O principal prelado da Igreja Católica na França, o cardeal de Paris, André Vingt-Trois, disse, este Sábado (3), que um plano do governo para legalizar casamentos entre pessoas do mesmo sexo iria afectar profundamente o equilíbrio na sociedade francesa, e acrescentou que trata-se de uma reforma para poucos, não para a maioria.
Em declarações durante a peregrinação à cidade de Lourdes, o cardeal pediu aos católicos que mostrassem a sua oposição aos planos de reforma do casamento, escrevendo para os seus representantes eleitos e falando com eles, como também por outros “meios democráticos de expressão”.
O seu chamado à acção, anunciado durante uma reunião plenária anual de bispos católicos franceses, foi feito num momento em que o governo do presidente François Hollande, de tendência esquerdista, prepara-se para apresentar ao gabinete o seu procjeto para o casamento de pessoas do mesmo sexo, Quarta-feira.
Os líderes religiosos franceses – na maioria católicos, mas também judeus, muçulmanos, protestantes e cristãos ortodoxos – e políticos conservadores mobilizaram-se contra uma medida que permitiria a casais gays adoptarem crianças.
“As eleições presidenciais e legislativas (no início deste ano) não lhes deram carta branca, especialmente para reformas que afectam muito profundamente o equilíbrio da nossa sociedade”, disse Vingt-Trois, que qualificou como “fraude” a reforma planeada.
“Não será casamento para todos”, afirmou ele, citando o slogan da campanha pró-reforma. “Será o casamento de uns poucos imposto a todos.”
Protestos planeados
As pesquisas de opinião indicam que desde o início da campanha da oposição, no último verão europeu, o apoio ao casamento de pessoas do mesmo sexo perdeu vários pontos, ficando abaixo de 60 por cento, e quanto à adopção de crianças por casais homossexuais, para menos de 50 por cento.
Um levantamento do instituto BVA, publicado, este Sábado, pelo jornal Le Parisien, diz que essa foi a primeira queda no apoio depois de uma década de aumento da aceitação das duas reformas. “As tendências de opinião sobre o assunto são claramente de recuo”, observou o jornal.
Vingt-Trois não fez claramente um chamado por protestos de rua contra a lei, que deve ser debatida no Parlamento no primeiro semestre do próximo ano, mas a sua referência a “meios democráticos de expressão” pode ser interpretada como uma aprovação tácita a manifestações.
Os grupos católicos organizaram protestos em 75 cidades da França, mês passado, e planeiam mais em meados de Novembro.
A Igreja poderia promover manifestações maiores, mas teme adoptar um papel muito proeminente num debate político emotivo.