Centenas de pessoas reuniram-se, recentemente, no Campus da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, a fim de testemunhar o relançamento da mais antiga e mais marcante obra de literatura ficcional moçambicana, Nós Matámos o Cão-Tinhoso, da autoria de Luís Bernardo Honwana. A criação literária cuja primeira publicação ocorreu em 1964, ano que marca um período conturbado da nossa história, celebra 50 anos de idade.
Poucos – quase ninguém dentre os que já a absorveram – desconhecem a singularidade dos oito contos que a constituem. É que esta obra, inicialmente consumida de forma clandestina, em resultado da suposta perigosidade do seu conteúdo, face ao sistema colonial português, tornou-se nos primeiros anos da independência nacional – e tendo em conta as demandas nacionalistas do Governo moçambicano – um livro de leitura obrigatória em todos os sistemas e níveis de ensino moçambicanos.
Com este relançamento, sob a chancela da Alcance Editores, que, no dia 1 de Setembro, ofereceu o livro ao preço de 500 meticais, o que significa que o preço pode sofrer um agravamento, embora Sérgio Pereira, o director da Alcance, tenha garantido que se irá praticar um custo acessível tendo em conta a condição do estudante moçambicano, espera-se que a obra não apenas volte a circular na nossa sociedade, mas, ao mesmo tempo, que aglutine os interesses e as preferências dos leitores – de todos os estratos sociais – o que equivale a recuperar o estatuto de livro de leitura obrigatória, como foi apanágio no período pós-colonial.
Inúmeras, dentre as mais acreditadas, correntes de crítica literária são unânimes em afirmar que a perenidade de Nós Matámos o Cão-Tinhoso é resultado de uma série de atributos inerentes ao processo da produção literária, que esta possui os quais asseguram a sua eternização, cruzando, nesse sentido tempos e gerações.
A excelente qualidade da capa escarlate desta edição – a assinalar o jubileu de ouro – é, certamente, apenas um detalhe em relação à escrita madura e actuante contida nas páginas desta dádiva literária que é a obra Nós Matámos o Cão-Tinhoso, um dos fundamentos inequívocos da nossa literatura.
Não é obra do acaso que o escritor Ungulani Ba Ka Khosa que também é secretário-geral da Associação dos Escritores Moçambicanos, acentua o seguinte: “Quer queiramos quer não, quer gostemos do homem Luís quer não, o seu livro é um marco, uma referência na literatura moçambicana. Por isso, a nossa grande alegria é ter, mais uma vez, Nós Matámos o Cão-Tinhoso a circular, com liberdade, na nossa sociedade”.
A festa dos 50 anos, comemorada a 1 de Setembro de 2014, a data da sua republicação, foi um evento marcante, na medida em que não só foi testemunhada por centenas de pessoas, o que é raro em eventos similares, como também se enriqueceu de grande simbolismo. Esperamos que, na próxima semana, possamos trazer uma matéria – mais elaborada sobre acontecimento – aportando outros pontos de vista. Estimado leitor, até breve e, se adquiriu o livro, boa leitura. Texto e fotos: Inocêncio Albino