A Câmara dos Deputados dos Estados Unidos aprovou na noite de segunda-feira um projeto para elevar o limite de endividamento do país, num passo decisivo para evitar um potencialmente catastrófico calote pela maior economia do mundo. Na véspera do prazo final, a aprovação pela Câmara, de maioria republicana, do plano anunciado no fim de semana para reduzir o déficit em 2,1 trilhões de dólares abriu caminho para o Senado aprová-lo.
Controlado pelos democratas, o Senado deve votar o projeto esta terça-feira, e a expectativa é de que seja aprovado. Se passar, será enviado para sanção do presidente norte-americano, Barack Obama.
A aprovação pela Câmara era considerada o maior obstáculo para uma solução da crise. O impasse de meses bloqueou o sistema político dos Estados Unidos, alarmou seus aliados internacionais, sacudiu os mercados financeiros e prejudicou a imagem do país no exterior. O projeto foi aprovado na Câmara por 269 votos a favor e 161 contra, bem acima da maioria necessária. Democratas ficaram igualmente divididos — 95 a favor e 95 contra –, enquanto 174 republicanos foram favoráveis à medida, com 66 se opondo a ela.
A deputada Gabrielle Giffords, gravemente ferida num tiroteio durante campanha eleitoral em janeiro, apareceu de surpresa no plenário para votar, sendo muito aplaudida. Ela retribuiu a recepção acenando e mandando beijos. Até o último minuto, mercados financeiros mundiais foram abalados pela incerteza sobre se o plano poderia ser aprovado pela Câmara diante das objeções de republicanos do conservador Tea Party e de liberais democratas.
Os mercados inicialmente demonstraram sinais de alívio com a perspectiva de os EUA evitarem o calote. Mas o risco de o país perder sua nota de crédito AAA, mesmo com a aprovação do acordo, contribuiu para conter a breve disparada nas bolsas. Após a votação, o presidente da Câmara, o republicano John Boehner, afirmou que o resultado final justificava os meses, muitas vezes tortuosos, de negociações. “O processo funciona. Pode não ser agradável, mas funciona”, disse a repórteres.
Na terça-feira, com uma aprovação final pelo Congresso do acordo para aumentar o teto da dívida de 14,3 trilhões de dólares, não haverá mais o risco de os EUA não honrarem suas contas. Líderes de ambos os partidos trabalharam furiosamente para convencer suas bancadas sobre o acordo obtido com Obama no fim de semana com o objetivo de encerrar um impasse que abalou a fé dos norte-americanos em suas instituições políticas.
O plano exige cortes de gastos ao longo de 10 anos, mas sem a imposição de nenhum novo imposto, a criação de uma comissão parlamentar que recomendará, até o fim de novembro, um pacote mais específico de redução do déficit e eleva o limite de endividamento do país até 2013. Obama e muitos parlamentares admitiram que o projeto acordado não era perfeito. Mas ressaltaram que ele era necessário para evitar um calote pelo governo. “Foi um processo longo e confuso e, como todo compromisso, o resultado está longe de ser satisfatório”, disse Obama numa mensagem de vídeo transmitida aos seus seguidores na sua campanha de reeleição. “Mas também lançou um importante debate sobre como lidar com os grandes desafios que enfrentamos.”