A escassez de insumos agrícolas, principalmente os resistentes à seca, e o mau estado das vias de acesso que dificulta o escoamento de excedentes depois da produção, são a tónica dominante das queixas de alguns agricultores, dentre vários espalhados pelo país, mas que se encontraram, esta quinta-feira (25), em Nampula, no âmbito do lançamento da campanha agrária 2012-2013.
Américo Sinsseque, produtor no Posto Administrativo de Itoculo, distrito de Monapo, disse ao @Verdade que os produtores daquela região estão abraços com a falta de meios circulantes para transportar os seus excedentes, o que, por conseguinte, lhes impede de colocá-los nos mercados formais.
A situação repercute-se também na locomoção de pessoas de um lugar para o outro, por isso, usa-se motos, embora o preço da passagem seja proibitivo.
Francisco Pedro, do distrito de Mandjacaze, na província de Gaza, é um outro agrário com quem a nossa reportagem conversou. Disse que não há dúvidas de que o país enfrenta várias limitações, sobretudo financeiras, mas se o Governo aposta na agricultura, esta poderia desenvolver as famílias e combater a fome.
Arcílio António, do distrito de Meconta, referiu que aquela região tem fortes potencialidades para o cultivo da castanha de caju uma vez que as culturas alimentares fracassam. Por isso, alguns agricultores aplicam o financiamento do Fundo Distrital de Desenvolvimento, vulgo “sete milhões”, na produção da castanha de caju devido às oportunidades e facilidades na altura da comercialização.
António citou como exemplo a Associação Okhalihana, composta por sete membros que se dedicam àquela actividade há mais de cinco anos. O início, os rendimentos eram baixos e não satisfaziam as suas necessidades.
Porém, um acordo firmado com a ADPP, à luz do qual esta entidade passa a comprar a castanha de caju daquela agremiação a um preço justo, tem rendido muito. Trata-se de uma estratégia que está a ser adoptada por muitos agricultores no sentido de evitar as manobras dos compradores informais.
Outras dificuldades enfrentadas pelos produtores
Mica Bila é um extensionista com uma larga experiência no sector agrário, na província de Inhambane. De acordo com ele, a estiagem que assola maior parte das regiões produtivas do país tem prejudicado o desenvolvimento de culturas de rendimento e inviabiliza as metas de produção.
Para minimizar este problema há, na sua opinião, que recorrer a outras culturas resistentes à seca, o que já está em curso mas só beneficia menor percentagem dos agricultores nacionais.
O agravante é que a maior parte das comunidades que se dedica à agricultura enfrenta escassez de insumos agrícolas e a disponibilização de maquinarias também beneficiar a poucos agricultores e assim não há como aumentar as áreas de produção, nem a produtividade.
FAO compromete-se a ajudar os produtores
O representante da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) em Moçambique, Júlio de Castro, reiterou o comprometimento de ajudar os agricultores a se organizarem em cooperativas e associações, como forma de beneficiar das políticas adequadas de melhoria de produção e de criação de postos de emprego.
Por seu turno, o Presidente da República, Armando Emílio Guebuza, reconheceu que as 15 milhões toneladas de culturas alimentares e as 14,3 milhões de toneladas de culturas de rendimento planificadas para a campanha agrícola 2012/2013 são insuficientes para resolver o problema da fome dos moçambicanos.
O país precisa implementar integral e correctamente as políticas e estratégias de irrigação e de fertilizantes, programa de fortalecimento da cadeia de sementes e de transferência intensiva de tecnologias agrárias.
