Não pretendemos ser científicos e nem ter o dom da infalibilidade. Isto não é um tratado e muito menos um documento para os estudantes universitários carregaram debaixo do braço. É, isso sim, um desabafo. Este é o pior Governo da história de Moçambique indepen- dente. O Executivo de Guebuza colecciona incompetências como nenhum outro.
Este Governo criou a Revolução Verde e foi o que se viu: nem revolução, nem verde. Muito pelo contrário, vimos um ministro da Agricultura apontado com braço forte de uma esquema de venda ilegal de madeira. Era o que faltava para confirmar a nossa desgraça colectiva. O futuro apresenta-se cada vez mais sombrio neste reino de abutres.
Este Governo falou de combate à pobreza absoluta e hoje, pasme-se, há mais moçambicanos a viverem com menos de um dólar por dia do que quando Guebuza chegou ao poder. Vimos, também, uma ponte sobre o Zambeze ganhar o nome de Armando Emílio Guebuza.
Não foi por falta de nomes melhores e que representassem, de facto, a unidade nacional, mas pela mesquinhice colectiva de uma bando de idiotas que substitui a competência pela genuflexão. Ou seja, é mais fácil garantir um lugar no poleiro com a fotografia monumental do chefe do que com obra feita. Vimos a chegada desenfreada de megaprojectos. Vimos o povo sem terra e os dirigentes mais rechonchudos.
Vimos o mais alto magistrado da Nação prostituindo-se na mesa do presidente da Vale. Um autêntico insulto aos cidadãos de Cateme que estão de costas voltadas com aquela empresa e esperavam, por isso, uma postu- ra dignificante do Chefe de Estado.
Vimos a desastrosa e vergonhosa recondução de Augusto Paulino à cadeira de procurador-geral da República. Augusto Paulino é um exímio coleccionador de declarações bombásticas, mas incapaz de esboçar qualquer tentativa de acção para mitigar o crime organizado. Recentemente disse que magistrados e advogados estão ao serviço do crime organizado.
Antes revelou que a indústria imobiliária está a ser alimentada pela lavagem de dinheiro e por redes criminosas. Até aqui tudo bem. Paulino disse o que qualquer cidadão atento diria. Mas ele é o procurador-geral da República e o que se pede de uma figura com a sua responsabilidade não é um discurso emocionado, mas acções conducentes ao combate ao crime organizado.
Guebuza não devia ter reconduzido um charlatão. É isso que Augusto Paulino é. A responsabilidade que lhe assiste manda dizer que o homem não deve insinuar, mas agir. Não deve acusar, mas provar. É isso que se pretende de um procurador. Não podemos levar a sério quem reconduz um fala-barato.
Isso é brincar com o povo e com a nossa segurança. Mas já estamos advertidos de que estamos entregues a nossa própria sorte. Até porque não foi só Augusto Paulino que Guebuza reconduziu para carimbar a nossa desgraça. Jorge Khalau continua a mandar na Polícia da República de Moçambique.
Não é preciso dizer que, com a onda de raptos e assaltos violentos que caracterizam o país, reconduzir Khalau é reconhecer e aprovar um atestado de insanidade sem espaço para discussão.
Mas não é só isso. Guebuza devia aconselhar – se é incapaz de o exonerar – Pacheco a colocar o seu lugar à disposição. A acusação segundo a qual o actual ministro da Agricultura está envolvido no tráfico de madeiras não é grave. É mais do que isso. A saída mais airosa para o ministro da Agricultura, neste caso, é a demissão.
A sua permanência no cargo só revela uma coisa: no reino da rapinagem a decência e a vergonha foram enterradas num caixão de madeira num cemitério chinês…