A Conferência das Nações Unidas sobre o Clima, para definir a resposta mundial ao aquecimento global que ameaça o planeta, começou na segunda-feira em Copenhague, com um apelo a um “voto em defesa da Terra” e a aproveitar uma chance que talvez não se repita jamais.
O primeiro-ministro dinamarquês, Lars Loekke Rasmussen, abriu o encontro afirmando que a Conferência sobre o Clima será “depositária das esperanças da humanidade” nas próximas duas semanas. “No final deveremos devolver ao mundo o que nos dá hoje: a esperança de um futuro melhor”, completou. Os representantes de 192 países assistiram em sessão plenária ao início de duas semanas de negociações, que chegarão ao fim em 18 de Dezembro na presença de mais de 100 chefes de Estado e de Governo.
A conferência começou, com 45 minutos de atraso, com a exibição de um curta, um filme-catástrofe mostrando uma menina adormecida ao lado de seu urso branco de pelúcia e que acorda no meio de um deserto, com o solo craquelê, antes de ser alcançada por ondas tumultuadas. “Ajude-nos a salvar o mundo”, diz ela, aterrorizada, em frente à câmera. Os delegados que chegaram para a abertura dessa 15ª Conferência sobre o Clima da ONU foram apresentados a duas opções para entrar no Bella Center, onde acontecem os debates: uma entrada vermelha para quem é a favor do aquecimento global e outra verde para que é a favor da Terra.
Após passar pelos controles, os participantes cruzam por um tapete cinza que representa uma estrada com uma bifurcação que leva às portas vermelha e verde instaladas pela organizaçao ecológica WWF. Por superstição ou convicção, ninguém passou pela porta vermelha, apesar dos esforços de jovens vestidos totalmente de cinza e que tentavam atrair os visitantes com cartazes afirmando “Protejam seus interesses”. A missão da conferência, histórica por seu tamanho, é limitar a dois graus centígrados o aumento da temperatura média da superfície da Terra, o que torna necessária uma drástica redução das emissões de gases do efeito estufa.
O caso das mensagens eletrônicas de especialistas sobre o aquecimento global que teriam sido manipuladas, conhecido como “Climagate”, também foi comentado neste primeiro dia de conferência, tendo sido definido como uma tentativa de fazer desacreditar o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), segundo presidente. “O recente incidente de roubo de e-mails de cientistas da Universidade de East Anglia demonstra que algumas pessoas estão dispostas a recorrer à ilegalidade, talvez para desacreditar IPCC”, afirmou o presidente do grupo de especialistas premiados em 2007 com o Nobel da Paz, Rajendra Pachauri, na abertura da Conferência das Nações Unidas sobre o Clima.
“Mas nosso painel dispõe de um histórico de avaliações transparentes e objectivas de mais de 21 anos, estabelecidas por dezenas de milhares de cientistas em todos os cantos do mundo”, insistiu. O IPCC está investigando as recentes acusações contra um reconhecido climatologista britânico suspeito de ter manipulado dados de pesquisas para exagerar os efeitos da mudança climática no mundo.
O professor Phil Jones, diretor da Unidade de Pesquisas sobre o Clima (CRU) da Universidade de East Anglia, renunciou temporariamente a seu cargo esta semana depois da publicação na internet de uma série de mensagens que supostamente demonstrariam uma alteração de dados para exagerar o efeito da atividade humana sobre a mudança do clima. Mas o chefe da delegação da Arábia Saudita na conferência de Copenhague, Mohamed Al Sabban, afirmou que o escândalo terá consequências sobre a confiança nos estudos científicos sobre as mudanças climáticas.
“O nível de confiança se vê afetado”, declarou Sabban, cujo país lidera o grupo de Estados produtores de petróleo. Para responder a necessidades urgentes de países vulnéraveis à mudança climática, também começa a tomar corpo a ideia de um financiamento imediato, de 10 bilhões de dólares por ano, até 2012. O embaixador da França para o clima, Brice Lalonde, felicitou-se com o “tom geral positivo” deste primeiro dia. “Há uma dinâmica positiva, com um viés técnico”, comentou.
Lalonde também destacou as “boas notícias” que vêm de longe, como as da Agência americana de Meio Ambiente (EPA) decidida a regulamentar as emissões nacionais de CO2: “é o fim de uma longa batalha”, insistiu, considerando que esta decisão vai reforçar a “credibilidade” dos compromissos dos Estados Unidos no plano international de reduzir suas emissões poluentes.
Enfim, uma petição assinada por 10 milhões de pessoas através do mundo, para reclamar um acordo ambicioso até 18 de Dezembro, foi entregue nesta segunda-feira aos responsáveis pela conferência pela campanha de mobilização sobre o clima, “TckTckTck”, que tem esse nome para lembrar o tic-tac do relógio que não para.