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Chuvas e o drama de sempre

Chuvas e o drama de sempre

Os moradores dos bairros Jota, Novo e, sobretudo, Fish, no distrito de Boane, queixam-se da falta de valas de drenagem para o escoamento das águas pluviais, pois sempre que há precipitação são condenados a viver na imundície. Basta um pouco de chuva para as ruas se tornarem intransitáveis e as casas ficarem totalmente alagadas. O outro problema que tira o sono aos residentes daquelas circunscrições  é a escassez de água potável.

Verdade, depois das intensas chuvas que se fizeram sentir na cidade e província de Maputo, fez uma ronda por alguns bairros do distrito de Boane. O cenário que se constatou no terreno é desolador. Acompanhada por um adolescente de 16 anos, mas profundo conhecedor dos problemas crónicos dos bairros Novo, Jota e especialmente Fish , a nossa equipa de reportagem ouviu o “choro” dos residentes daqueles espaços habitacionais esquecidos pelas autoridades. Vasco Mahumane, o nosso guia, com uma desenvoltura incomum para um indivíduo daquela faixa etária, levou-nos ao coração da tragédia.

Nesse percurso encontrámos Joana Cossa, de 43 anos de idade, que vive no bairro Fish, quarteirão 16, há 23 anos. A senhora, que sempre que chove transforma o desespero num companheiro, conta que quando chegou ao bairro, em 92, havia uma vala de drenagem, que escoava as águas. “Nessa altura não tínhamos esses problemas. Não encontrávamos ruas intransitáveis e nem casas alagadas como é frequente nos dias que correm”.

Tudo começou, no entender dos residentes, com “a morte da vala de drenagem”. Ou seja, a impossibilidade de desenvolvimento naquele bairro é imputada ao desaparecimento da vala.

“Já passam 12 anos desde que a drenagem foi destruída e que vivemos o pesadelo do alagamento”, lamenta. Efectivamente, há mais ou menos 12 anos o secretário local do bairro, Custódio Muchanga, decidiu construir uma casa de pasto por cima da vala de drenagem impedindo, desse modo, o curso normal das águas.

Joana Cossa leva sempre as mãos à cabeça ao mínimo sinal de mudança do rosto do céu. Se chove o certo é ficar com a casa totalmente alagada. É-lhe impossível entrar ou sair da casa sem meter os pés na água barrenta que cobre o quintal. Desesperada, Cossa conta que já pondera abandonar a casa. Aliás, se ainda não o fez é porque não sabe aonde ir.

“É dinheiro que me falta, senão abandonava este bairro, viver como pato não dá, estamos numa imundície total,” afirma Joana Cossa, visivelmente agastada.

Para inverter a situação, Joana contactou o secretário afim de testemunhar o cenário que ela e os outros moradores vivem por falta de vala de drenagem, o qual prometeu resolver a situação. Contudo, volvidos 15 meses a situação continua a mesma. “ O secretário provou que olha apenas para o seu próprio umbigo. Os dirigentes deste país nunca escutaram aquela música em que o malogrado Jeremias Nguenha dizia que ninguém pode ser governante sem o povo,” desabafou.

@Verdade deslocou-se à casa de pasto do secretário Custódio Muchanga e verificou de facto que está em funcionamento num lugar impróprio. Esforços para ouvir a versão do acusado redundaram em fracasso. A filha disse que não estava nem na casa do pasto, nem na sua residência.

Escasseia água potavel

O dilema de Joana Cossa e os seus vizinhos não termina apenas com as ruas e as casas alagadas. A água potável é um bem que deixou de ser realidade naqueles bairros. As torneiras, as poucas que há, jorram o precioso líquido durante uma hora e meia.

“Aqui a água sai apenas das 6:00 h até às 7:30, e às vezes sai mais cedo, assim por dia só temos água da FIPAG por uma hora e meia; é uma tragédia,” queixou-se Joana.

