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Comité Olímpico atribui bolsas a atletas pouco profícuos

O Comité Olímpico de Moçambique, uma entidade subordinada ao Ministério da Juventude e Desportos (MJD), atribuiu, em Setembro passado, bolsas a seis atletas, nomeadamente Maria Manuela Machonga (boxe), Jannah Sonneschein (natação), Neuso Sigaúque (judo), Kurt Couto, Alberto Mamba e Creve Machava (atletismo). Porém, Kurt e Neuso, ambos de 29 anos de idade, nunca apresentaram resultados que dignificassem o país, mas gozam do privilégio de continuarem a preparar-se, supostamente para atingirem marcas com vista a participarem nos Jogos Olímpicos de 2016 que serão realizados na cidade brasileira de Rio de Janeiro.

Segundo Benedito Jone, responsável pelas bolsas no Comité Olímpico de Moçambique, aquela agremiação desportiva baseou-se no rendimento dos atletas nos últimos doze meses, uma vez que a Solidariedade Olímpica Internacional estriba-se nesses dados para que o atleta seja bolseiro.

“Esta atribuição de bolsas foi feita pelo Comité Olímpico Internacional com o apoio da Solidariedade Olímpica, também internacional. Para tal, este dois organismos tiveram em conta o nível competitivo dos atletas e as marcas pessoais que os mesmos conseguiram nas últimas competições internacionais e os seis escolhidos reuniam essas exigências”, disse.

Sobre a escolha de dois atletas que caminham para a fase descendente da carreira, em particular Kurt Couto e Neuso Sigaúque, Benedito Jone declarou que o Comité Olímpico de Moçambique não podia excluir os dois desportistas porque tinham os requisitos exigidos pela Solidariedade Olímpica Internacional, instituição que atribuiu as bolas.

“O Kurt e o Neuso, apesar da idade, apresentam os requisitos exigidos pela instituição que oferece as bolsas, não tínhamos como deixá-los de fora porque conseguiram melhorar as suas marcas nas provas internacionais nos últimos doze meses, daí que a Solidariedade Olímpica Internacional fê-los bolseiros para que estes possam preparar-se em grandes centros de alto rendimento espalhados pelo mundo como forma de conseguirem os mínimos para os Jogos Olímpicos”.

Kurt (muito) longe dos feitos da Lurdes Mutola

O velocista moçambicano, Kurt Couto, é considerado por muitos um dos melhores atletas que o país já viu nascer, apesar de este nunca ter ganho uma medalha numa competição prestigiada como os Jogos Olímpicos ou num Campeonato do Mundo, competições em que Maria de Lurdes Mutola levantou bem alto a bandeira de Moçambique.

Kurt que no presente conta com 29 anos de idade, já conquistou sete medalhas divididas em diversas competições internacionais, das quais apenas duas de ouro nos Jogos da Lusofonia, em 2006 e 2013. Maria de Lurdes Mutola que abandonou as pistas com 32 anos, ganhou 19 medalhas internacionais, sendo 13 de ouro, mais que o dobro das medalhas conquistadas pelo bolseiro.

Mutola participou em três edições dos Jogos Olímpicos e ganhou duas medalhas, uma de ouro e a outra de bronze, todavia, Kurt Couto já participou em três Olimpíadas, mas o máximo que conseguiu foi apurar-se para as meias-finais, facto que lhe valeu a atribuição do Prémio Atleta Olímpico do Ano, em 2013, pelo Instituto Nacional do Desporto (INADE).

Apesar de ser pouco produtivo, o velocista continua a merecer a confiança do Comité Olímpico de Moçambique e da Federação Moçambicana de Atletismo.

“FMA” insatisfeita com a atribuição da bolsa a Kurt Couto

Sem criticar profundamente os critérios usados para a atribuição das bolsas, o secretário – geral da Federação Moçambicana de Atletismo, Kamal Badru, declarou que não está satisfeito com a atribuição da bolsa a Kurt Couto, um atleta que caminha para a fase descendente da carreira, considerando que o Comité Olímpico Internacional devia atribuir bolsas a atletas mais jovens.

“Não estamos de acordo com a atribuição da bolsa a Kurt Couto, pela idade que ele tem no presente, uma vez que que no ano dos Jogos Olímpicos o mesmo terá 31. Mas se as entidades responsáveis lhe atribuíram é que ele ainda tem potencial para conseguir os mínimos. Se a escolha fosse nossa apostaríamos em atletas mais jovens”, disse Badru.

