Boris Yefimov nasceu em Kiev, no dia 28 de Setembro de 1900. Era o segundo filho de fabricante de sapatos judeu. Pouco tempo depois a família mudou-se para Belostiok (hoje Polónia). Uma das memórias mais longínquas que retém é a passagem da carruagem imperial transportando o Czar Nicolau II pelas ruas de Belostiok.
Na escola mostra um talento invulgar para o desenho, sendo um auto-didacta. Em 1916 publica o seu primeiro cartoon na prestigiosa revista ilustrada “Solntse Rossii”. Aos 18 anos, ouve pela primeira vez Trotsky discursar numa praça de Kiev. “A sua voz era electrizante, a oratória fantástica, as palavras, as ideias, tudo era bonito e brilhante”, dirá Yefimov. Volvidos meia dúzia de anos, Trotsky irá retribuir esta admiração prefaciando o primeiro livro do cartoonista: “Boris Yefimov é o mais político dos nossos artistas gráfico. Conhece a política, gosta da política e penetra em todos os seus detalhes. Este é o seu traço mais forte.” Em 1918, a eclosão da guerra civil entre vermelhos e brancos, fá-lo desistir do curso de Direito indo para Moscovo a conselho do seu irmão Mikhail, então já um renomado jornalista. Pouco tempo depois, já está a publicar os seus desenhos no Pravda, onde o Nicolau Bukharin, o menino bonito de Lenine, é editor. Dali para o Izvestia não demorou muito, fazendo ainda desenhos encomendados pelo Partido Comunista.
Com a ascensão de Estaline e a consequente queda de Trotsky, Yefimov prevê uma sorte semelhante à do seu irmão Mikhail – preso e mais tarde executado -, porém Estaline precisava demasiado da sua arte para poder dispensá-lo.
Durante a 2ª Guerra Mundial, Yefimov irá virar as suas baterias para Hitler e os seus comparsas. Ficou célebre aquela caricatura em que o Führer surge como um lunático, publicada várias vezes nos jornais soviéticos com o objectivo de elevar o moral do exército Vermelho. Os soldados chegaram a recortála levando-a nos bolsos para a frente de batalha. Anos depois, Yefimov contou que o líder nazi colocou-o numa lista de figuras soviéticas a ser enforcadas assim que as forças alemãs tomassem Moscovo. Terminada a guerra, Estaline ordenou que Yefimov ridicularizasse os Estados Unidos e a Inglaterra. E Yefimov obedeceu. Num dos cartoons vê-se o presidente americano Truman escoltado por duas senhoras da noite. Outro mostra Churchill a ver-se ao espelho e neste vê-se reflectida a imagem de Hitler. Yefimov confessou ter simpatia por Churchill, “mas quando foi anunciado que ele era considerado oficialmente nosso inimigo, tivemos que desenhar cartoons a ridicularizálo. Eu não acreditava nisso mas era a política do governo. Era uma situação que eu não podia contestar”, contou há alguns anos.
Até ao fim dos seus dias manteve uma excelente memória. “Bebo frequentemente com os amigos. Não sigo nenhuma dieta.” Há pouco tempo afirmou que se arrependia de alguns trabalhos que fez no passado. “Não podia recusá-los, mas hoje, quando me lembro deles, sinto-me desapontado. Dizer não, não quero fazer isto, era ser demasiado ingénuo”, confessou à Reuters em 1998. No ano passado, no seu 107 º aniversário, foi-lhe atribuído o posto honorífico de artista chefe do Izvestia, o jornal para o qual trabalhou durante mais de 80 anos. Morreu dois dias depois de completar 108 anos.