O ex-presidente Bill Clinton fez, na noite da Quarta-feira (5), uma inflamada defesa da gestão económica dos EUA sob o comando do presidente Barack Obama, e promoveu um detalhado ataque ao candidato presidencial republicano, Mitt Romney, num discurso que electrizou a Convenção Nacional Democrata.
Coloquial, detalhista e mostrando que ainda é um mestre da oratória, quase 12 anos depois de deixar o cargo, Clinton fez uma defesa mais convincente da Presidência de Obama do que talvez o próprio ocupante da Casa Branca fosse capaz.
Obama, disse Clinton, não deve ser responsabilizado pela má economia que herdou em 2009; pelo contrário, ele lançou os fundamentos para um crescimento forte, desde que os eleitores lhe dêem mais quatro anos na votação de 6 de Novembro.
“Ouçam-me agora”, disse Clinton. “Nenhum presidente, nem eu, nem nenhum dos meus antecessores, poderia ter concertado totalmente em apenas quatro anos todo o dano que ele encontrou.”
O discurso mostrou o Clinton das antigas, provas de que, apesar dos problemas cardíacos que desaceleram a rotina do ex-presidente, de 66 anos, ele ainda deleita-se sob os holofotes da política.
Frequentemente a improvisar em cima do discurso escrito, Clinton retratou Obama como um homem razoável, impedido de gerar mais empregos e reduzir o deficit público por causa de um Partido Republicano controlado pela extrema direita.
O discurso foi proferido pouco antes de os democratas oficializarem a candidatura de Obama ao segundo mandato, e serviu como lembrança para o superavit orçamentário e a expansão do emprego ocorridos sob os dois mandatos de Clinton (1993-2001).
Mas é discutível se isso bastará para manter Obama no cargo. O presidente está numa posição vulnerável, com o índice de desemprego em 8,3 por cento. As pesquisas mostram-lhe uma disputa acirrada com Romney.
Obama discursa à convenção, Quinta e Sexta-feira o Departamento do Trabalho divulga o índice de desemprego relativo a Agosto. Se os norte-americanos “renovarem o contrato do presidente”, a economia vai melhorar e, “vocês vão sentir”, disse Clinton.
“Pessoal, a eleição inteira pode depender de o povo norte-americano acreditar ou não no que acabei de dizer. Só quero que vocês saibam que eu acredito. De todo o coração, acredito.”
Clinton foi clamorosamente aplaudido por milhares de democratas que lotavam o centro de convenções de Charlotte, na Carolina do Norte. Os aplausos intensificaram-se quando Obama subiu ao palco depois do discurso de Clinton.
O ex-presidente curvou-se ao sucessor e deu-lhe um abraço apertado. Mas os republicanos não se impressionaram, e disseram que Obama não trabalha com os seus adversários de forma tão cooperativa quanto Clinton fazia.
“O presidente Clinton traçou um forte contaste entre si e o presidente Obama esta noite”, disse Ryan Williams, porta-voz de Romney. O mais popular “estadista emérito” dos democratas esteve no campo oposto ao de Obama na campanha presidencial de 2008, quando a sua mulher, Hillary, foi derrotada por Obama nas eleições primárias.
Mas depois disso as feridas cicatrizaram, e Hillary hoje é a secretária de Estado de Obama.
Charme e inglês simples
O discurso de Clinton começou no horário nobre da TV, mas prolongou-se até depois. Foram cerca de 50 minutos em que ele valeu-se do seu charme sulista, fazendo menções a detalhes inesperados, como a dentadura postiça de George Washington.
“Ele foi absolutamente fenomenal. Era o que precisávamos para deixar as coisas em inglês claro, para que as pessoas entendam. Não poderíamos ter tido uma mensagem mais forte”, disse Kevin Muth, delegado democrata da Flórida.
Clinton argumentou que nos últimos 52 anos os presidentes democratas geraram 42 milhões de empregos, contra 24 milhões dos republicanos.
“Quando o presidente Barack Obama assumiu o cargo, a economia estava em queda livre. Tinha acabado de encolher 9 por cento do PIB. Estávamos a perder 750 mil empregos por mês. Estamos melhor do que isso hoje? A resposta a isso é sim”, afirmou.
Ele criticou ponto a ponto Romney e o seu companheiro de chapa, Paul Ryan, acusando o primeiro de querer reformar programas governamentais como o Medicare e o Medicaid de uma maneira de iria reduzir benefícios para idosos e crianças pobres. “Se ele for eleito e fizer o que prometeu fazer, o Medicare vai quebrar em 2016”, afirmou.
O ex-presidente também disse que Romney equivoca-se ao criticar Obama por autorizar os Estados a suspenderem exigências trabalhistas que constavam numa lei de bem-estar social sancionada pelo próprio Clinton.
A sua aparição aconteceu ao final de um dia em que a convenção teve momentos caóticos, e o próprio Obama precisou de intervir para colocar de volta na plataforma partidária uma frase que declarava ser Jerusalém a capital de Israel.
Os democratas também apressaram-se em transferir o pronunciamento presidencial desta Quinta-feira para um ginásio coberto. Obama queria fazer o discurso num estádio ao ar livre, diante de dezenas de milhares de seguidores, para passar uma imagem de força.
Mas a ameaça de chuvas e trovoadas por causa dos resquícios do furacão Isaac obrigou os organizadores da convenção a transferirem o discurso para um local bem menor, a Arena Time Warner Cable.
Outros oradores elogiaram Obama por defender os direitos das mulheres, imigrantes e homossexuais, e contradisseram argumentos republicanos de que Obama seria inimigo da iniciativa privada.
Mas a candidata a senadora e ex-activista dos direitos do consumidor Elizabeth Warren, do Estado de Massachusetts, fez um ataque inflamado contra a cobiça corporativa. Ela criticou Romney por ter dito na campanha que as “corporações são pessoas”.
“Não, governador Romney, as corporações não são pessoas”, disse Warren. “Pessoas têm coração, tem filhos, tem empregos, ficam doentes, choram, dançam. Pessoas vivem, amam, morrem. E isso importa.”