“Não houve transparência”

Belardino José, atleta do Núcleo do Bagamoio, disse ao @Verdade que não houve transparência na escolha dos bolseiros, uma vez que foram seleccionados atletas na fase descendente da carreira em detrimento dos mais jovens. “Esperávamos que, assim como a maioria dos países, escolhessem atletas jovens para beneficiarem das bolsas, mas não foi o que aconteceu. Preferiram apostar na continuidade, o que decerto nos deixa equivocados porque nos outros países aposta-se mais nos jovens, como forma de prepará-los para que estes tenham a oportunidade de participar nos Jogos Olímpicos”.

Num outro desenvolvimento, o velocista do Núcleo de Bagamoio declarou que “em Moçambique temos muitos atletas jovens que com as bolsas poderiam alcançar os mínimos, mas ainda não confiam neles. Mas já que escolheram os experientes, onde é que os mais novos vão adquirir experiência?”, questionou.

“Não temos fundos para levar os nossos filhos para o estrangeiro”

Zefanias Matusse, pai e encarregado de educação de um atleta que milita num clube da capital do país, afiançou que as escolhas feitas pelo Comité Olímpico de transparência não têm nada, e teme pelo futuro dos atletas mais jovens que a cada ano que passa perdem espaço a favor dos veteranos.

“Em Moçambique existem muitos atletas talentosos em várias modalidades, mas os nossos dirigentes continuam a apostar em atletas que apenas vão às competições internacionais para fazer turismo e só ganham nas provas de menor expressão como os Jogos da Lusofonia”. Indo mais longe, Matusse afirmou o seguinte: “Se tivéssemos fundos para mandar os nossos filhos para os centros de alto rendimento fá-lo-íamos, mas como não temos, o que nos resta é assistir a essa pouca vergonha. Onde já se viu um atleta de 29 anos ser bolseiro? Isso só acontece num país desorganizado como o nosso”, lamentou Zefanias.

Por seu turno, Gabriel Matcheve, amante de desporto, disse que ficou atónito quando soube que Kurt Couto voltou a beneficiar de uma bolsa, apesar desde estar na casa dos trinta anos, em detrimento dos mais jovens. “Não sei o que passa com os nossos dirigentes desportivos, mais uma vez voltaram a surpreender pela negativa. Neuso Sigaúque e Kurt Couto são atletas talentosos mas a idade já não perdoa, eles já estão na fase descendente da carreira e deviam abrir mão das bolsas para os mais jovens. Temos atletas campões africanos na canoagem mas não foram incluídos nestas bolsas; acho que não houve transparência na escolha dos bolseiros”.

Kurt Couto já participou em três olimpíadas, mas o melhor que conseguiu foi alcançar as meias-finais em 2012 no certame realizado na capital inglesa, Londres. Nas três edições, o velocista moçambicano foi porta-bandeira.

Projecto Rio – 2016 espera apurar dois atletas para os Jogos Olímpicos de Rio de Janeiro

O projecto do Clube Natação Golfinhos de Maputo, Rio – 2016, espera qualificar dois atletas para o maior evento desportivo do planeta, os Jogos Olímpicos, que serão realizados dentro de dois anos, no Rio de Janeiro.

De acordo com Pedro Langa, secretário-geral daquela agremiação desportiva, no presente apenas dois atletas reúnem condições para lutar pelas marcas mínimas para os Jogos Olímpicos, designadamente Jannah Sonneschein, beneficiária de uma bolsa, e Igor Mogne.

“No presente temos apenas dois atletas com a possibilidade de se qualificarem para os Jogos Olímpicos, apesar de termos vários atletas com potencial para lutarem por um lugar naquela competição, mas não temos fundos para o efeito. A Jannan recebeu uma bolsa do Comité Olímpico de Moçambique e o Igor vai-se preparando com os fundos do clube”, afirmou Langa.

Questionado sobre se não se sentiram afectados por terem apenas um atleta bolseiro, Pedro Langa declarou o seguinte. “Não nos sentimos discriminados porque temos uma atleta contemplada, mas os critérios de escolha foram as marcas que os atletas conseguiram nas competições internacionais e a maioria dos nossos nadadores evoluem dentro de portas”.

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