Enquanto no Norte se reuniam os ministros do Grupo dos 20 para para discutir sobre a segurança nuclear, noutro encontro, seis mil quilómetros ao Sul, era estudado o crescimento de empresas verdes.
Ambientalistas, políticos e empresários realizaram no passado dia 7, em Brazzaville, o Segundo Fórum de Empresas Verdes em África, uma conferência de quatro dias para procurar oportunidades de desenvolvimento sustentável. As duas reuniões acontecem num momento importante.O Norte industrializado revê as suas políticas sobre energia nuclear após o desastre de Março no complexo japonês de Fukushima. Por sua vez, muitos governantes africanos deram conta de que o futuro do continente é verde.
A conferência de Brazzaville responde a “preocupações actuais” e tem o objectivo de “sensibilizar” o público sobre a importância de empresas sustentáveis, de conservar as florestas na bacia do Rio Congo e de lutar pela segurança alimentar, segundo Sylvestre Didier Mavuenzela, presidente da Câmara de Comércio da cidade de Pointe-Noire.
“O Fórum oferece uma oportunidade a investidores da África central, Europa, Ásia e América de, por um lado, oferecer negócios ecológicos na região e, por outro, enfatizar a necessidade de desenvolver e melhorar as condições da população”, afirmou Mavuenzela.
Os organizadores, entre os quais está o Ministério do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Congo, estão conscientes do auge dos negócios verdes, disse à imprensa em Paris antes da conferência.
“Se a África central não participa nem avança no sector, não pode beneficiar das vantagens que acompanham os negócios verdes, como reduzir a sua vulnerabilidade económica”, afirmou Mavuenzela.
“Os governos devem voltar-se para a economia verde para encontrar novas fontes de crescimento e de emprego”, recomendou a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE), com sede na capital francesa. Os países devem “adoptar políticas que aproveitem a inovação, o investimento e o movimento empresarial que encabeça a mudança”, acrescentou.
A OCDE elaborou um contexto prático para que os governos impulsionem o crescimento económico e protejam o meio ambiente, que consta no informe “Towards Green Growth” (Para um Crescimento Verde), publicado em Maio.
“Muitos países africanos têm uma grande quantidade de riquezas naturais e precisam de ter políticas específicas para desenvolvê-las de forma sustentável e organizada”, disse Nathalie Girouard, da equipa de Estratégia de Crescimento Verde, da OCDE.
“O crescimento verde tem sentido económico e ambiental”, segundo a especialista. “Somente no sector de recursos naturais, as oportunidades comerciais relacionadas com os investimentos sustentáveis podem chegar a triliões de dólares até 2050”, ressaltou.
Com vista à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que acontecerá em 2012, vários países africanos e de outras regiões compreenderam a importância do desenvolvimento verde, realizaram novos investimentos e criaram associações, segundo especialistas. Na Estratégia de Redução da Pobreza e Desenvolvimento Económico de Ruanda, por exemplo, “o meio ambiente figura como assunto transcendental”, disse Girouard.
“Em matéria de crescimento verde, Ruanda tem necessidades diferentes das da Alemanha ou do Canadá. A ideia é elaborar políticas para diferentes fases de desenvolvimento”, explicou a especialista.
Esse país também identificou vários sectores com forte “conteúdo de recursos naturais e ambientais” como importantes para conseguir os seus objectivos de desenvolvimento, segundo a OCDE. As medidas adoptadas por Ruanda para preservar o habitat dos gorilas de montanha promoveram o turismo, que agora representa a maior participação no produto interno bruto nacional, acrescentou Girouard.
Empresários africanos têm um papel cada vez mais activo na indústria verde, alguns mediante associações com entidades de outros países em desenvolvimento ou europeus. Para muitos é uma oportunidade de melhorar as condições de vida do continente. A Associação Beninense para o Despertar e o Desenvolvimento instala painéis solares em aldeias do Benin e dedica-se a “criar um modelo replicável para incentivar essa fonte de energia”, disse Christèle Adedjoumon, gerente de projecto.
“A iniciativa consiste na electrificação solar de áreas rurais pelas próprias camponesas”, explicou Adedjoumon. As mulheres são treinadas durante seis meses nessa tecnologia fotovoltaica no Barefoot College, na Índia, para electrificarem as suas aldeias, disse Christèle . A intenção é “promover o desenvolvimento social sustentável” mediante efeitos sobre educação, saúde, vida familiar, emprego e protecção do meio ambiente, acrescentou.
Cerca de 1,4 bilião de pessoas não tem electricidade, a maioria encontra-se na África subsaariana, onde o serviço chega a 30% da população e a 12% nas zonas rurais.
Se não forem tomadas medidas específicas, a quantidade de pessoas sem electricidade irá manter-se em 1,2 bilião até 2030. A França, este ano na presidência do Grupo dos Oito países mais poderosos e também do G-20, destacou que o acesso a energia e o desenvolvimento em África são prioritários.
A ministra do Meio Ambiente da França, Nathalie Kosciusko-Morizet, e o primeiro-ministro do Quénia, Raila Odinga, lançaram em Abril a Iniciativa Climática Paris-Nairobi, que pretende contribuir para o acesso universal a energia limpa até 2030. “As pessoas mais pobres do mundo pagam a energia mais cara, menos efectiva e menos sustentável”, diz um informe franco-queniano.
A importância da iniciativa reflectiu- se na presença em Paris de 90 delegados africanos, de membros do G-20, da Europa, de agências das Nações Unidas, de instituições de desenvolvimento e de empresas do sector, incluindo a francesa EDF e a centro-africana Enerca. Na declaração final do encontro, os participantes concordam quanto à “urgência de conseguir acesso universal a energia, ao desenvolvimento económico e à luta contra a mudança climática”, afirmou a ministra.
O Quénia será o anfitrião da próxima conferência da Iniciativa de Nairobi, em Fevereiro do ano que vem. Nessa ocasião serão avaliadas “acções tomadas para melhorar o clima de investimentos, criar novos mecanismos financeiros e lançar Projectos de Energia Limpa”, afirmaram os participantes.