A China censura nesta quarta-feira as informações sobre a repressão do movimento democrático na Praça Tiananmen (Praça da Paz Celestial) há 20 anos, na madrugada de 3 para 4 de junho de 1989, medida que afeta a internet e os sinais de canais de TV estrangeiros captados no país.
Os internautas chineses não conseguem acessar nesta quarta-feira vários serviços da Microsoft, como a nova ferramenta de buscas Bing e o serviço de e-mail Hotmail, assim como a rede social Twitter. O Google, com fotos da repressão, ainda era acessado. O bloqueio provocou discussões nos fóruns virtuais especializados, onde os acontecimentos de 1989 são mencionados com indiretas e jogos de palavras.
Os canais estrangeiros, exibidos na TV a cabo a um público bastante reduzido, também sofriam censura, com a tela escura no caso da CNN ou da BBC quando citavam os acontecimentos de 1989. Além disso, muitos dissidentes foram afastados de Pequim e obrigados a permanecer em suas casas. Na página da internet do DoNews dedicada às novas tecnologias, um internauta escreveu: “Não foi a Microsoft que fez… é porque… amanhã…”.
Os internautas inventam jogos de palavras com o termo “harmonia”, usado como lema pelo regime comunista, acusado de querer “harmonizar” (censurar) os sites de informação estrangeiros. Serviços como a rede social Twitter são muito populares entre jovens nas cidades chinesas. “Grandiosa grande muralha”, comentou um internauta no DoNews, referindo-se ao sistema de controle da internet ativado pelo governo chinês. No entanto, este drástico controle parece ter suas falhas.
Enquanto os acessos a algumas páginas da web, como a da BBC em mandarim, foram cortados, alguns sites como Google, que exibe fotos da repressão de Tiananmen, são acessíveis nesta quarta-feira. Os canais de televisão estrangeiros a cabo também sofreram a censura do regime. Cada vez que os apresentadores da BBC ou da CNN abordam o tema do aniversário de Tiananmen, uma tela escura aparece. O canal francês TV5 Monde também foi censurado.
A organização de defesa da liberdade de imprensa Repórteres Sem Fronteiras (RSF), com sede em Paris, denunciou na terça-feira em um comunicado uma “censura brutal” imposta pelo governo chinês “sobre as manifestações que duraram várias semanas em todo o território chinês e sobre o destino de centenas de estudantes e operários mortos pela repressão do Exército, em 4 de junho de 1989”. “Uma grande maioria de jovens chineses nem sequer conhece a existência destes acontecimentos, dado o silêncio mantido durante os 20 últimos anos”, acrescentou RSF.
A China reforçou as medidas de segurança na Praça da Paz Celestial, em Pequim, centro político do país, e aumentou a vigilância dos dissidentes, por ocasião do aniversário da repressão do movimento democrático na noite de 3 a 4 de junho de 1989. As forças de segurança inclusive proibiram que os jornalistas filmassem Tiananmen, a maior praça do mundo.