Diversos especialistas em assuntos de trabalho afirmam que os projectos desenvolvidos em Moçambique estão a transformar radicalmente aldeias eminentemente agrícolas em pequenas vilas comerciais. Falando na quinta-feira em Maputo, durante um simpósio sobre Desenvolvimento Ergonómico em Moçambique, o especialista Brad Paul disse que as indústrias de processamento de castanha de cajú, por exemplo, estão a criar enormes oportunidades em diferentes áreas.
Segundo ele, algumas dessas oportunidades são o surgimento de sistemas de poupança, locais de acomodação, entretenimento, entre outras actividades que demonstram uma certa estabilidade social. “Há uma transformação radical de comunidades agrícolas em pequenas vilas comerciais”, disse Paul, sublinhando que, nestes locais, se nota uma emergência de uma classe de meios trabalhadores que também são camponeses.
E o impacto desses projectos é visível. Ele disse que pelo menos 40 por cento da mão-de-obra das indústrias de processamento de caju, em Nampula, por exemplo, é constituída por mulheres. Aliás, o especialista Jake Walter, director da organização TechnoServe, disse que o trabalho não só está a criar mudança nas pessoas, mas também nas famílias e nas comunidades. Walter disse que onde há uma pequena fábrica de processamento de caju nota-se ao redor uma pequena vila comercial, constituída por vendedores de vestuário, peças de bicicleta, locais de projecção de filmes e jogos de futebol, entre outros.
“Essa mudança é também visível em Namialo (também em Nampula), onde a indústria de banana está a transformar a vida das comunidades”, disse ele, sublinhando que exemplos similares podem ser encontrados nos locais onde se desenvolve a produção avícola, particularmente nas províncias de Maputo, Manica e Nampula. “O frango movimenta centenas ou milhares de produtores. Usam pintos de melhor genética, melhores rações, melhores técnicas de produção”, afirmou, sublinhando que estas tecnologias tem impacto na produção agrícola também. Por exemplo, segundo Paul, a produção de milho e soja subiu quatro vezes nos últimos anos para responder as necessidades de fabricar ração.
Designado “Rumos a uma Agenda para o Desenvolvimento Ergonómico em Moçambique: Lições Aprendidas na Agroindústria em Nampula”, este simpósio é organizado pela Agência norte-americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID), através do Programa ArgiFUTURO.
Este programa foi lançado em Moçambique em Maio do ano passado com o financiamento de 20 milhões de dólares visando promover maior competitividade, prosperidade e comércio internacional sustentável ao sector privado agrícola no país. O encontro de quinta-feira destina-se a reflectir sobre o desenvolvimento de sistemas de trabalho dos parceiros do Programa AgriFUTURO e estabelecer uma agenda para o desenvolvimento económico no país.