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Astronomia para moçambicanos

Astronomia para moçambicanos

A Astronomia – ciência que se debruça sobre a origem, evolução, composição, classificação e dinâmica dos corpos celestes –, existe desde que o nosso planeta surgiu. Da medição do tempo à nossa orientação quando andamos pelo globo (seja por terra, mar ou ar) ou mesmo no espaço, a Astronomia está presente na nossa vida. Em Moçambique o rosto da astronomia chama-se Cláudio Moisés Paulo, é docente na Universidade Eduardo Mondlane (UEM) e, desde 2004, tem envidado esforços para popularizar a Astronomia e despertar nos mais jovens o interesse por todas as ciências.

O coração da Astronomia em Moçambique fica num pequeno escritório do Departamento de Física da UEM, em Maputo, onde encontrámos o astrofísico e professor universitário Cláudio, licenciado em Física e Meteorologia, em 2003.

Em 2004, altura em que começou a leccionar na UEM, numa feliz coincidência, Cláudio tropeçou num grupo de jovens portugueses que pretendiam aproveitar o ano da Astronomia que se comemorou em 2005, para massificar esta ciência nos países da CPLP.

Era preciso viabilizar a aquisição de alguns instrumentos de observação de astros (telescópios e planetários flexíveis) e viabilizar a deslocação de astrónomos portugueses a Moçambique, recorda Cláudio, mas nenhum apoio foi conseguido no nosso país, nem mesmo em Portugal, e o projecto nunca teve pernas para andar. Porém, o fascínio pela Astronomia ficou em Cláudio.

Graças às facilidades hoje oferecidas pela rede global de computadores, a Internet, Cláudio conheceu, e tem conhecido, pessoas que partilham a mesma paixão pela Astronomia. Em 2007, Cláudio licenciou-se em Astrofísica e Ciências Espaciais, pela Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul. E, três anos depois, tornou-se mestre em Astrofísica.

Ao longo deste trajecto Cláudio tomou conhecimento de vários projectos mundiais ligados à Astronomia. Teve conhecimento de que a UNESCO (Organização Educacional, Científica e Cultural das Nações Unidas), baseada em vários estudos que indicam que os jovens alunos têm perdido o gosto pelas ciências, está a desenvolver um projecto global que se propõe incluir a Astronomia nos currículos escolares de todos os países subdesenvolvidos, até 2020.

A inclusão do estudo da Astronomia, pelo seu carácter transversal às várias ciências e principalmente pelo fascínio que desperta, desde crianças a idosos, poderá ser um catalisador para que os mais jovens se interessem mais pelo estudo das ciências.

Aulas de astronomia também online

Com apoios conseguidos através de um desses projectos internacionais, em 2009, realizaram-se as primeiras actividades de massificação da astronomia em Moçambique. Munidos de telescópios, várias actividades de astronomia aconteceram em alguns jardins de infância, escolas primárias e secundárias, e universidades na capital do país.

Como corolário do impacto destas actividades, nesse mesmo ano, a UEM ficou sensibilizada e decidiu introduzir no currículo do Departamento de Física o estudo da Astronomia.

Cláudio é o docente e decidiu disponibilizar online as aulas que lecciona a qualquer interessado, no sítio http:// claudiompaulo.weebly.com/ astronomia-para-o-moccedilambicano. html. Na aldeia global, que é a Internet, Cláudio descobriu que, para além dos seus poucos alunos, tem muitos outros no Brasil, que consultam as suas aulas online.

Hoje também o Departamento de Matemática da UEM, no novo curso de Ciência da Informação Geográfica, introduziu a Astronomia no seu currículo, com o estudo da mecânica celeste e a Astronomia Geodésica.

Astronomia no dia-a-dia

Começou na passada sexta- -feira (20) o mês de Ramadan, altura em que os muçulmanos jejuam em sacrifício visando expurgarem os seus pecados. Para os fiéis, este mês só inicia após observarem, a olho nu, a lua nova que marca o 1º dia desse mês.

O mesmo se aplica à data do fim do Ramadan. Isto que dizer que o calendário muçulmano se regula pela lua. Por outras palavras, podemos dizer que nesta altura os muçulmanos se servem da Astronomia, a olho nu.

Segundo o astrofísico Cláudio Paulo, todas as festas religiosas estão relacionadas com os astros e cita, como exemplo, a data da comemoração da Páscoa cristã. O sol posiciona-se seis meses no hemisfério sul e seis meses no hemisfério norte; à sua passagem de um hemisfério para outro, quando coincide com o equador celeste, acontece o equinócio: quando o dia e a noite têm a mesma duração.

Esta é a referência usada para a determinação da data da Páscoa, que acontece no primeiro Domingo da Lua cheia após o equinócio de Primavera no hemisfério norte.

Parece ironia, mas depois dos conflitos que sabemos que existiram (alguns ainda existem) entre a Igreja Católica e a ciência – sendo um dos mais célebres o julgamento e prisão domiciliar de um dos primeiros astrónomos, Galileu Galilei –, o Vaticano possui um dos mais potentes telescópios ópticos existentes na face da Terra.

Os resultados do desenvolvimento científico e tecnológico da Astronomia e áreas afins têm vindo recorrentemente a transformar-se em aplicações essenciais para o nosso dia-a-dia, como computadores pessoais, satélites de comunicação, telemóveis, Sistema de Posicionamento Global (popularmente conhecido por GPS), painéis solares, scanners de ressonância magnética, microlaser e muitas outras aplicações para a medicina.

Futuro… o céu não é o limite

O futuro da Astronomia em Moçambique afigura-se muito promissor. Olhando para os esforços que tem sido desenvolvidos localmente, o nosso vizinho, a África do Sul, – que conseguiu garantir a instalação no seu território de parte importante do megatelescópio SKA (Square Kilometre Array) – decidiu oferecer ao nosso país uma antena para rádio Astronomia, que será uma das três mil antenas que vão compor este projecto científico multinacional, que tem como objectivo construir o maior e mais sensível rádio telescópio do nosso planeta.

Espera-se que este megatelescópio comece as primeiras observações a partir de 2019 e poderá ajudar os cientistas a estudar os processos de formação de galáxias e buracos negros, bem como tomar parte na busca de vida extraterrestre.

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