Marwan Barghouthi, secretário-geral do Fatah para a Cisjordânia detido em Israel, foi eleito pela primeira vez para integrar o comitê central do partido palestino, ao mesmo tempo que Ahmed Qorei, ex-premier, foi excluído. Barghuthi, que cumpre cinco condenações à prisão perpétua, foi eleito na votação realizada durante domingo e segunda-feira em Belém por ocasião do congresso do Fatah, reunido pela primeira vez em 20 anos.
Além de Barghuthi, de 50 anos, 13 novos membros entraram para o Comitê Central do Fatah, dos 18 que foram eleitos durante o Congresso Geral do Movimento, o primeiro realizado em 20 anos, segundo os resultados oficiais das eleições internas publicados nesta terça-feira. Os principais são Mohammad Dahlane, 48 anos, ex-homem forte do Fatah em Gaza, que perdeu sua postura arrogante depois da humilhante derrota das forças da Autoridade Palestina ante o Hamas neste território, e Jibril Rajub, de 56 anos, um antigo dirigente da segurança preventiva na Cisjordânia, hoje presidente da Federação de Futebol e do Comitê Olímpico Palestino.
“O Fatah sai hoje deste Congresso unido e reforçado”, se felicitou Rajub, qualificando a ascenção de uma nova geração como uma revolução contra a velha guarda, quando faltam poucos meses para as eleições legislativas palestinas que supostamente vão ser celebradas no início de 2010. “Ainda nos resta muito por fazer, principalmente em nossa relação com o Hamas”, delarou Dahlan, ovelha negra do movimento islamita, considerado um “protegido” dos americanos.
O negociador palestino Saeb Erakat, defensor infatigável das posições palestinas nos meios de comunicação internacionais, também foi eleito para o Comitê Central. Em compensação, Ahmad Qurei, de 72 anos, um veterano do Fatah, ex-chefe do governo que levou adiante as negociações com os israelenses que resultaram nos acordos sobre a autonomia palestina em 1993, não foi eleito. E
ntre outros perdedores nestas eleições também figura Tayeb Abdelrahim, secretário-geral da Autoridade Palestina. As eleições foram realizadas no domingo e na segunda-feira, e nelas os delegados elegeram o Comitê Central, que conduz o Fatah no dia a dia, e o Conselho Revolucionário, cujos novos membros ainda serão divulgados. No sábado, o presidente palestino, Mahmud Abbas, foi reeleito para continuar à frente do partido.
Numa breve declaração, Abbas se comprometeu em “libertar a terra da Palestina e seu povo da ocupação israelense”. “Nós dizemos a todo o mundo que o Fatah é portador de um projeto nacional e de uma visão clara da questão palestina. Nós começamos uma batalha e a terminaremos com a criação de um Estado independente”.
Ao inaugurar o congresso na terça passada, Abbas admitiu os erros que enfraqueceram o grupo. “Devido ao bloqueio do processo de paz (com Israel), mas também por culpa de nossos erros, alguns de nossos comportamentos rejeitados pelo povo, nossos poucos resultados, nosso afastamento do sentimento das ruas e nossa falta de disciplina, perdemos as eleições legislativas (em 2006) e depois perdemos Gaza”, declarou Abbas ante os delegados de seu partido. “Estivemos a ponto de perder o que restava da Autoridade Palestina, mas resistimos, aguentamos e tomaos iniciativas. Preservamos a Autoridade em vez de entregar tudo à ocupação (israelense) e trabalhamos dia e noite para restabelecer a segurança (na Cisjordânia), quando esta tarefa parecia impossível”, acrescentou.
Fundado em 1959 pelo hoje falecido líder histório Yasser Arafat, o Fatah monopolizava o poder dentro da Autoridade Palestina desde 1994 antes de ser derrotado nas legislativas de 2006 pelos islamitas do Hamas que o expulsaram à força de Gaza em junho de 2007. O Fatah é também tido por muitos palestinos como responsável pela corrupção e a insegurança nos territórios palestinos antes de a Autoridade palestina decidir combatê-los seriamente nos últimos anos. O Congresso será apenas o sexto do Fatah, o último tendo sido realizado em Túnis, em 1989.
Hoje, o Fatah controla somente a Cisjordânia e sua linha política pregando um acerto negociado do conflito com Israel após anos de luta armada não para de perder credibilidade por falta de avanço nas negociações de paz. As querelas internas do Fatah, que contribuíram para o declínio do movimento, aumentaram nas últimas semanas quando seu secretário geral e um dos fundadores Faruk Kaddumi acusou publicamente Abbas de ter armado um complô com Israel para eliminar Yasser Arafat.