Dulce Chipondo e Bento Cumbe não se conhecem, mas têm mais pontos em comum do que possam imaginar. São beneficiários do Fundo de Desenvolvimento Urbano, criado no ano passado. Bento vende e fabrica blocos de construção; Dulce dedica-se à criação e comercialização de aves. Os dois, contra todas as expectativas, prosperam…
A pobreza que caracteriza os centros urbanos do país e a capital, cidade de Maputo, em particular, fez com que o Governo introduzisse, no ano passado, o Fundo de Desenvolvimento Urbano, medida tomada com o objectivo de criar alternativas ao desemprego e promover o auto-emprego.
Até 2010, o fundo era apenas alocado aos 128 distritos que compõem o país. Em 2011, foi estendido às capitais provinciais e aos distritos municipais, com vista a colmatar a chamada pobreza urbana.
No caso do município de Maputo, a iniciativa foi implementada nos cinco distritos municipais que outrora tinham sido excluídos do processo, nomeadamente, os distritos de KaMubukwane, KaMavota, KaMaxaquene, Ka-Chamanculo e KaMPfumu, excepto os da KaTembe e KaNhaca, que já beneficiavam do fundo desde 2006. Nesta urbe, os mutuários dizem que os seus negócios vão de vento em popa.
A titulo de exemplo, Dulce Chiponde, de 51 anos de idade, conta que desde que aderiu ao fundo, em meados do ano passado, os resultados que tem obtido são muito promissores. Ela apostou na criação de frangos, actividade da qual já tinha experiência.
“Quando ouvi falar do fundo achei que devia aderir. Há muito que eu esperava por uma oportunidade dessas para expandir o meu negócio. Eu crio frangos desde 1998 mas não conseguia juntar dinheiro para investir”, diz Dulce, para depois acrescentar que teve te paralisar as actividades por dois anos para construir a casa onde mora, tendo reiniciado em 2010 com o valor da reforma que recebeu do Ministério da Agricultura, onde trabalhou durante 25 anos.
Em relação ao Fundo de Desenvolvimento Urbano, Dulce diz ter recebido 75 mil meticais, reembolsáveis em 24 meses, sendo que por mês terá de pagar pouco mais de três mil meticais. “Tive tempo suficiente para investir, estou preparada para devolver o dinheiro. Não tenho razões de queixa, tudo está a acontecer como eu tinha previsto”.
Uma medida de precaução
Como forma de garantir o sucesso do negócio que faz e o pagamento do empréstimo, a nossa interlocutora disse estar a fazer poupanças que “serão uma retaguarda no caso de algum imprevisto acontecer”.
Dulce Chiponde, que considera que a alocação dos sete milhões aos distritos municipais, com destaque para o distrito municipal KaMubukwane (onde vive), é uma oportunidade criada pelo Governo para que as pessoas possam materializar as suas iniciativas e, consequentemente, criar o próprio emprego.
Se no ano passado ela tinha apenas uma capoeira com capacidade para quinhentos pintos, hoje mostra-se interessada em ampliá-la de modo a responder à demanda. “Chega uma altura em que a procura pelos frangos supera a minha capacidade de oferta ao mercado. Até finais do ano passado ter 500 pintos era a minha meta, mas agora é o mínimo”, acrescentou.
Frangos para abate, uma actividade de quem sabe
Tendo como base o projecto de criação de frangos para abate, Dulce reitera que o valor que lhe foi concedido é sufi ciente para criar um negócio rentável nesta área. Considerando que o preço do frango varia entre 120 e 150 meticais, o lucro por cada animal situa- -se entre os 21 e 40 meticais.
“Os restantes 100 meticais são destinados às despesas correntes tais como a aquisição de vacinas, antibióticos, vitaminas, carvão para a manutenção de uma temperatura equilibrada e energia eléctrica”, explica.
Desde que recebeu o fundo (há seis meses), os trabalhos são garantidos por apenas um empregado, que aufere um salário mensal de três mil meticais, o que faz com Dulce se sinta na obrigação de contratar mais uma pessoa que possa ajudar noutras tarefas que não param de se multiplicar, como resultado da evolução do negócio.
Questionada sobre o segredo para conquistar os clientes, cujo número cresce a cada dia que passa, Dulce disse que tudo depende da alimentação que se dá aos pintos, associada à aplicação de vacinas, antibióticos e vitaminas. “Tudo isto garante um crescimento de qualidade, o que atrai os clientes”.
Outro munícipe que beneficiou deste fundo é Bento Cumbe, de 33 anos e residente no bairro George Dimitrov, que herdou o estaleiro do seu pai. Dedica-se ao fabrico de blocos e ventiladores, embora tenha uma banca onde vende produtos alimentares e de higiene.
Seguindo o conselho do secretário do bairro, Bento solicitou um empréstimo de 84.820 meticais à Administração Distrital de Ka- Mubukwana. Até este momento, ele já fez três amortizações de 3.535 meticais mensais pois o reembolso começou em Novembro do ano passado.
No ano passado, Bento concedeu uma entrevista ao nosso jornal, na qual dizia estar seguro do negócio que faz. Este ano, tratou apenas de reiterar a sua posição, alegadamente porque a experiência que tem proporciona-lhe condições para seguir em frente.
No seu estaleiro, Bento emprega duas pessoas, que recebem dois mil meticais mensais cada. Contou-nos que antes mesmo de receber o financiamento, com este negócio, conseguia ter um lucro de 15 mil meticais, e agora, com o financiamento, aufere aproximadamente o dobro.
A caminho da realização
Após beneficiar do fundo, Bento pensava em ampliar o seu estaleiro no bairro George Dimitrov e posteriormente abrir um novo em Boquisso, distrito de Marracuene, onde já tinha adquirido um terreno para o efeito.
Até aqui muitos projectos que tinha desenhado ainda não foram materializados, mas isso não o impede de afi rmar que está a caminho da sua realização.
“Estou a fazer de tudo para instalar defi nitivamente um estaleiro em Boquisso, distrito de Marracuene. Já fiz uma experiência e os resultados foram animadores. Vou conseguir devolver o valor ao município para que outros tenham a oportunidade de realizar os seus sonhos”.