A Carta Magna, o documento inglês medieval considerado a pedra angular da democracia moderna, passará por uma reforma e será trazida de volta para o holofote público a tempo do seu 800º aniversário, disseram os académicos, esta Quinta-feira.
Um projecto de pesquisa de três anos também vai tentar descobrir se o Rei João, o monarca que assinou o documento em 1215, realmente era o monstro vilão que tornou-se popular ao ser retratado na lenda de Robin Hood.
“Esperamos reunir todas as evidências para este documento icónico que não tenham sido previamente colocadas”, disse à Reuters o professor Nicholas Vincent, o historiador que lidera o projecto.
“Todo o mundo supôs que todo o trabalho nesta coisa tinha sido feito porque é tão famoso, é tão conhecido, alguém deve ter feito isso. Mas, na verdade desde 1804 não houve nenhuma tentativa correcta de fazé-lo”
A Carta Magna, que traduz-se do latim como “Grande Carta”, foi assinada pelo Rei João da Inglaterra, em Runnymede, a oeste de Londres, depois duma revolta por seus barões, estabelecendo certos direitos do povo inglês e reduzindo os poderes do monarca.
Ela não apenas formou a base das liberdades constitucionais da Grã-Bretanha, mas foi a base para a Constituição dos Estados Unidos e a Declaração de Independência.
Documento mais importante do mundo
A casa de leilões Sotheby’s descreveu como “o documento mais importante do mundo”, quando vendeu uma cópia original de 1297, há cinco anos em Nova York, por mais de 21 milhões de dólares.
A equipe de Vincent vai vasculhar mais de 300 arquivos na Grã-Bretanha, França e Irlanda para tentar rastrear quem realmente elaborou o manuscrito, o que significava, de onde as ideias vieram, e olhar para o seu significado contínuo nos dias modernos.
“Uma grande parte da Carta Magna é apenas uma reunião de ideias, sistemas políticos que já estavam a funcionar”, disse ele. “A intenção aqui é ver o que as raízes dessas cláusulas individuais eram.”
O documento foi reeditado regularmente por, ou em nome dos monarcas ingleses sucessores, mas apenas cerca de 20 datas antes de 1297 são conhecidas. Vincent disse que esperava rastrear quaisquer outros originais perdidos.
O projecto de 910 mil libras (1,5 milhão de dólares) também pretende “revolucionar” a compreensão do Rei João, retratado como uma figura fraca, egoísta e cruel em numerosos filmes sobre Robin Hood, o lendário fora da lei inglês, que muitos historiadores acreditam datar de cerca de 100 anos depois, se é que ele existiu.
“Suspeito que vamos descobrir que ele é ainda pior do que foi caracterizado pelos cronistas”, disse Vincent, acrescentando que havia uma enorme quantidade de evidências sobre João que não tinham sido previamente examinadas.
“Quem sabe, podemos até encontrar Robin Hood, apesar de que eu dar-te-ia um milhão de libras se o fizermos.”
As descobertas da equipe de Vincent, sediadas na Universidade de East Anglia, no leste da Inglaterra, formarão um banco de dados online e um comentário completo sobre a Carta Magna, bem como materiais para uma grande exposição na Biblioteca Britânica em Londres, a ser realizada para marcar o 800º aniversário do documento em 2015.
Ironicamente, Vincent disse que tal longevidade nunca tinha sido a intenção dos barões que impingiram o documento sobre João.
“Ele foi concebido como um tratado de paz para circunstâncias particulares, no verão de 1215”, disse ele.
“É realmente apenas um acidente histórico que significa que as coisas desenvolveram-se como o fizeram.”