O cardeal Keith O’Brien, chefe da Igreja católica na Escócia, demitiu-se, na sequência de acusações de comportamento inapropriado, e já não irá participar no conclave que irá eleger o sucessor de Bento XVI.
“O papa Bento XVI aceitou a 18 de fevereiro a demissão do cardeal O’Brien do governo da arquidiocese de Saint Andrews e Edimburgo (Escócia)”, de acordo com um comunicado divulgado, esta segunda-feira, pela Igreja católica escocesa.
O cardeal Keith O’Brien, chefe da Igreja Católica na Escócia, nega as alegações de três padres e um antigo padre que foram transmitidas a Roma uma semana antes da renúncia do papa, a 11 de fevereiro. Keith O’Brien devia participar no conclave que vai eleger o novo papa, após a renúncia de Bento XVI, na quinta-feira.
Também esta segunda-feira, Bento XVI recebeu a comissão de três cardeais reformados, que realizou desde abril, a pedido do papa, um inquérito ao escândalo da fuga de documentos confidenciais “Vatileaks”, anunciou o Vaticano.
O cardeal espanhol Julian Herranz, o eslovaco Jozef Tomko e o italiano Salvatore De Giorgi são os três elementos da comissão. O diário italiano “La Stampa” tinha anunciado a realização desta audiência antes da demissão efetiva do papa, na quinta-feira.
No sábado, o Vaticano criticou as alegações da imprensa, nomeadamente italiana, sobre os escândalos financeiros e sexuais na Cúria romana, que afirmou serem falsas e pretenderem condicionar o futuro conclave, num comunicado publicado pela Secretaria de Estado.
O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, considerou que “alguns procuram aproveitar o movimento de surpresa e desorientação”, após a demissão histórica anunciada pelo papa, “para semear a confusão e desacreditar a Igreja e o seu Governo”.
Sob o título “Sexo e carreira, as chantagens do Vaticano atrás da renúncia de Bento XVI”, o “La Repubblica” (esquerda) garantiu que o cardeal da Opus Dei, Julian Herranz, tinha abordado em outubro, perante o papa, o dossiê “mais escabroso” do “Vatileaks”: o de “uma rede transversal unida por orientação sexual”.
A contrariedade manifestada pelo papa terá contribuído para a decisão de renunciar, de acordo com o “La Repubblica”. Posteriormente, fontes do Vaticano afirmaram que Bento XVI não poderá ter sido influenciado por um tema bem conhecido e anterior ao seu pontificado. Apenas a debilidade física do papa determinou a decisão de renunciar, disseram.
Em abril, Bento XVI tinha encarregado os três cardeais de interrogar dezenas de pessoas que trabalham no Vaticano, laicos e religiosos, incluindo outros cardeais, sobre a origem das fugas. O relatório permaneceu secreto.
De acordo com a imprensa italiana, o relatório poderá ser abordado nas “Congregações”, reuniões de cardeais que vão decorrer a partir de 1 de março para preparar o conclave.