Líderes da União Europeia chegaram divididos a Bruxelas, Quinta-feira (28), para uma cúpula que tratará da crise na zona do euro, e a chanceler alemã Angela Merkel não dá sinais de que irá reverter a sua recusa em garantir as dívidas de outros países.
Enquanto ela é pressionada em casa para manter-se firme nessa posição, os seus parceiros na União Europeia dizem que essa pode ser a única maneira de salvar a moeda única.“Nein! No! Non!”, gritava a manchete estampada na capa do geralmente sóbrio jornal económico alemão Handelsblatt, com um artigo em que o seu editor-chefe cobra firmeza de Merkel durante os dois dias de cúpula na Bélgica.
Espanha e Itália, em especial, imploram por uma acção de emergência que lhes permita reduzir os seus custos de empréstimos, pois do contrário serão obrigados a deixar o mercado de títulos.
Eles querem que o fundo de resgate da zona do euro ou o Banco Central Europeu intervenham rapidamente comprando os seus papéis, o que reduziria os juros.
Uma fonte graduada do governo alemão, falando aos jornalistas em Berlim antes da cúpula, que começa às 10h, horário de Brasília, minimizou o salto nos custos de empréstimos da Espanha e da Itália.
“Alertaríamos contra exagerar na difusão do pânico”, disse. Os presidentes do Conselho Europeu, Herman van Rompuy, e da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, propuseram num relatório a criação dum Tesouro da zona do euro que emitiria títulos conjuntos em médio prazo, além do estabelecimento duma união bancária com supervisão central, garantia conjunta dos depósitos e um fundo de resolução.
Merkel insiste que, antes de partilhar qualquer ónus, é preciso realizar reformas fundamentais que dêem às autoridades da UE o poder de alterar orçamentos e políticas económicas dos governos nacionais.
“Agora ela precisa de explicar aos nossos amigos na cúpula que não ajudaria ninguém se a Alemanha entregasse dispendiosamente o fruto do seu trabalho.
Pelo contrário: ‘sim’ à Europa significa ‘não’ às ideias de Barroso”, escreveu Gabor Steingart no Handelsblatt.
Esse comentário reflecte opiniões amplamente difundidas na Alemanha, que elevou as suas exportações enquanto a Grécia, Irlanda e Portugal, e mais recentemente Espanha e Chipre, precisaram de resgates financeiros.
Essa é a 20ª cúpula da UE desde o início da actual crise, em 2010, e desde então nunca os 27 países do bloco estiveram tão divididos.