Mas, mais do que ter água apenas 90 minutos por dia, os valores cobrados são aleatórios, marcados em função do livre arbítrio de quem cobra. É que no mês de Novembro, a Joana Cossa, que vive com três menores, foram cobrados 2.800,00 meticais.

Escandalizada, dirigiu-se ao FIPAG para informar que havia um equívoco, o máximo que ela podia consumir corresponde a 250,00 Mt (duzentos e cinquenta meticais) e que ela não tinha A culpa de a empresa não fazer a leitura do contador. O gerente da loja disse-lhe para, primeiro, pagar o valor e, depois, reclamar. “Tive de pagar, assim já adiantei 1.300,00 meticais, porque tenho medo de ficar sem água, não há alternativa,” disse com tristeza no rosto.

Vias de acesso inundadas

Silva Cardoso, de 31 anos de idade, residente no bairro Fish há uma década, no quarteirão 8, vive neste momento o pior drama da sua vida. Comprou uma camioneta para fins comerciais e garantir o sustento da sua família. Todavia, a difícil – senão impossível – transitabilidade das vias de acesso inviabiliza os seus intentos. As duas ruas que vão dar à sua residência sempre que chove ficam intransitáveis. “Basta uns chuviscos para as ruas ficarem inacessíveis e eu ficar sem fazer nenhum, sinceramente pondero arrendar esta casa e viver longe daqui,” afirmou. Para contornar a situação caótica, Cardoso comprou pedras que lhe custaram 3.750,00 meticais mas o esforço caiu por terra. Ou seja, a camioneta depois do investimento ficou soterrada quatro vezes.

Cardoso pede a quem de direito para intervir e fazer alguma coisa pelos residentes daquele bairro. “O novo edil, Jacinto Lourenço, passou por aqui na última campanha eleitoral e prometeu resolver, a ver vamos”,disse Cardoso.

Silva Cardoso também lamentou o mau serviço da FIPAG, que condiciona o fornecimento do precioso líquido e ainda sem fazer leitura dos contadores marca valores que atentam contra o pobre bolso dos utentes. Cardoso foi feliz na reclamação, pois “da última vez que me cobraram 900, 00 meticais, fui ao FIPAG reclamar e esta reduziu para 240,00. A partir daí nunca mais tive queixas.”

No bairro Jota, @Verdade deparou com o mesmo problema do bairro Fish: casas e ruas alagadas,condicionamento do fornecimento da água potável. Isabel Kongolo, de 52 anos de idade e moradora há 16 anos, mostrou-se agastada com a situação: ”Estamos a pedir socorro, cansámo-nos de viver em riachos imundos, estamos sempre doentes de malária, porque as águas estagnadas fomentam a existência de mosquitos. Olha para esta minha filha está a voltar de hospital, padece de paludismo. Pedimos pelo menos um fontenário, eu não tenho 2.000,00 meticais, que a FIPAG exige para fornecer água com graves restrições. Diariamente madrugo para comprar água na vizinhança, pago 2,5 meticais por bidão.”

Elias Cumbe, de 36 anos de idade, fala das consequências nefastas que as chuvas provocam às casas de banho. “As ruas sem valas de drenagens permitem que as fossas encham e depois expelem dejectos, o que causa doenças como cólera e diarreia,” afirmou Cumbe ao @Verdade.

O bairro Novo também enfrenta a crise de água potável. @ Verdade conseguiu apurar que somente os quarteirões 1,2 e 3 beneficiam de água sem restrições. Os restantes, como é o caso de 4,5 e 6, vivem ao deus-dará. O quarteirão 6, por exemplo, ficou toda a semana passada sem água. “Comprávamos nas casas dos residentes quarteirões bafejadas pela sorte, um bidão custava 5,00 meticais. Pedimos socorro,” clama Elias Cumbe.

Com o intuito de se inteirar da versão do FIPAG, @Verdade deslocou-se àquela instituição em Boane. Salvador Caetano, gerente da loja, mandou a equipa de reportagem paraprocurar informações na sua sede, sita na Avenida Filipe Samuel Magaia.

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