Têm várias designações. Lambe-botas. Escovinhas e bajuladores. Povoam as imediações dos ministros, dos secretários permanentes, dos PCA’s, dos governadores e, sobretudo, do Presidente da República.
A espécie mais evoluída é constituída por indivíduos que vivem agarrados aos telemóveis, aos BlackBerries, aos IPAD’s e aos computadores. Levantam-se contra os críticos do turno ou “irmãos metralha” como apregoam aos quatro cantos. Sonham todos os dias em viver nas costas do chefe. Para isso, conversam sistematicamente com directores e jornalistas das televisões, das rádios e dos jornais.
Escondem notícias desagradáveis aos anseios de quem manda. Mostram aos políticos e aos gestores quem são os inimigos da orientação única. Descredibilizam cidadãos honestos.
Tratam do bom nome do chefe, mesmo que para isso seja necessário descer abaixo do chão da dignidade humana. Eles não têm opinião porque só pensam depois de o chefe fazê-lo e só aí formulam a sua própria que, regra geral, é uma cópia perfeita do que passou pela cabeça de quem manda.
Dentre estes existe uma nova espécie, os bajuladores emergentes. O que lhes move, na verdade, não é nenhum tipo de ideologia partidária, mas a filosofia do estômago. A tarefa deles é apontar defeitos ao pensamento alternativo, sempre num tom depreciativo, para deixar sequelas nos destinatários e garantir mais uma porção nas costas por escovar.
O pior desta espécie, porém, nem é o contínuo exercício de genufl exão. O mais perigoso é o veneno que expelem por onde passam. Eles não fazem nada e não deixam ninguém fazer, estão sempre a colocar entraves ao trabalho dos outros.
Se, por acaso, alguém perguntar o que fariam no lugar de quem impedem de trabalhar não saberiam responder, eles nunca têm soluções para aquilo que criticam, são pessoas sem ideias e com a mente congelada.
Para eles, num brutal consenso opinativo, ninguém pode levantar-se e dizer que pensa diferente e acredita nas pessoas. Isso é heresia. Acreditar? Somente em quem tem poder para exonerar e nomear.
Experimente o leitor ter uma opinião que choca com as ‘convicções’ políticas deles! Eles logo dirão que é apóstolo da desgraça e derivados, mesmo que pertença ao partido, como diz o outro, da verdade.
Eles, na verdade, não estão preocupados com a situação do país e muito menos com a sua própria dignidade. Muitos deles acabam, porque o poleiro não tem espaço para todos, caindo numa profunda frustração.
Vêm aí o balanço dos Jogos Africanos e os inúmeros interessados em lugares prosseguem em lume brando, proferindo palavras meticulosamente estudadas para ajeitar a gravata do chefetodo- poderoso. O que mostra, logo à partida, que vivemos numa sociedade onde as pessoas deixaram de usar a mente e passaram a agir segundo as exigências dos seus insaciáveis estômagos.
Será somente por esse estômago que muitos dirão que isto (leiase jogos) foi um sucesso. Ignoram, porém, que nos jogos que no domingo terminam conquistamos um punhado de medalhas de bronze, duas de prata e ZERO de ouro.
Contudo, esquecem que por causa de uma organização desastrosa, uma preparação moribunda e uma política desportiva desprezível, perdemos a oportunidade de colocar Moçambique no pedestal da dignidade desportiva.
O que acontece neste país, desde a justiça à saúde, ao ensino, à governação, é o resultado da actuação concreta das PESSOAS que mandam nos corredores do poder. Se, em África, Moçambique é dos últimos em tudo, excepção feita ao improviso, por que razão havíamos de ter melhores resultados no desporto?
Se as pessoas, do topo à base, no seu dia-a-dia não cumprem os deveres, nem os compromissos assumidos, prometem sem conhecimento de causa coisas que não querem dar, claro que chovem derrotas “vergonhosas”. Aliás, vergonhosas para as pessoas que reservam alguma dignidade.
Não estamos a falar dos engraxadores de turno, aqueles seres que nasceram dotados de olhos capazes de verem uma paisagem paradisíaca em plena lixeira do Hulene. É que há uma comunidade vermelha de ardósias nesta pátria de vergonhas que ainda insiste em olhar para a noite dos nossos fracassos com óculos escuros. Auto-estima é isso.
PS: Não nos espantaríamos se amanhã os mesmos dissessem que a culpa é dos atletas. Valha-nos Deus.