Passado pouco mais de ano e meio desde que o Presidente da República, Filipe Nyusi, inaugurou nos arredores da cidade de Nampula o Laboratório de Análise de Solos e Plantas nenhuma análise foi realizada em benefício dos camponeses. Além do desconhecimento dos serviços que são disponibilizados pelo empreendimento, construído com financiamento do Governo do Japão, a análise de uma porção de terra custa uma pequena fortuna: 50 dólares norte-americanos.
No bairro de Muhaivire funciona, oficialmente desde Junho de 2015, o mais moderno Laboratório de Análise de Solos e Plantas de Moçambique. Representa a componente de investigação do Programa de Cooperação Triangular para o Desenvolvimento Agrícola das Savanas Tropicais de Moçambique(ProSavana) e foi edificado graças ao financiamento japonês, estimado em 28 milhões de dólares norte-americanos.
Jovens agrónomos moçambicanos, e estudantes, operam com perícia os mais variados equipamentos modernos que permitem determinar a composição química de um solo. Anabela Fonseca, a agrónoma que opera o novíssimo plasma de análises químicas de nutrientes e solos, explicou ao @Verdade que com base no resultado um especialista irá recomendar ao agricultor de onde a terra provém como melhorar a qualidade do mesmo e por conseguinte aumentar a sua produtividade.
Numa sala contínua dois jovens estudantes preparam várias amostras de mandioca que posteriormente serão também analisadas, a pedido de uma empresa de produção de bebidas alcoólicas nacional.
Noutro compartimento Maria Clarinda mostra centenas de porções de solos que o Laboratório recebeu e analisou. Questionada pelo @Verdade sobre quantas daquelas amostras eram provenientes de camponeses da província de Nampula, ou de outra região do País, a agrónoma e analista revela que nenhum. São amostras de investigações que decorrem para o ProSavana.
@Verdade quis perceber como os camponeses poderiam obter informação sobre a qualidade dos solos onde cultivam. Maria Clarinda explicou que precisam de fazer chegar uma amostra da área que pretendem e o Laboratório de Análise de Solos e Plantas avalia-o, porém adicionalmente devem ser pagos 50 dólares norte-americanos, “em dólares ou ao câmbio do dia”, esclareceu.
A agrónoma clarificou ainda que para apurar a qualidade de solos numa área considerável, mais do que um hectare, são necessárias amostras de vários locais da machamba e o custo multiplica-se pelo número de porções analisadas.
Para os camponeses moçambicanos, que são a maioria dos produtores de comida, este valor representa uma pequena fortuna afinal são na generalidade pobres. Os seus rendimentos mensais não chegam ao equivalente a 100 dólares norte-americanos e não têm acesso a fundos ou crédito para desenvolver a agricultura.
Além do custo exorbitante, ainda por cima em moeda estrangeira, o @Verdade entrevistou diferentes camponeses na província de Nampula, em Ribáuè, em Monapo e em Malema, que deixaram o seu evidente desconhecimento não só da instituição de análises de solos e plantas mas principalmente das vantagens que o trabalho de investigação que lá é desenvolvido poderia trazer à sua produção de alimentos.
O ineficiente serviço de apoio aos camponeses em termos de investigação e extensão rural é apenas um dos dramas conhecidos e que colocam a produção agrícola nos níveis insuficientes para as necessidades alimentares dos moçambicanos.
Vários documentos do próprio Governo indicam que existe uma “gestão de investigação deficiente”, que a planificação da investigação é inflexível e definição de prioridades inadequada e também quase não há ligação entre as várias instituições de investigação, como são os casos do Instituto de Investigação Agrária de Moçambique, Instituto de Fomento do Caju, das Universidades e dos serviços de extensão agrícola.