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Calma volta ao Egito mas manifestantes continuam na rua a pedir partida de Mubarak

Calma volta ao Egito mas manifestantes continuam na rua a pedir partida de Mubarak

Após dois dias de violência entre facões anti e pró-Mubarak, a praça Tahrir recuperou a tranquilidade. Mas na “sexta-feira da partida”, Mubarak não partiu. Hosni Mubarak não foi embora, como os manifestantes pediram na manifestação da “sexta-feira da partida”. Mas a sua continuação no poder deixou de ser uma opção.

“Deve haver um processo de transição. E isso deve começar agora”, afirmou ontem Barack Obama, Presidente dos EUA. A seguir a Israel, o Egito é o país que mais ajuda recebe dos EUA – 1,5 mil milhões de dólares no total, 1,3 mil milhões para fins militares – o que atesta da sua importância para os norte-americanos.

Como habitualmente, a praça Tahrir encheu-se de manifestantes e respirou um ambiente “domingueiro” – nos países muçulmanos, a sexta-feira é o último dia do fim-de-semana. Muitas famílias circulavam tranquilamente. Entre os manifestantes, havia centenas de feridos da violência vivida nos dois dias anteriores, entre fações anti e pró-Mubarak.

Palavra aos feridos

Cabeças ligadas, braços ao peito, rostos inchados, expressões de grande cansaço. Em vários pontos da praça, pequenos hospitais improvisados continuavam a prestar assistência aos feridos, sempre que uma dor apertava ou o curativo precisava de ser mudado. Oito pessoas morreram nos confrontos entre fações: “Morreram de todo o tipo de ferimentos: balas, pedradas, gases…”, diz um homem, que está de serviço num desses “hospitais”.

Em conversa com alguns feridos, consegue-se perceber melhor o contexto em que deflagrou essa violência. “Eu apanhei um miúdo que nos estava a apedrejar. Ele estava no cimo daquele edifício. Entramos lá, apanhámo-lo e batemos-lhe. Ele disse que recebeu 10 libras egípcias (LE) (40 Mt) para atirar pedras.

Outros disseram que receberam 50 LE (250 Mt)”, conta Mohamed Fahti, com a cabeça cheia de adesivos. “Mubarak usou esta gente contra os manifestantes. Outro que foi apanhado tinha 300 LE (368.000 Mt) no bolso, em notas novinhas em folha. E a guarda presidencial também esteve envolvida. Capturamos duas das motas que eles costumam usar.”

Um ator na ‘manif’
Sexta-feira foi também o dia aproveitado por destacadas figuras da sociedade egípcia marcarem presença na praça. Amr Moussa (Presidente da Liga Árabe), Ayman Nour (líder do partido El-Ghad, que desafiou Mubarak nas eleições de 2005) – ambos possíveis presidenciáveis -, alguns “sheiks”, outras figuras políticas e da sociedade civil, como Amr Waked, o ator mais famoso do Egito, que irrompe pela praça agarrado ao seu iPad e rodeado por uma multidão de fãs que o quer fotografar. “Vim aqui para pedir a alteração do sistema de poder no Egito, que está nas mãos de uma única pessoa. Estamos todos fartos disto”, diz ao Expresso o ator. “Quero uma distribuição de poder, quero que as autoridades possam ser responsabilizadas e que o cidadão da rua possa questionar e beneficiar disso.”

O exército abandonara a sua posição de passividade que tinha nos dias anteriores e começou a colaborar com os manifestantes nos “checkpoints” de segurança, nas entradas da praça, que desde ontem estão protegidas com arame farpado.

Catapulta artesanal

Na entrada junto à ponte Qasr al-Nil, os manifestantes construíram uma catapulta com uma barra de madeira e, nas pontas, duas grandes pedras e um cesto plástico onde colocar as pedras. A praça Tahrir parece uma fortaleza. Um soldado pede o passaporte para controlo: “Bem vinda ao Egito!”, diz.

Ao longo do dia, em apenas duas ocasiões registaram-se desacatos, em duas ruas adjacentes à praça. Numa delas, um jovem, alegadamente pró-Mubarak, foi evacuado por soldados. Ia meio despido e com a cabeça a jorrar sangue. Esteve a um passo de ser linchado.

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