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Assaltantes criam terror na Beira

Assaltantes, vulgarmente conhecidos no mundo do crime, na Beira, por “batacuios” ou “homens de catanas”, estão, depois de uma relativa acalmia, a criar terror, despojando os cidadãos indefesos dos seus bens como telemóveis, dinheiro, objectos de adorno, relógios, sapatos, entre outros.

A situação está a preocupar as vítimas e não só, na medida em que os casos de assaltos ocorrem em plena luz do dia, para tal os criminosos recorrem ao uso de instrumentos contundentes como catanas, facas, chaves-de-fenda, entre outros. Segundo alguns residentes daquele ponto do país, na Beira reina o medo, visto que os grupos de criminosos estão a multiplicar-se, assim como as ameaças para lograrem os seus intentos sobem de tom quando as vítimas manifestam resistência, em alguns casos até soam juras de morte. Os larápios chegam a ferir as suas vítimas.

 

Casos há, em que os malfeitores actuam ante o olhar impotente dos transeuntes. Quando as vitimas gritam a pedir socorro, as pessoas que por ali passam nada podem fazer, pois são também indefesas, tal como contou um cidadão que se identifi cou pelo nome Cassamo Abdul Lampião. Lampião diz ter sofrido um assalto no bairro de Chipangara perpetrado por um perigoso cadastrado conhecido por “Modjas”, ou simplesmente Moisés Albano Ambrósio, que acaba de ser solto, em virtude de ter cumprido a pena de prisão maior.

Lampião relata que “Modjas” apoderou-se de três telemóveis, sendo um do nosso entrevistado e outros dois de cidadãos que o acompanhavam. “Para além disso, ele arrancou- me a carteira que continha 500 meticais” – acrescentou Lampião, revelando que na altura do assalto, ‘Modjas’, que trazia consigo uma faca grande, estava na companhia do seu irmão mais novo. Reclusos fogem para assaltar… O cidadão Cristiano José Tomocene, residente do bairro da Manga, disse ter sido assaltado há dias no seu próprio quintal, quando estava inclinado a abrir o portão da entrada principal.

Segundo ele, o índice de criminalidade está a recrudescer na cidade da Beira, porque os reclusos encarcerados na cadeia de Savane, vulgarmente conhecida por “Cabide”, têm saído das celas a coberto da noite para assaltar e depois destas incursões, voltam novamente para a penitenciária. Lampião conta que fazem parte deste grupo de larápios, perigosos cadastrados transferidos da Cadeia Central da Beira, ora em reabilitação. “À noite, temos visto alguns prisioneiros que ainda estão a cumprir penas de prisão maior, a beber nas barracas, o que constitui um grande perigo para nós,” – disse Cristiano Tomocene, visivelmente chocado por ter sofrido um assalto.

Cristiano Tomocene revelou que na Manga, um dos bairros residenciais, os residentes são proibidos de sair de casa depois das 21 horas, porque a situação está a deteriorar-se cada vez mais, daí que tenha opinado que os agentes policiais deveriam tornar o patrulhamento mais intensivo para conter a onda da criminalidade. Acontece – porém – que quando os cidadãos são assaltados pelos larápios não recebem um pronto socorro dos agentes da polícia. “É uma situação lastimável que estamos a atravessar nos últimos dias na cidade da Beira” – observou Tomocene, que devido ao assaltado sofrido perdeu um telemóvel que lhe custou 2.850 meticais, e 400 meticais em dinheiro arrancado pelos larápios. “Ordenaram que não me mexesse, senão faziam-me merdas,” numa altura em que me apontavam quatro catanas empunhadas por igual número de assaltantes, que nem cheguei a ver de onde apareceram, porque quando aproximei ao portão ninguém estava perto,” explicou.

“Primeiramente pediram-me o telemóvel e dinheiro, mas eu disse que não os tinha, só que instantaneamente puseram-se a revistar-me retirando o que encontraram e perguntando: o que é isto…?, e ordenaram que não voltasse a negar com os bens porque corria o risco de morrer,” comentou. Ele deplorou a situação que actualmente se vive nos bairros da cidade da Beira. Os assaltos são incontáveis, disse o nosso entrevistado, apontado o caso recente que assistiu de um cidadão que quando saia do serviço viu-se cercado por bandidos que lhe arrancaram o telemóvel que custou 15 mil meticais, e oito mil meticais em dinheiro, para além de vários documentos que fi caram na posse dos malfeitores.

A cena ocorreu momentos após a vítima ter descido de um meio de transporte, quando já se dirigia à casa. “Os bandidos apareceram de repente e começaram a despojálo dos seus bens,” refere. Tomocene opinou que os assaltantes sejam linchados, porque mesmo eles não têm piedade. “Imagine que eu trabalhei tanto para ter o telemóvel, mas agora não sei de que forma poderei ter outro, uff ” – suspirou, para depois dizer que “o que está a acontecer na zona da Manga não está a dar, por isso, pedimos que a Polícia encontre outra forma de conter a onda da criminalidade, antes que os linchamentos voltem a ser notícia”. Um jornalista da Rádio Pax, Francisco Bene, é uma das vítimas dos assaltos, tendo perdido um telemóvel e gravador do serviço. “Fiquei imobilizado, quando um dos três larápios me apertou o pescoço, numa altura em que os outros dois estavam a revistar-me” – contou, apontado a zona da baixa da cidade o local onde ocorreu o incidente. Madalena Luís Siria, residente no bairro de Vila-Massane, disse que há dias sofreu um assalto em plena luz do dia, exactamente quando eram 8 horas, numa altura em que acabava de descer do “chapa- 100”. “De repente vi um gatuno a arrancar-me a carteira, donde retirou o meu telemóvel, mas ao se ver cercado por populares, nada mais fez senão lançar o celular para o chão.

