A misteriosa “partícula da criação,” que supostamente transformou matéria dispersa em estrelas e planetas nos primórdios do universo, continua sem ser encontrada pelos cientistas, depois de um ano de buscas incessantes, disseram físicos esta segunda-feira.
Rolf Heuer, diretor-geral do centro de pesquisas do Cern (Organização Europeia de Pesquisa Nuclear), nos arredores de Genebra, disse ter esperanças de que o misterioso bóson de Higgs apareça em 2012, junto com sinais relativos a outros conceitos que eram no passado terreno exclusivo da ficção científica.
O Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês), maior máquina do mundo, construída em forma oval sob a fronteira franco-suíça, já realizou mais de 70 milhões de colisões de partículas, mas nenhuma delas foi capaz de identificar o bóson de Higgs, segundo Heuer. “Espero que grandes descobertas aconteçam no ano que vem”, disse o físico numa conferência internacional em Grenoble, na França, onde ele apresentou resultados dos trabalhos do LHC.
Outros cientistas do Cern presentes no evento relataram estranhas “flutuações” nos dados coletados nas colisões de alta velocidade, mas alertaram que elas podem ser apenas erros nas leituras ou fenômenos passageiros, a serem explicados mais tarde. Eles alertaram que é importante não “descobrir” o bóson de Higgs antes de ele ser realmente encontrado, como anunciou um pesquisador neste ano. Esse bóson – tipo de partícula crucial no estudo da física quântica – deve seu nome ao físico britânico Peter Higgs, que disse há três décadas que esse foi o agente que transformou em massa a matéria expelida pelo Big Bang há 13,7 bilhões de anos, permitindo assim o surgimento de tudo que existe no cosmos. Mas alguns cientistas temem que essa partícula possa não existir, ou pelo menos não na forma sugerida por Higgs e por dois pesquisadores belgas que apresentaram a ideia mais ou menos ao mesmo tempo, no final da década de 1970.
A descoberta do bóson de Higgs poderia completar os elementos essenciais do chamado Modelo Padrão da física, derivado do trabalho de Albert Einstein e seus sucessores no começo do século 20, e que abriu caminho para a “nova física”. Esse domínio incluiria a supersimetria, a sustentação da teoria das cordas e a ideia de universos paralelos, matéria escura (a matéria “escondida” no cosmos) e energia negra, que estaria supostamente fazendo as galáxias se distanciarem.
O vasto volume de informação reunido até agora pelo LHC — um projeto de 10 bilhões de dólares inaugurado em 2008, com o objetivo de “recriar” o Big Bang — “fornece bases sólidas para futuras descobertas”, disse Heuer no fim de semana a funcionários do Cern. “O nosso campo da física, que foca em fenômenos raros, exige (um enorme volume de) estatísticas”, afirmou. Por isso, respostas definitivas sobre o bóson de Higgs ou sinais apontando para coisa que antes eram meras especulações ainda podem estar bem distantes.