O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse na sexta-feira que recebeu “relatos horripilantes” sobre execuções, torturas e prisões arbitrárias por parte das forças do governo sírio em Homs após a fuga dos rebeldes da cidade.
O bairro de Baba Amro, em Homs, tornou-se num símbolo da resistência ao presidente Bashar al Assad, depois de passar mais de três semanas sob cerco militar, com um saldo de centenas de mortos.
A chancelaria síria disse que na quinta-feira as forças do governo “limparam Baba Amro dos grupos armados de terroristas patrocinados pelo exterior”.
POr seu turno os ativistas dizem que as tropas sírias estão a perseguir e a matar os insurgentes que permaneceram no bairro para dar cobertura ao recuo dos seus colegas.
“Uma grande agressão a Homs ocorreu ontem”, disse Ban aos 193 países da Assembleia Geral da ONU, em Nova York. “As perdas civis foram claramente pesadas. Continuamos recebendo relatos horripilantes de execuções sumárias, detenções arbitrárias e torturas.”
O embaixador sírio na ONU, Bashar Ja’afari, disse que Ban adotou uma “retórica extremamente virulenta, que se limita a difamar um governo com base em relatos, opiniões e rumores”. Ele acrescentou que “o secretário-geral não está devidamente informado”.
O Comité Internacional da Cruz Vermelha disse que um comboio humanitário chegou ao limite do bairro de Baba Amro, mas não pôde entrar. “É inaceitável que pessoas necessitadas há semanas de ajuda emergencial ainda não tenham recebido ajuda”, disse em nota o presidente da entidade, Jakob Kellenberger.
“Vamos permanecer em Homs nesta noite na esperança de entrar em Baba Amro no futuro próximo.” Ban pediu a Damasco que autorize imediatamente o acesso de agentes humanitários, e qualificou de atrozes as imagens de violência que chegam da Síria.
MASSACRE
Um ativista de Homs disse à Reuters por telefone que o Exército impediu a entrada do comboio porque quer “fazer uma limpeza depois do que fizeram em Baba Amro”.
Como ocorre com outros relatos de ativistas, não foi possível confirmar a informação, por causa das restrições do governo sírio ao trabalho da imprensa.
Outro ativista disse que “todos os homens que permaneceram no bairro com idades entre 14 e 50 anos foram detidos”. “Eles temem que serão massacrados. Onde está o mundo?”, queixou-se.
Um terceiro ativista, que deixou Baba Amro na sexta-feira, disse que os soldados estão torturando e matando os presos. Estima-se que houvesse cerca de 2.000 rebeldes encastelados em Baba Amro. Não é possível saber ao certo quantos fugiram, e quantos morreram.
Na sexta-feira, o governo sírio manifestou “tristeza e pesar” pela morte da jornalista norte-americana Marie Colvin, veterana correspondente de guerra, vitimada por um bombardeio do Exército em 22 de fevereiro em Baba Amro.
O fotógrafo britânico Paul Conroy, que ficou ferido na perna no mesmo incidente e dias depois conseguiu fugir da Síria, disse que a cidade foi submetida a um massacre diário.
“Já trabalhei em muitas zonas de guerra – nunca vi ou vivi um bombardeio como este”, disse o fotógrafo do Sunday Times ao canal Sky News, no hospital de Londres onde se recupera. “Sou ex-atirador de artilharia, então posso acompanhar os padrões – eles estão sistematicamente avançando pelos bairros com munições usadas em campos de batalha. Não é uma guerra, é um massacre, um massacre indiscriminado de homens, mulheres e crianças.”
Apesar da repressão, manifestantes antigoverno voltaram a sair às ruas após as preces islâmicas de sexta-feira nas cidades de Homs, Hama, Deir al Zor, Deraa, Douma e em vários bairros de Damasco, segundo imagens de TV.
Um vídeo divulgado por ativistas parece mostrar soldados disparando contra manifestantes. Os ativistas disseram que 40 pessoas foram mortas na sexta-feira no país.