Fê-lo com tanta força que se destruiu logo,” conta. Segundo a fonte, o larápio que lhe assaltou tinha cara de quem já sofreu golpes várias vezes, porque a sua cara estava totalmente deformada. Acrescentou que “devia ter fugido da cadeia. Nós as mulheres somos as principais vítimas das acções maléfi cas dos bandidos”. A nossa entrevistada disse que “sem passar muito tempo os linchamentos voltarão a ocorrer porque os bandidos já estão a abusar as pessoas”. Esta fonte apela às autoridades policiais para tomarem medidas que visem travar esta situação que apoquenta muita gente.

Ela conta que agora já não há sítios onde as pessoas possam gozar da sua liberdade porque os larápios estão em toda parte. Segundo ela, antes podiam apontar-se os pontos com alto índice de criminalidade e são exemplos a Casa dos Bicos, a ponte do Chiveve, a rua Correia de Brito, a zona que parte da Praça do Metical até ao cais Manarte, entre outros locais, da baixa da cidade. Uma cidadã, que se identifi – cou por Chinaza Zacarias, do bairro da Ponta-Gêa, revelou que os marginais que a coberto da noite assaltam pessoas, sobretudo as mulheres, de dia concentram-se no local baldio, ao lado do Hotel Savoy, deixando transparecer que são dementes, porque confeccionam os seus alimentos em latas de leite.

“Muita gente fi ca admirada ao ver aqueles cidadãos naquele local cercado por chapas de zinco para obras de construção, mas cuidado com eles, porque já no período nocturno espalham-se pelas artérias da cidade, fazendo estragos, digo, assaltos” – revelou. Esta interlocutora sugeriu que a Polícia pudesse fi zesse uma operação relâmpago com vista a capturar estes “vadios”. Na ronda que efectuamos, interceptamos alguns alunos, que afi rmam ser sempre atacados quando vão ou voltam da escola.

Aliás, adicionam que mesmo nos recintos escolares os marginais perpetram assaltos quando as vítimas se encontram em número reduzido. Daniel Filipe, um cidadão residente no bairro de Matacuane, opinou que para eliminar as acções dos assaltantes é preciso intensifi car o patrulhamento policial. Segundo Daniel Filipe, as autoridades policiais devem apertar o cerco, para evitar que os populares façam a justiça pelas próprias mãos, porque isso é piora as coisas. “Acho que fazer a justiça pelas mãos não é solução, porque existem instâncias apropriadas” – sublinhou o nosso entrevistado, condenando os actos de linchamentos que de algum tempo para cá foram ocorrendo de forma assustadora nas cidades da Beira e Dondo. Afi rmações da polícia…

Em contacto com o nosso Jornal, o porta-voz do Comando Provincial da Polícia da República de Moçambique (PRM), em Sofala, Feliciano Dique, considera que embora a província e a cidade da Beira tenham registado elevados índices de criminalidade no primeiro semestre deste ano, as autoridades da lei e ordem continuam a fazer o seu máximo para conter os ânimos dos criminosos, prova disso é a detenção, durante este período, de vários indivíduos que nas suas incursões usavam armas de fogo. “Ainda neste período, em toda província, neutralizamos outras nove quadrilhas de assaltantes a mão armada. Apreendemos, quatro armas de fogo, sendo uma pistola, duas AK47 e uma semi-automática”- revelou Dique, afi rmando ainda que no mesmo período a PRM registou, em Sofala, 1.887 casos criminais contra 1.885 de igual período do ano passado, tendo se verifi cado um aumento em mais dois crimes.

No que diz respeito à cidade da Beira, no mesmo período, foram reportados 1.139 casos criminais, contra 1.906 do primeiro semestre de 2007, havendo uma subida em 43 crimes. Dos crimes anotados, destaque vai para roubos, furtos qualifi cados, ofensas corporais voluntárias, homicídios e violação sexual de mulheres e crianças. “Registamos, ainda, 30 homicídios voluntários, dos quais dez por linchamento”. A ambição material e o consumo de estupefacientes incluindo bebidas alcoólicas continuam a ser entre várias as causas do contínuo crescimento do gráfi co do terror na cidade da Beira. “Esta é também uma característica destas cidades. Veja que em comparação com os outros distritos da província, as cidades da Beira e Dondo aparecem em destaque em termos de ocorrências.

Também houve uma dispersão de agentes durante este período, para atender à situação das cheias, facto que contribuiu para a redução do efectivo nos patrulhamentos”. Questionado sobre as informações, segundo as quais, o elevado índice de criminalidade que se regista na cidade da Beira é causado por cadastrados que supostamente fogem, na calada da noite, da cadeia de Savane, a fonte da Polícia respondeu: “Nós também recebemos estas informações e de imediato agimos no sentido de apurar a veracidade dos factos. Uma vez no terreno, concluímos que se tratava apenas de rumores sem fundamento. Há criminosos sim, mas não saem da cadeia de Savane”.

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