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Acordo de última hora no Chipre fecha banco e força perdas

O Chipre chegou a um acordo de última hora com os seus credores internacionais para fechar o segundo maior banco do país e causar grandes perdas a depositantes não assegurados, incluindo russos ricos, em troca de um resgate de 10 bilhões de euros.

O acordo aconteceu horas antes do prazo final para evitar um colapso do sistema bancário em negociações difíceis entre o presidente do Chipre, Nicos Anastasiades, e chefes da União Europeia (UE), Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI).

Rapidamente endossado pelos ministros das Finanças da zona do euro, o plano irá poupar a ilha mediterrânea de um colapso financeiro ao fechar o estatal Banco Popular do Chipre, também conhecido como Laiki, e passar depósitos abaixo de 100 mil euros para o Banco do Chipre para criar um “banco bom”.

Os depósitos acima de 100 mil euros em ambos os bancos, que não são garantidos pela lei da UE, serão congelados e usados para solucionar as dívidas do Laiki e recapitalizar o banco do Chipre por meio de uma conversão de depósitos/acções. A incursão nos depositantes não garantidos deve levantar 4,2 bilhões de euros, afirmou o presidente do Eurogroup, Jeroen Dijssebloem.

O Laiki será efectivamente fechado, com milhares de empregos perdidos. As autoridades disseram que os detentores sénior de títulos no Laiki serão extintos e aqueles no Banco do Chipre terão que fazer uma contribuição.

Um porta-voz da UE disse que nenhuma taxa será imposta sobre depósitos nos bancos cipriotas, embora o golpe sobre grandes contas nos dois maiores bancos do país deva ser muito superior do que o inicialmente planeado.

Uma primeira tentativa de acordo, semana passada, fracassou quando o parlamento cipriota rejeitou a proposta de um imposto sobre todas as contas bancárias. Christos Stylianides, porta-voz do governo cipriota, disse que “evitamos uma falência desordenada que teria levado a uma saída do Chipre da zona do euro, com consequências imprevisíveis”.

Ele afirmou a uma rádio estatal que ainda não é possível estimar os prejuízos para correntistas não segurados do Banco do Chipre.

“A avaliação é de que será inferior a ou em torno de 30 por cento. Mas essa é uma estimativa um pouco arbitrária”. O ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schaeuble, disse que os parlamentares cipriotas não precisariam de aprovar o novo esquema, pois já promulgaram uma lei estabelecendo os procedimentos de resolução bancária.

Lefteris Christoforou, vice-presidente do partido governista Comício Democrático, disse que o importante é que o Chipre evitou uma bancarrota caótica. “É um mau acordo, mas o cenário extremo com o qual teríamos de lidar era pior”. Afxentis Afxentiou, ex-presidente do Banco Central, acrescentou: “É um novo dia para o Chipre (…), acredito que em dois ou três anos o Chipre vai ficar de pé”.

Uma fonte graduada em Bruxelas disse que Anastasiades chegou a ameaçar renunciar, Domingo, se fosse pressionado a ir longe demais. Ele deixou a sede da UE sem fazer comentários.

O conservador Anastasiades, que está há cerca de um mês no cargo e enfrenta a pior crise no Chipre desde a invasão turca de 1974, foi forçado a recuar nos seus esforços para blindar grandes correntistas.

Os diplomatas dizem que o presidente estava empenhado em preservar o modelo de negócios do país como um centro financeiro “offshore”, atraindo enormes quantias de russos e britânicos ricos. A UE e o FMI exigiram que o Chipre levantasse 5,8 bilhões de euros do seu sector bancário para o seu próprio resgate financeiro, em troca de 10 bilhões de euros em empréstimos internacionais.

O chefe do fundo de resgate da UE disse que o Chipre deve receber em Maio a primeira verba de emergência.

Confiança

A directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, disse que o acordo é “um plano abrangente e confiável”, que lida com o problema central do sistema bancário. “Esse acordo oferece a base para restaurar a confiança no sistema bancário, que é a chave para amparar o crescimento”, disse ela em nota.

Com os bancos fechados na última semana, o banco central cipriota impôs um limite de 100 euros para saques em caixas electrónicos dos dois principais bancos, para evitar uma fuga de depósitos. Entre os cipriotas comuns, havia um clima de desconfiança com o acordo.

“Quanto tempo irá durar?”, questionou Georgia Xenophontos, 23 anos, recepcionista de hotel em Nicósia. “Por que alguém deveria acreditar em algo que esse governo diz?”.

O sector bancário do Chipre, com activos oito vezes maiores do que o tamanho da economia, foi prejudicado pela exposição à Grécia.

Sem um acordo até o final desta Segunda-feira, o Banco Central Europeu (BCE) disse que cortaria os fundos de emergência aos bancos, potencialmente levando o país a deixar a zona do euro.

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