O ex-diretor-gerente do FMI Dominique Strauss-Kahn foi libertado sem fiança esta sexta-feira depois de uma audiência dramática em tribunal, na qual o processo contra ele por agressão sexual pareceu ter mudado em seu favor. Strauss-Kahn, que sorriu ao deixar o tribunal, ainda enfrenta acusações criminais de agressão sexual e tentativa de estupro ligadas ao suposto ataque a uma camareira de hotel em Nova York.
Os seus advogados disseram que tentarão fazer com que as acusações sejam arquivadas, mas o juiz disse que os promotores continuam a investigar. A reviravolta no caso pode provocar uma reviravolta também na política francesa. Até sua prisão em 14 de maio, Strauss-Kahn, 62 anos, era candidato bem cotado para a eleição presidencial francesa de 2012.
Numa audiência para buscar mudanças nas condições de sua fiança, promotores disseram que a credibilidade da mulher que está no centro do caso foi posta em dúvida. Em função disso, o tribunal concordou em permitir que Strauss-Kahn seja libertado e que o valor pago por sua fiança seja devolvido. Ele concordou em retornar ao tribunal quando for necessário, incluindo para uma audiência em 18 de julho.
“Entendo que as circunstâncias desse caso mudaram substancialmente e concordo que o risco de que ele não compareça aqui diminuiu consideravelmente. Eu libero o sr. Strauss-Kahn sem o pagamento de fiança”, disse o juiz Michael Obus ao tribunal.
A detenção de Strauss-Kahn obrigou sua renúncia do FMI e acabou com as suas esperanças de chegar à Presidência, semanas antes de ele anunciar oficialmente sua candidatura. Os simpatizantes de Strauss-Kahn no Partido Socialista da França expressaram contentamento com a aparente reviravolta e alguns disseram esperar que ele poderá reingressar na corrida presidencial de 2012. Desde o início, o caso sustentou-se na suposta vítima, uma imigrante guineana de 32 anos que limpava a suíte no hotel Sofitel em Manhattan onde Strauss-Kahn estava hospedado.
Promotores disseram na audiência que a sua mudança de opinião quanto à credibilidade da camareira se deu após “uma investigação extensa”. Numa carta, promotores a advogados de Strauss-Kahn disseram que a mulher que acusou o ex-chefe do FMI de abuso sexual admitiu que mentiu para o júri sobre o que aconteceu após o suposto ataque.
A camareira disse inicialmente aos promotores e ao júri que fugiu para o corredor do hotel em que trabalhava após o incidente e esperou que Strauss-Kahn fosse embora, informando em seguida o seu supervisor sobre o que acabara de acontecer, disseram os promotores. “A querelante (acusadora) admitiu que seu relato é falso e que, após o incidente na suíte 2806, foi limpar um quarto próximo e então voltou à suíte 2806 e a limpou também, antes de informar o incidente a seu supervisor”, afirma a carta.
GRAVAÇÃO TELEFÔNICA
Segundo o jornal The New York Times, uma fonte a par das investigações disse que a camareira mentiu repetidas vezes e que os promotores não estavam mais a acreditar no seu relato sobre as circunstâncias do encontro sexual ou de seu próprio passado. Eles também descobriram que um dia após o incidente com Strauss-Kahn a mulher fez um telefonema a um homem encarcerado, no qual discutiu os possíveis benefícios de levar adiante as acusações contra Strauss-Kahn, disse o jornal. A conversa foi gravada.
O homem faz parte de uma série de pessoas que fizeram muitos depósitos em dinheiro vivo, totalizando cerca de 100 mil dólares, na conta bancária da mulher nos últimos dois anos, disse o New York Times.
Os policias e promotores proclamaram inicialmente a credibilidade dela, confiantes na história da mulher alegando que o então chefe do FMI surgiu nu do banheiro, correu atrás dela no corredor e a obrigou a fazer sexo oral nele. Provas revelaram que sêmen foi encontrado na gola de seu uniforme. Mas advogados da defesa desafiaram a alegação de um assédio violento, sugerindo que adotariam uma defesa baseada no sexo consensual. Mas outra fonte próxima ao caso disse que a promotoria distrital levou o caso ao grande júri sem duvidar da boa fé da mulher.
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, que nomeou o seu rival socialista ao importante cargo no FMI, manteve-se em silêncio sobre a questão desde que Strauss-Kahn foi preso. Seu gabinete também não comentou a mais recente reviravolta.
O juiz do caso disse na sexta-feira que os promotores de Nova York vão continuar a investigação e reexaminar as evidências no caso contra Strauss-Kahn. “Não haverá pressa para levar o caso a julgamento”, disse o juiz da Suprema Corte de Nova York Michael Obus na audiência em que o ex-chefe do FMI foi libertado da prisão domiciliar e teve sua fiança revogada.