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Bibliotecas das escolas públicas em Nampula são transformadas em cantinas

Uma biblioteca escolar tem a função de combater a iliteracia e apoiar os utilizadores (alunos e professores) no acesso à informação para uma aprendizagem que desenvolva competências. Contudo, à semelhança do que acontece um pouco por todo o território moçambicano, a construção das escolas públicas da cidade de Nampula, sobretudo as secundárias, parece contrariar o pensamento de que o livro é indispensável para o crescimento intelectual do indivíduo, uma vez que não é acompanhada pela edificação de espaços onde os instruendos possam consultar e ler os manuais recomendados pelos seus docentes segundo os planos curriculares em vigor no país. Com a excepção das escolas secundárias de Nampula e Muatala, noutras instituições de ensino as livrarias são, paulatinamente, transformadas em cantinas e salas de informática, mas o acesso é restrito.

A transformação de bibliotecas em refeitórios é um problema quase generalizado nos estabelecimentos de ensino da capital da província mais populosa de Moçambique. Nesta terça-feira, 23 de Abril, comemorou-se o Dia Mundial do Livro e dos Direitos Autorais. Na sua mensagem alusiva à efeméride, a diretora-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), Irina Bokova, destacou a importância da “cultura da palavra escrita” e o acesso a ela por parte de todos os indivíduos, homens, mulheres e crianças, no sentido de estimular o conhecimento.

Entretanto, em Nampula acontece o contrário: a promoção da leitura entre os jovens e as camadas menos favorecidas da população continua uma miragem, facto que se deve à ausência de planos para fazer face a esta lacuna. Na Escola Secundária de Namicopo, o lugar onde antigamente funcionava a biblioteca foi reabilitado e transformado em sala de informática, porém, os estudantes queixaram-se ao @Verdade de restrição no uso dos computadores para a realização de diversas tarefas curriculares. Enquanto isso, nas escolas secundárias de Nampaco, Marcelino dos Santos e Muatala, alguns os educandos manifestaram o seu agastamento em relação ao facto de recorrerem a livrarias privadas para aceder ao material didáctico.

Na biblioteca da Escola Secundária de Napipine os livros disponíveis não correspondem ao actual currículo que está a ser implementando no país, o que dá motivos para se pensar que o Governo fez a alteração dos programas de ensino sem ter em conta a aquisição dos respectivos manuais.

Os directores de algumas instituições, ouvidos pela nossa Reportagem, alegaram que não têm autorização para se pronunciar sobre a ausência e/ou “destruição” das bibliotecas dos estabelecimentos sob sua alçada. Por isso, remeteram-nos à Direcção Provincial da Educação e Cultura, onde também não foi possível obter esclarecimentos sobre o assunto.

Entretanto, apurámos que as direcções das outras escolas secundárias recém-construídas, como é o caso de Nampaco, Marcelino dos Santos, Barragem e Maparra encontram-se a estudar formas de construir espaços devidamente apetrechados destinados à leitura. Todavia, enquanto este projecto não se concretiza, os instruendos das escolas públicas em Nampula recorrem a bibliotecas privadas, onde, por vezes, não existem livros específicos para as matérias recomendadas pelos docentes.

“A maior parte dos leitores que recebemos com a finalidade de consultar os manuais que temos é das universidades”, afirmou um dos responsáveis de uma livraria da Paróquia da Santa Isabel, no bairro de Muahivire. Alguns estudantes das escolas secundárias de Nampaco, Marcelino dos Santos e Muatala disseram-nos que, devido às longas distâncias que tem que percorrer, tem sido difícil sair de uma escola que se encontra na periferia para o centro da urbe com o intuito de consultar um livro. Por causa deste suposto entrave há actividades de casa que não são feitas.

Januário Florindo frequenta a 10ª classe na Escola Secundária Marcelino dos Santos e afirmou que sempre que recebe um trabalho de pesquisa pede ajuda ao seu irmão que está na Universidade Pedagógica alegadamente porque na sua instituição há livros para o efeito. Para além deste interlocutor, vários educados afirmaram que recorrer a terceiros para que estes os ajudem a realizar os seus deveres de casa.

Actualmente, o mundo está a um clique no computador, sem que seja necessário sair de casa. Os estudantes não precisam se deslocar até uma biblioteca para se informarem ou pesquisarem. Neste contexto, alguns instruendos disseram-nos que por ausência de livros recorrem à Internet para investigarem as matérias recomendadas pelos docentes, mas desembolsam algum valor para o efeito porque nas suas escolas ninguém os deixa usar os computadores.

Outros referiram que não têm condições para pagar sequer meia hora de consulta, por isso, apesar da distância que percorrem da zona suburbana para o centro da urbe, recorrem a livrarias particulares.

Sobre este aspecto, Amido Licaneque, pai e encarregado de educação de um aluno que frequenta a 8ª classe na Escola Secundária 12 de Outubro, no bairro de Muhala-Expansão, arredores da cidade de Nampula, disse que não está contra o facto de haver estudantes que recorrem à Internet para fazer os trabalhos de casa ou de investigação recomendados pelos pedagogos, mas tem receio em relação à qualidade da informação obtida, uma vez que algumas fontes fornecem dados com um conteúdo duvidoso que carece de uma selecção escrupulosa.

Segundo o nosso interlocutor, a falta de livros nas bibliotecas das escolas públicas é um dos problemas que concorrem para que os educandos transitem de uma classe para a outra sem saber ler e escrever porque não há um domínio das matérias ministradas. Considerou ainda que os professores mostram também lacunas em relação aos conhecimentos que transmitem aos seus estudantes.

Para elucidar a sua exposição, a nossa fonte referiu, como exemplo, um caso de um professor da disciplina de Português, na Escola Secundária 12 de Outubro, que supostamente se expressa erradamente na sua língua de trabalho. “Qual é o resultado que se pode esperar de um educando nesta situação?” questionou Licaneque, que acrescentou que esta é uma dificuldade que se deve à má formação dos docentes.

Enquanto isso, outro encarregado de educação disse estar indignado com o facto de os professores usarem brochuras feitas a partir de apontamentos retirados da Internet ao invés de manuais, perante a passividade das direcções das escolas onde leccionam. Os conteúdos dessa informação são literalmente transmitidos aos instruendos sem uma selecção meticulosa.

Há restrições no acesso às salas de informática

Os nossos interlocutores afirmaram que estão desapontados com o facto de o acesso às salas de informática ser autorizado apenas quando se trata de aulas da disciplina das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s).

Na sua opinião, devia haver permissão para que eles possam digitar os trabalhos, investigar e usar a Internet como forma de aperfeiçoar as suas habilidades no uso de meios informáticos.

Refira-se que os lugares em causa e as bibliotecas foram construídos à luz da responsabilidade social de algumas empresas, em particular, de telefonia móvel.

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