A coligação do primeiro-ministro Shinzo Abe, no poder, obteve vitória numa eleição para a câmara alta do Parlamento neste domingo no Japão, apesar das preocupações sobre suas políticas económicas e seus planos de revisar a constituição pacifista do pós-guerra do país pela primeira vez.
Projecções da mídia mostraram que a coligação de Abe e os seus partidos afins haviam vencido dois terços da “super maioria” necessária para tentar revisar as restrições constitucionais aos militares, num passo que poderia tornar mais tensos os laços com a China, onde as memórias do passado militarista do Japão são profundas.
O Partido Liberal Democrata de Abe (PLD) também venceu maioria simples pela primeira vez desde 1989, segundo as projecções. Essa vitória irá reforçar o controle de Abe sobre o partido conservador que ele levou de volta ao poder em 2012, prometendo reerguer a economia com uma política monetária hiper-fácil, gastos fiscais e reformas.
Abe disse em transmissão televisiva que era muito cedo para falar sobre revisões específicas na Constituição e seu número 2 do partido afirmou, separadamente, que negociações com a oposição se faziam necessárias. “Eu tenho mais dois anos do meu mandato (como presidente do PLD) e esse é um objetivo do PLD, então eu quero tratar dele com calma”, disse Abe.
No Japão, alguns participantes do mercado financeiro temem que alterar a Constituição desviaria a energia de Abe para reanimar a economia. “A questão chave será saber se ele pode levar a cabo reformas estruturais (económicas)”, disse Nobuhiko Kuramochi, estrategista chefe da Mizuho Securities.
“Se Abe falhar nisso apesar da liberdade política que ele ganhou, isso será negativo para o apetite dos investidores estrangeiros pelas acções japonesas”. O partido Democrátido co Japão, de oposição, se juntou a três outros partidos menores incluindo o Partido Comunista Japonês, para tentar impedir que o campo pró-reforma constitucional obtenha super maioria.
Conservadores vêem a Constituição como um símbolo humilhante da derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial. Os seus admiradores a consideram uma fonte da paz e da democracia no pós-guerra. Sua revisão precisa da aprovação de dois terços em ambas as casas do Parlmaneto e de uma maioria em referendo público.
“Acreditamos que a Constituição é algo que coloca um limite sobre o poder, mas infelizmente, não é isso que o (rascunho do) PLD faz”, disse Yukio Edano, secretário geral do Partido Democrático. “Se não há acordo comum nesse ponto, então não há plataforma sobre a qual possamos debater artigos individuais.”
Pesquisas mostram que a maioria dos eleitores não vêem necessidade de revisar a Constituição. “Com esses números… ele (Abe) vai querer ver o que consegue alcançar)”, disse o professor emérito da Columbia University Gerry Curtis. “Isso significa menos atenção à economia e muitas voltas sobre a Constituição.”