O presidente da Aliança para uma Revolução em África (AGRA), Namanga Ngongi, diz ter havido progressos no orçamento alocado pelos países africanos para a agricultura, apesar da crise alimentar que se vive em algumas partes do continente.
Falando em entrevista a Agência de Informação de Moçambique, Ngongi, que se encontra, desde a passada Quarta-feira, na cidade da Beira, província central de Sofala, disse que, se África não tivesse registado progressos na aplicação de mais recursos para a agricultura, o cenário da fome no continente seria mais grave que o actual.
“Houve tremendos progressos, apesar disso ser um pouco contraditório quando há cerca de 260 milhões de pessoas a sofrer de malnutrição”, disse Ngongi, acrescentando que “se África não tivesse registado progressos, a situação seria pior. Talvez teríamos cerca de 500 milhões de pessoas enfrentando malnutrição”.
Na cimeira da União Africana (UA) realizada em Maputo, em 2003, os chefes de Estados e de Governos do continente comprometeram-se a alocar mais recursos para agricultura, aumentando o orçamento canalizado para este sector até, pelo menos, 10 por cento.
O presidente da AGRA disse que a média do bolo do orçamento dedicado ao nível do continente subiu dos três por cento que era em 2003 para os actuais entre cinco a seis por cento e muitos países já ultrapassaram a meta de 10 por cento, e mesmo assim continuam a avançar para frente.
“Sei que Moçambique está agora entre sete e oito por cento. O Quénia está agora nos nove por cento, contra os cerca de cinco por cento do orçamento que era há quatro anos quando fomos lá. Muitos países ultrapassaram a média de três por cento e continuam a avançar. Portanto, há claramente progressos assinaláveis”, disse ele.
Apesar de não afirmar que houve casos de redução de orçamento alocado ao sector da agricultura durante o mesmo período, Ngongi reconhece que alguns países regrediram outros simplesmente não mudaram e outros ainda tiveram progressos, mas esses ainda não têm impacto nenhum.
As razões para isso são várias, incluindo as políticas e climáticas, como a seca. Analisando questões de progressos na agricultura e disponibilidade de alimentos, Ngongi apontou o exemplo da Etiópia, que registou progressos assinaláveis, mas que agora está a sofrer situações de crise alimentar devido a seca.
O mesmo acontece com o Quénia que se encontra a braços com uma seca severa, em algumas partes do país. O outro caso é da Nigéria, que apesar de ter alçando progressos maravilhosos, ainda importa comida, havendo também o caso da Somália que agora sofre de fome e ao mesmo tempo a braços com uma guerra civil.
Na África Austral, os exemplos mais marcantes são do Zimbabwe, que de celeiro regional de cereais passou a ser um grande importador, devido a questões políticas, e o Malawi, que de grande importador, passou para grande exportador de cereais, vendendo os seus alimentos para o Zimbabwe, Quénia, entre outros mercados.
Em todo o continente, o país que merece particular destaque é o Gana que está na rota de cumprir com os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, na componente de redução para metade o número de pessoas padecendo de pobreza e fome até 2015.
Apesar dessas diferenças e desafios ainda enormes, o presidente da AGRA acredita que África, e particularmente Moçambique, é capaz de atingir a revolução verde, o que terá impacto na eliminação da fome no continente.
Ngongi diz não ser aceitável que haja milhares de famintos num continente onde existe terra, água e pessoas para trabalhar nesses recursos transformando-os em comida.
Refira-se que a AGRA foi fundada em 2007 com o financiamento da Fundação Bill e Melinda Gates e a Fundação Rockfeller, mais tarde juntou-se o Departamento britânico para o Desenvolvimento Internacional (DFID), para promover a revolução verde no continente africano, com o envolvimento de pequenos camponeses.
Os principais pilares de actuação desta organização incluem a produção e distribuição de sementes melhoradas, melhoria da qualidade dos solos, acesso dos pequenos camponeses aos mercados e políticas.
Neste momento, esta organização está presente em 16 países, mas seleccionou um grupo de quatro países privilegiados, onde se acredita haver um grande potencial para atingir a revolução verde em menor espaço de tempo.
Moçambique faz parte da lista destes quatro países, que também inclui a Tanzânia, Gana e Mali, onde a AGRA dedica 40 por cento dos seus recursos. A meta desta organização é de contribuir para a segurança alimentar em 20 países até 2020, através da redução, pelo menos para a metade, a insegurança alimentar.
A organização estima que, até essa altura, os 20 milhões de pequenos camponeses com os quais estará a trabalhar, terão duplicado os seus rendimentos, isso com a sua integração nos quatro pilares da actuação da AGRA combinada ao pilar transversal de financiamento.
“Não gostaria de exagerar, mas qualquer um pode ver os dados, quando nós começamos em 2007, apoiamos as empresas de produção de sementes a produziam três mil toneladas métricas de sementes. Ano passado, apoiamos a produzir 25 mil toneladas métricas de semente e este ano esperamos atingir 40 mil toneladas métricas”, disse Ngongi.
Ainda neste pilar, a AGRA estima que até 2018 as empresas de sementes estarão a produzir cerca de 250 mil toneladas métricas, quantidade considerada suficiente para aplicar em cerca de 10 milhões de hectares de terra.
“Essa quantidade representa duas toneladas de produção extra por hectare e isso corresponde a 20 milhões de toneladas de alimentos, suficientes para alimentar cem milhões de pessoas”, disse Ngongi.