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Banco de Moçambique torna o acesso ao dinheiro ainda mais caro e a confiança dos empresários continua a reduzir

Banco de Moçambique torna o acesso ao dinheiro ainda mais caro e a confiança dos empresários continua a reduzir

Como era expectável a crise económica e financeira está para durar em Moçambique. Com o metical a desvalorizar-se em relação ao dólar norte-americano a inflação, principalmente dos produtos alimentares, não pára de aumentar e por isso o Banco de Moçambique(BM) decidiu tornar o acesso ao dinheiro ainda mais caro agravando a taxa de juro da Facilidade Permanente de Cedência para 10,75% e a taxa de juro da Facilidade Permanente de Depósitos para 4,25%. As justificações são as “esfarrapadas” do costume: a conjuntura económica internacional, a seca e cheias. Nem uma palavra sobre a dívida da EMATUM que este ano vai custar aos moçambicanos 153 milhões de dólares norte-americanos acrescidos de juros.

O Índice de Preços no Consumidor das cidades de Maputo, Beira e Nampula, registou, em Janeiro, uma variação mensal positiva de 2,48%, com os produtos alimentares a aumentarem, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística(INE), 4,14%.

“O comportamento dos preços na cidade de Maputo reflecte, grosso modo, a estiagem que se faz sentir na região sul do país, com impacto na redução da oferta de produtos agrícolas frescos, associado ao efeito da depreciação do metical face às principais moedas transaccionadas no mercado cambial, bem assim, o agravamento de preços na África do Sul” refere um comunicado do Comité de Política Monetária do BM.

Além disso, escreve o comunicado que estamos a citar, “Os preços médios das principais mercadorias no mercado internacional com peso significativo na balança de pagamentos de Moçambique e na evolução da inflação apresentam, em Janeiro de 2016, um comportamento misto traduzindo, por um lado, uma redução dos preços do açúcar, do algodão e do brent e, por outro, o aumento dos preços do milho, do arroz e do trigo. Em termos anuais, exceptuando os preços médios do algodão, do milho e do trigo, que observaram incrementos, manteve-se a tendência generalizada para a redução dos preços com destaque para os do brent (34,2%), alumínio (18,5%), carvão térmico (16,4%), gás (13,5%) e açúcar (11,6%). No último dia do mês de Janeiro, o barril de brent foi cotado a 34,40 dólares norte-americanos, após 37,28 dólares norte-americanos em Dezembro, tendo baixado para 33,36 dólares norte-americanos no dia 12 de Fevereiro de 2016”.

Porém é irónico nas lojas que o quilograma de açúcar, que é produzido e até exportado pelo nosso país, aumentou enquanto o preço dos combustíveis mantém-se inalterado nas estações de serviço moçambicanas.

“Dados provisórios indicam que em Janeiro de 2016 o saldo das Reservas Internacionais Líquidas reduziu em 124,5 milhões de dólares norte-americanos, para 1.869 milhões de dólares norte-americanos. A evolução no mês reflectiu, essencialmente, o efeito das vendas líquidas efectuadas pelo BM no Mercado Cambial Interbancário no valor de 130 milhões de dólares norte-americanos, perdas cambiais potenciais (líquidas) no valor de 26 milhões de dólares norte-americanos e amortização do serviço da dívida pública externa no valor de 23 milhões de dólares norte-americanos” indica o Banco de Moçambique no seu comunicado.

O Fundo Monetário Internacional previu que as Reservas Internacionais Líquidas do nosso país deverão continuar a diminuir até meados de 2016, “antes de iniciarem uma recuperação gradual que elevará os rácios de cobertura de importações para níveis confortáveis”.

Dinheiro mais caro, menos investimentos e menos empregos

O Comité de Política Monetária revela ainda no seu comunicado, após a sua reunião desta segunda-feira(15), que a taxa de câmbio metical para dólar norte-americano foi, “no último dia de Janeiro, de 46,06 no Mercado Cambial Interbancário, o equivalente a uma depreciação mensal do metical de 2,47%, tendo a depreciação anual desacelerado ligeiramente para 42,25%. Nos balcões dos bancos comerciais, a taxa de câmbio média do fecho do último dia do mês foi de 47,65 meticais, correspondente a uma depreciação mensal de 0,74%, tendo a cotação média das casas de câmbio no último dia do mês sido de 50,89 meticais por dólar norte-americano. No mesmo período, o rand (ZAR) foi cotado em 2,88 Meticais, o mesmo câmbio do mês transacto, resultando numa desaceleração da depreciação anual para 4,35%”.

Entretanto tal como os verdadeiros patrões em Moçambique, a Confederação das Associações Económicas (CTA), tinham profetizado que o aumento das taxas de referência do banco central não só iriam agravar o custo dos produtos como também iriam retrair os seus investimentos e quiçá afectar os empregos dignos que tanto escasseiam em Moçambique. “(…)A confiança empresarial, expressa pelo indicador de clima económico, reduziu, pelo quarto mês consecutivo, em Dezembro, reflectindo a avaliação desfavorável dos empresários inquiridos em relação ao emprego actual, assim como as perspectivas de emprego e de preços, suplantando o incremento registado nas perspectivas de procura”, confirmam as estatísticas oficiais citadas no comunicado do BM em contraste com as promessas de centenas de milhares de empregos que o Governo de Filipe Nyusi continua a fazer.

Foto de Arquivo“Em termos sectoriais, o pessimismo manifestado em relação às perspectivas de emprego decorreu, essencialmente, das opiniões desfavoráveis de todos os sectores, enquanto as perspectivas de procura registaram uma recuperação pondo fim à trajectória descendente iniciada em Agosto último, decorrente da apreciação positiva de todos os sectores com a excepção dos serviços de transportes e de construção que continuam a prever um declínio na actividade”, lê-se ainda no comunicado do banco central.

A decisão política tomada pelo Banco de Moçambique nesta segunda-feira, depois de analisar as conjunturas internacional e nacional, foi de “ajustar em alta, com efeito imediato: i. A taxa de juro da Facilidade Permanente de Cedência de liquidez em 100pb para 10,75%; e ii. A taxa de juro da Facilidade Permanente de Depósitos em 50pb para 4,25%. Manter o Coeficiente de Reservas Obrigatórias em 10,5%.”, com o objectivo de cumprir “a meta indicativa da Base Monetária de Fevereiro de 2016 fixada em 68.163 milhões de Meticais”.

Importa referir que embora o BM mencione as cheias na região Norte do país com um dos factores que contribuem para a “conjuntura doméstica”, na verdade Moçambique não tem ainda situações de cheias mas sim de inundações normais durante à época chuvosa. Relativamente à seca, também usada como justificação para a redução do Produto Interno Bruto (PIB) e da pressão inflacionária, está a assolar as províncias do Sul, e algumas do Centro, há mais de um ano portanto o seu impacto deveria ter sido previsto com muita antecedência e medidas de mitigação poderiam ter sido acauteladas nos finais de 2014 e início de 2015.

Mas se falta dinheiro no bolso dos moçambicanos trabalhadores, e desempregados, e até faltam 63 milhões de meticais ao Instituto Nacional de Gestão de Calamidades, para ajudar as centenas de milhares de vítimas das inundações e da seca, fundos não faltam no erário para as mordomias e despesismo dos governantes. Exemplo é apenas um lote de perto de uma centena viaturas, muitas delas de luxo, que o Ministério da Economia e Finanças recentemente adquiriu por cerca de 250 milhões de meticais, ou os mais de 65 milhões de meticais que os ilustres deputados pretendem gastar na instalação de um canal de televisão parlamentar.

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