de violações sexuais de mulheres e assassinatos, assaltos a residências, em estabelecimentos comerciais e na via pública. Depois de algumas semanas de uma aparente tranquilidade, eles reclamam novamente de roubos nas casas, nas lojas e na rua, à noite, com recurso a armas brancas.

Não é a primeira vez que este assunto é reportado pelo @Verdade e pelos outros órgãos de informação da praça, mas a nossa Reportagem voltou ao terreno em virtude de um novo grito de socorro por parte dos citadinos daquele ponto da capital moçambicana.

A 16 de Agosto passado, os residentes daquele bairro mantiveram um encontro com o director da Ordem Pública no Comando da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Maputo, Bernardino Rafael, a quem apresentaram as suas inquietações relacionadas com o recrudescimento da criminalidade, e pediram maior protecção. Volvidas semanas, o clima de tensão prevalece. Parece que a vigilância prometida pelas autoridades não se faz sentir.

Naquela zona, segundo o secretário local, João Nhantumbo, vivem pouco mais de 33.800 pessoas. Destas, as do quarteirão 35 a 39 dizem que estão mergulhadas num ambiente de cortar à faca protagonizado por indivíduos supostamente desconhecidas; por isso, pedem uma maior atenção das autoridades da Lei e Ordem.

Uma residente do quarteirão 35, que se identificou pelo nome de Luísa, de 34 anos de idade, proprietária de uma barraca, contou-nos que foi vítima de assalto por duas vezes: a primeira a 12 de Agosto e outra a 26 do mês de Setembro último. Por volta das 22h00, seis pessoas munidas de catanas invadiram o seu estabelecimento comercial e apoderaram-se de toda a receita do dia, telemóveis e bebidas alcoólicas.

“Da primeira vez, eles (os malfeitores) encontraram o meu irmão a vender, ameaçaram-lhe e roubaram dinheiro e aparelhagens de som”, narrou a nossa entrevistada que acrescentou que, dias depois, o mesmo grupo dirigiu-se ao mesmo estabelecimento comercial, onde ficou horas a fio a ingerir bebidas alcoólicas enquanto fazia planos para perpetrar o segundo assalto.

Luísa assegurou ao @Verdade que antes do roubo, o grupo exibia elevadas somas de dinheiro em rands, celulares e colares de ouro, dos quais um foi vendido a um cidadão, que posteriormente foi assaltado. De acordo com Luísa, por vezes, os proprietários de algumas barracas, por exemplo, desconfiam do comportamento de determinados clientes mas não os denunciam por falta de provas de que pertencem a grupos de criminosos. Mas mais tarde arrependem-se quando sofrem assaltos.

Para a nossa interlocutora, as pessoas que assaltaram o seu estabelecimento comercial residem no mesmo bairro porque sabiam com exactidão a hora de abertura e encerramento, bem como a altura em que há pouco movimento de clientes.

No mesmo quarteirão, outra vítima identificada pelo nome de Rita Manuel assegurou que há dias foi assaltada por uma quadrilha munida de catanas e facas, por volta das 21h00, quando regressava da escola. A senhora narrou que na altura em que foi abordada pelos supostos meliantes pensou que se tratasse de agentes da Polícia à paisana.

“Eles exigiram o meu bilhete de identidade e aconselharam-me a evitar saídas nocturnas em virtude de a zona ser perigosa mas, de repente, assaltaram-me. Um deles ameaçou-me com uma catana. Perdi dinheiro, bijutarias, celulares e outros bens”, disse Rita.

“Fiquei a tremer, sem saber o que fazer e deixei tudo nas mãos de Deus. Entreguei os bens que eu tinha e fiquei uma semana sem sair de casa por temer ser vítima outra vez ou ser abusada sexualmente até à morte. Penso que a quadrilha reside nesta zona porque encurrala as suas vítimas nas ruas sem iluminação”, contou a nossa entrevistada.

Outro habitante que se identificou pelo nome de Izidoro, de 48 anos de idade, disse que vive no quarteirão 18. Segundo ele, os assaltos que acontecem do quarteirão 35 a 39 são lamentáveis na medida em que, por vezes, são protagonizados em plena luz do dia. Algumas pessoas são agredidas com instrumentos contundentes quando tentam acudir.

“O meu filho foi assaltado por três cidadãos por voltas 20h00, num sábado (04/10), e apoderaram-se dos seus bens à força. Ele tentou resistir mas causaram-lhe ferimentos graves em algumas partes do corpo”, lamentou Izidoro. Este lembrou-se ainda de que, há dias, uma jovem de aparentemente 24 anos de idade perdeu a sua bolsa que continha diversos documentos pessoais, cartões de bancos, celulares e dinheiro num roubo protagonizado por quatro pessoas, no último fim-de-semana do mês de Setembro.

Proibido circular à noite

Augusto Nataniel, um dos residentes do bairro Luís Cabral, no quarteirão 37, pede às autoridades policiais para que redobrem esforços com vista a conterem a onda de criminalidade. “Há dois meses vivemos momentos de luto neste bairro devido ao elevado índice de violações sexuais e mortes. Actualmente, os assaltos assombram a mesma zona.

Urge a intervenção do Governo para travar este problema porque estamos a passar mal. Lembro-me de que, há três meses, a PRM esteve reunida com os moradores e prometeu envidar esforços para estancar a onda de crimes, mas, de lá para cá, os criminosos desenham estratégias sobre como aterrorizar o bairro”, lamentou Augusto Nataniel.

Num outro desenvolvimento, o nosso interlocutor disse o seguinte: “Somos impedidos de circular à noite porque os cidadãos de má conduta ganham a vida atrasando a de outras pessoas. As principais vítimas são alunos do curso nocturno, as mulheres e os trabalhadores”.

Augusto explicou ainda que as senhoras que abandonam as suas famílias de madrugada à procura de meios de sobrevivência, tais como comprar verduras nas machambas próximas para revender, não escapam das acções maléficas dos amigos do alheio. “Elas são agredidas, assaltadas e perdem o seu dinheiro”.

As mulheres são as principais vítimas

Natália William, de 23 anos de idade, vive também no quarteirão 37 e estudava à noite. Mudou de turno em consequência de a sua amiga ter sido abusada sexualmente até à morte por pessoas ainda desconhecidas, há meses.

“Nós estamos nesta zona porque não temos para onde ir. É triste o que vivemos cá. Nós as mulheres estamos a passar por um momento preocupante (…). Quando saímos de casa, os nossos familiares não sabem se voltaremos com ou não”, contou Natália William, a lacrimejar.

A Polícia diz que não tem conhecimento

A PRM, por intermédio do seu porta-voz a nível da cidade de Maputo, Orlando Mudumane, disse que não tem conhecimento de casos de assaltos a residências e estabelecimentos comerciais no bairro Luís Cabral, mas reconheceu que há criminalidade na zona.

“É possível que exista um e ou outro caso de roubos, mas não tenho uma informação exacta. Aguardando ainda pelo relatório das esquadras circunvizinhas”, explicou Mudumane, que acrescentou que a corporação continua a trabalhar com vista a neutralizar e responsabilizar os indivíduos que perturbam a ordem, a segurança e a tranquilidade públicas.

Por sua vez, o secretário daquele bairro, João Nhantumbo, disse que os residentes estão preocupados por causa dos assaltos. Segundo ele, a PRM está a trabalhar em coordenação com a Força de Intervenção Rápida (FIR) para que a região volte a viver momentos de tranquilidade.

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