O Centro de Saúde da Polana Caniço, na cidade de Maputo, deixou de receber novos doentes de HIV/SIDA, alegadamente por não ter capacidade para atender mais pessoas. “O centro não atende mais novos casos de HIV/SIDA, porque diz que está cheio de doentes. Alguns que para lá se dirigem são depois mandados para aqui ao Hospital Geral de Mavalane, 1 de Maio ou Malhangalene”, disse ao jornal electrónico Canalmoz uma fonte da Unidade de Atendimento de Doentes Crónicos de Mavalane.
A situação está a desgastar os doentes que se dirigem para aquela unidade sanitária. Os que já usam os serviços do Centro de Saúde da Polana Caniço queixam-se também da deterioração do atendimento em geral, como resultado, acusam, da entrega do hospital, que antes era privado, à gestão do Estado.
Entretanto, e ainda segundo o Canalmoz, os utentes do Centro de Saúde da Polana Caniço, na cidade de Maputo, acusam os trabalhadores daquela unidade sanitária agora sob controlo do Estado, de prestarem “mau atendimento nos tratamentos aos doentes”. Para além da demora no atendimento, os trabalhadores são ainda acusados de paralisarem as suas actividades e abandonarem os doentes para atenderem assuntos pessoais, tomarem refeições em bloco, atenderem telefones e conversarem entre si. Na pior das situações chegam mesmo a proferir injurias contra os doentes “não recebemos subsídios de fim-de-semana para vos atender”.
Segundo o Canalmoz estas situações não aconteciam quando o Centro de Saúde da Polana Caniço estava sob gestão privada com apoio da Cooperação Espanhola. Foi o Ministério da Saúde que determinou a passagem do centro para gestão do Estado. Funcionava muito bem e o Estado precisa de ter algo bom para mostrar, especulou-se quando a decisão foi tomada. Hoje o Centro que era visto como uma referência está a ser visado com as piores criticas dos utentes.
Segundo apurou o Canalmoz, o caso não advém do facto de ter passado a gestão do Estado, embora isso geralmente seja um motivo recorrente para explicar os maus serviços. Sucede é que os trabalhadores daquele centro hospitalar têm estado a manifestar-se de forma silenciosa alegadamente por se julgarem mal pagos e não receberem dinheiro suficiente para prestação de bons serviços no atendimento aos doentes.
Entre sábado e domingo últimos, por exemplo as pessoas estiveram desde o começo da manhã até ao pôr-do-sol sem serem atendidas. Não havia efectivo suficiente para lidar com os doentes. Apesar de alguns doentes fazerem-se presentes no local às 6 horas de sábado, apenas começaram a ser atendidos por volta das 10 horas. O pouco pessoal que esteve de serviço foi informando os doentes que não os podia atender, “porque há poucos doentes”. “Não podemos atender apenas duas ou três pessoas. Esperem que apareçam mais doentes para vos atender de uma vez”, dizia uma das enfermeiras ali de serviço, numa nítida atitude resistência passiva, greve passiva. Os doentes chegavam a conta gotas. Viram-se obrigados a permanecer no local até por volta das 16 horas, esperando horas a fio para serem atendidos.
O Centro de Saúde da Polana Caniço esteve desde a sua existência sob gestão de uma organização não governamental espanhola, tendo passado para as mãos do Estado moçambicano há cerca de três anos atrás. Os utentes dizem que desde que o centro passou para gestão Estatal, o atendimento têm sido mau. Naquele centro, nenhum dos funcionários em serviço no sábado aceitou falar à reportagem do Canalmoz, alegando falta de tempo ou não serem pessoas indicadas para falar à imprensa.
Fontes que falaram na condição de não serem identificadas disseram-nos que os funcionários estavam agastados com a falta de pagamento de horas extras, sobretudo aos fins-de-semana. “Ninguém quer trabalhar aos sábados, porque não nos pagam horas extras. O salário que recebemos não inclui horas extras”, comentou um dos trabalhadores, perante a indignação dos doentes.
Na semana passada, o ministro da Saúde, Alexandre Manguele, reconheceu na Assembleia da República, que o sector que dirige não tem dinheiro para repor o stock de medicamentos que se faz sentir nas unidades hospitalares. O titular da saúde reconheceu também a existência de mau atendimento nos hospitais do país, sobretudo da cidade de Maputo, mas entretanto sabe-se que há medicamentos a apodrecer nos armazéns.
Num outro desenvolvimento, Alexandre Manguele disse que não havia dinheiro para pagar os trabalhadores da Saúde, de modo a aumentar a renda destes. “Não temos dinheiro para pagar os trabalhadores de modo a que estes aumentem as suas rendas”, disse o dirigente. Mas enquanto não dinheiro para pagar melhor aos trabalhadores da saúde o altos dignitários do Estado continuam a não prescindir de benesses alegando terem de preservar a dignidade.