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Cidadão processa a CDN depois de ser apedrejado por populares

Cidadão processa a CDN depois de ser apedrejado por populares

Em protesto contra a decisão de eliminar 10 apeadeiros ao longo do percurso Nampula-Cuamba, a população do povoado de Tui, distrito de Malema, província de Nampula, arremessou, no passado dia 13 de Fevereiro, pedras contra o comboio de passageiros pertencente à empresa Corredor de Desenvolvimento do Norte (CDN). Em consequência disso, António Mário Malipo, de 27 anos de idade, contraiu ferimentos graves, além de ter perdido os dentes. No entanto, a CDN nega prestar assistência à vítima, facto que está a criar um braço-de-ferro entre a firma e os familiares do utente da locomotiva.

Quando António Malipo decidiu viajar para o posto administrativo de Iapala, distrito de Ribáuè, com o objectivo de visitar os seus familiares, não imaginava o que lhe havia de suceder ao longo do percurso. Além de (re)ver velhas amizades, constava na sua lista de actividades a realizar naquela parcela do país oferecer uma motorizada à sua esposa.

No dia 13 de Fevereiro, saindo da cidade de Cuamba, o jovem tomou o comboio com destino a Iapala. A jornada parecia estar a correr da melhor maneira. Porém, quando a locomotiva se aproximava do apeadeiro conhecido por Mussa, por sinal eliminado pela empresa Corredor de Desenvolvimento do Norte, a situação mudou. De súbito, uma multidão surgiu e começou a atirar pedras contra as carruagens e os passageiros. Malipo preparava-se para ir à casa de banho, quando foi atingido por uma pedra na boca, tendo perdido quatro dentes. “Naquele momento, eu não entendi o que se estava a passar, não conseguia levantar-me do chão e, muito menos, falar”, conta.

O amigo que se encontrava sentado no mesmo banco foi a única pessoa que ofereceu ajuda. O revisor, a Polícia de Transporte e Comunicações (PTC) e os seguranças da CDN não moveram uma palha sequer. O amigo da vítima procurou saber das autoridades de quem era a responsabilidade pelos danos causados a Malipo naquela carruagem. “Eles disseram que o que aconteceu era da minha inteira responsabilidade, porque foram populares que atiraram as pedras e não a CDN. Por outro lado, eles teriam recebido ordens para não ajudar os feridos em caso de ocorrer incidentes do género”, explicou.

O lesado foi levado para o posto da PTC com vista a registar uma queixa contra desconhecidos. Depois disso, ele foi abandonado naquele local pelos homens da CDN e, mais uma vez, Malipo contou com a ajuda do seu amigo para ir até ao posto de saúde mais próximo para obter cuidados médicos. Como se não bastasse a falta de humanismo por parte dos agentes da CDN, os técnicos de saúde afectos àquele posto de Iapala não prestaram tratamento específico, tendo apenas prescrito paracetamol e sulfato de morfina (comprimidos para o tratamento de diarreias).

Quando decidiu voltar para o comboio, com destino à cidade de Nampula, sua terra de origem, para tratar da sua saúde, ao jovem não foi permitido entrar em nenhuma das carruagens. E, por conseguinte, foi abandonado naquele local, onde ainda contava somente com a ajuda do seu amigo. Volvidos dois dias, Malipo dirigiu-se à direcção da CDN com vista a entender o que teria acontecido para que não fosse ajudado, tendo em conta que o que se sucedeu é da inteira responsabilidade daquela empresa, pois foram eles que decidiram eliminar os apeadeiros que existem desde o tempo colonial. Porém, não teve uma resposta satisfatória.

A vida de Malipo já não é a mesma

A vida de Malipo mudou de forma drástica. Desde o dia do incidente, tornou-se um sacrifício ingerir alguns alimentos. Além de dores fortes na mandíbula, a sua dicção já não é perfeita e é obrigado a falar em voz alta. “Devido àquela atrocidade que me consome a alma, dói-me ouvir a minha própria voz. Além disso, agora sou obrigado a consumir apenas alimentos leves para evitar que me magoe”, lamentou.

“Processei o Corredor da Desgraça do Norte”

Sem alternativas, António Mário Malipo recorreu ao apoio da justiça. O caso está nas mãos da Procuradoria Provincial de Nampula, onde deu entrada no dia 28 de Fevereiro cujo auto ostenta o no 30/RDIC2012-PIC, e espera que o mesmo seja levado a tribunal para ser julgado e responsabilizada a CDN por não o ter ajudado durante aquele incidente.

Malipo diz estar disposto a seguir o caso até às últimas consequências porque, no seu entender, a firma Corredor de Desenvolvimento do Norte não está a trabalhar em prol do desenvolvimento daquela região do país. “Processei o corredor da desgraça do norte e vou seguir o caso até que aquela empresa seja responsabilizada pelo seu mau serviço”, disse.

CDN assegura que ajudou todas as vítimas

Sérgio Paúnde, porta-voz da CDN, assegurou que a empresa prestou assistência à totalidade dos indivíduos que contraíram ferimentos durante a referida viagem e eles foram atendidos no posto de saúde mais próximo. “O Corredor de Desenvolvimento do Norte ajudou a todos. Neste momento, estamos a fazer o acompanhamento da situação de saúde de cada um”, disse.

A posição do porta-voz contradiz a versão dada por uma outra fonte ligada à empresa que estava no mesmo comboio, no dia do ocorrido, segundo a qual a CDN não prestou socorro a Malipo. O nosso interlocutor salientou ainda que os feridos chegaram à cidade de Nampula sem terem recebido cuidados médicos.

Refira-se que, em resultado daquele incidente, a empresa teve um prejuízo de mais de 63 milhões de dólares norte-americanos. Além disso, dezenas de cidadãos ficaram privados de transporte ferroviário durante cinco dias e, em consequência disso, produtos alimentares, tais como milho, batata, tomate, mandioca, feijão, entre outros, escassearam em quase todos os mercados da cidade de Nampula.

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