O Ministro moçambicano da Ciência e Tecnologia, Venâncio Massingue, disse, na quinta-feira, em Maputo, que só com o reconhecimento do valor económico da biodiversidade a população deixará de sofrer da mal nutrição.
Falando na abertura da conferência internacional sobre biodiversidade, Massingue explicou que, reconhecendo isso, as populações irão consumir os produtos naturais saudáveis existentes no seu meio e, sobretudo, poderão explorar alguns recursos de modo a melhorarem a sua renda.
“O combate a pobreza e a criação da riqueza são a materialização dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio e do Plano Quinquenal do Governo, uma vez que só com o reconhecimento do valor da biodiversidade é que as nossas populações deixarão de sofrer da mal nutrição”, disse o governante, falando na abertura deste encontro de um dia. Moçambique possui extensas áreas de florestas, um dos ecossistemas, que a par dos aquáticos, são o guardião da biodiversidade do país.
O ministro disse, por outro lado, que a maior parte da população moçambicana ainda depende estritamente da exploração dos recursos naturais. Por isso, defendeu ser necessário conciliar os valores culturais, tradicionais e científicos para que as gerações de hoje e de amanhã desfrutem deste tesouro oferecido pela natureza.
Nesse sentido, as instituições de investigação e academia de ciências têm um papel fundamental na identificação de formas de transmitir mensagens sobre a tomada de atitudes correctas na preservação da natureza. “Não serão medidas de proibição que preservarão a natureza, os recursos naturais ou a biodiversidade, será a mudança de atitude que levará a uma convivência mútua entre a natureza e a população”, disse Massingue.
Este encontro insere-se no quadro da celebração de 2010 como Ano da Biodiversidade e é organizado pela Academia de Ciências de Moçambique, uma instituição criada ano passado e que integra diversos cientistas e inovadores moçambicanos comprometidos com a produção e divulgação da ciência e tecnologia em prol do desenvolvimento do país. Uma das participantes na conferência é a investigadora Natasha Ribeiro, Engenheira Florestal da Faculdade de Agronomia da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), que apresentou um trabalho com o tema “Conservação da Biodiversidade em Moçambique – oportunidades e desafios”.
Trata-se de um trabalho que aborda o contexto nacional do estado da biodiversidade com base na Estratégia Nacional de Conservação da Biodiversidade 2003-2010 com as diversas realidades constatadas no terreno. Em entrevista a jornalistas, Ribeiro disse haver metas da estratégia que não foram alcançadas, mas também existem aspectos positivos registados no terreno.
“Alguns sectores estão avançados, como é o caso do de maneio das zonas protegidas”, afirmou, acrescentando que “na componente de partilha de benefícios, os 20 por cento das taxas de exploração florestal (das áreas sob sua jurisdição) têm chegado às comunidades”, disse, apontando alguns exemplos de sucesso na gestão e conservação da biodiversidade nacional.
Contudo, Ribeiro disse que ainda existem oportunidades e desafios. Uma das oportunidades, considerada prioritária, tem a ver com a avaliação de como o país pode entrar para o mercado de carbono, uma área ainda incipiente mas importante para o envolvimento das comunidades na conservação da biodiversidade, gerando benefícios económicos e ambientais.
Por outro lado, ela apontou alguns desafios, dentre os quais o de natureza legal relacionado com a necessidade de se melhorarem aspectos de monitoria ambiental. Actualmente, os sectores que mais se ressentem com a fraca monitoria ambiental são os da agricultura e mineira.
Ela disse que a actividade mineira informal está a provocar sérios problemas ao meio ambiente, facto visível, por exemplo, na província central de Manica, nos distritos de Sussundenga e Manica, onde existem vastas áreas desmatadas e, neste último local, as águas do rio Púnguè estão avermelhadas.