As recentes pesquisas geológicas demonstram que Moçambique, Malawi e a Tanzânia possuem um enorme potencial para a produção de energia geotérmica, o que poderá ajudar a região da Africa Austral a reduzir consideravelmente a sua dependência na energia hidroeléctrica e combustíveis fósseis.
Segundo uma avaliação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) e da Global Environment Facility, existe um potencial para a produção de cerca de 4.000 Megawatts (MW) de electricidade nos países localizados ao longo da Vale do Rift, incluindo Moçambique. A semelhança de outras fontes renováveis tais como a energia solar, eólica e hidroeléctrica, a energia geotérmica oferece um potencial considerável em termos da mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.
“A energia geotérmica é 100 por cento natural, favorável ao meio ambiente e tecnologicamente há muito tempo que tem estado a ser sub utilizada”, defende Achim Steiner, director executivo do UNEP. Para Steiner, “já chegou a hora de resgatar esta tecnologia de forma a beneficiar as populações, estimular o desenvolvimento e reduzir a dependência nos combustíveis fosseis que são poluentes e imprevisíveis”.
Em Moçambique, a maioria das áreas propícias para a produção de energia geotérmica está localizada na região centro e norte. Aliás, a disponibilidade local de fluidos geotérmicos confirma a possibilidade de produção de energia eléctrica em pequena escala, mas a sua implementação efectiva ainda carece de estudos mais detalhados e, eventualmente, a execução de furos exploratórios. Já foram identificadas pelo menos 38 fontes de águas termais em Moçambique, a maioria das quais ao longo do Vale do Rift, a norte de Metangula, na província do Niassa, norte de Moçambique, onde e’ reportada a existência de água fervente nas proximidades do Lago Niassa.
Existem várias outras fontes de águas termais a uma temperatura de cerca de 60 graus centígrados que se encontram localizadas na região de Espungabera, província central de Manica, junto a fronteira com o Zimbabwe. Actualmente, apenas o Quénia está a explorar esta fonte de energia renovável ao longo do Vale do Rift, tendo estabelecido a meta de produzir cerca de 1.200 MW até finais do ano de 2015. Tendo como base as investigações preliminares, as actuais estimativas apontam para um potencial geotérmico de 650 MW na Tanzânia. Por isso, o governo tanzaniano está interessado no uso de centrais geotérmicas de pequena escala para a produção de energia nas regiões rurais, apesar de ainda não ter arrancado com o projecto.
A região geotérmica nas proximidades do Lago Natron, na Tanzânia, poderá permitir produção de energia eléctrica que vai abastecer a rede nacional de electricidade. No Malawi, já foram identificadas 21 fontes de águas termais na região de Chitipa-Karonga, numa área que se estende até Chipudze na região sul. Quase toadas as fontes de energia geotérmica conhecidas no país são do tipo convenção. A Africa do Sul, por seu turno, está relativamente bem posicionada na região da Africa Austral, tendo sido identificadas 87 fontes de águas termais, cuja temperatura varia de 25 a 67,5 graus centígrados.
Deste número 29 já foram desenvolvidas para uso directo, principalmente como locais de lazer, usando a água para efeitos de saúde. Considerando que o carvão é abundante e relativamente barato, as centrais térmicas continuam a ser a maior fonte para a produção de electricidade na Africa do Sul. Até num passado recente, pouca atenção havia sido dedicada a pesquisa de fontes de energia renováveis tais como a geotérmica. Recentemente, foi lançado um novo projecto na Africa do Sul que tem por objectivo investigar a viabilidade de produção de energia eléctrica usando um sistema binário de águas termais e granitos quentes. No Madagáscar, já foram identificados oito locais.
A França está a financiar um pré estudo de viabilidade de um protótipo micro – geotérmico, para a instalação de uma unidade para a produção de 50-100 KW de electricidade usando uma fonte geotérmica de baixa temperatura para abastecer as regiões mais recônditas. A Zâmbia já elaborou planos para a construção de unidades de produção de electricidade, mas os projectos estão suspensos devido a falta de fundos. O governo do Botswana já convidou as companhias interessadas à participarem num concurso para a provisão de serviços de consultoria, que inclui a realização de um pré estudo de viabilidade para a construção de uma instalação solar e geotérmica no país.
Não obstante a disponibilidade de um enorme potencial, a maioria da população Africana ainda é altamente carente, razão pela qual o UNEP está preparado para apoiar as pesquisas. Por isso, a African Rift Valley Geothermal Development Facility em parceria com o UNEP e o Banco Mundial vão apoiar a abertura de furos exploratórios para a identificação de mais fluidos termais nos países ao longo do Vale do Rift com início antes do final do corrente ano. Segundo Monique Barbut, presidente e directora executiva da Global Environment Facility, diz que “as pesquisas no Vale do Rift demonstram que a energia geotérmica não é só tecnologicamente viável, mas também economicamente viável em Africa, onde existe o potencial para a produção de pelo menos 7.000 MW.’
Enquanto isso, o Congresso Mundial Geotérmico a ter lugar em Bali, Indonésia entre os dias 25-30 de Abril corrente, será mais uma oportunidade para os países da Africa Austral manifestarem a sua intenção de explorar esta fonte de energia limpa e renovável. Uma fonte de água termal é uma nascente em que a água que dela emerge é aquecida pelo calor dissipado nas regiões vulcânicas ou pelo aumento da temperatura com a profundidade. Devido às temperaturas a que se encontram, as águas termais possuem um grande poder dissolvente, por isso, muitas delas são muito mineralizadas, tendo por isso valor medicinal e sendo utilizadas para tratamento ou prevenção de certas doenças.