Ainda sob sério risco de extinção e apesar das guerras numa das regiões mais instáveis do planeta, os primatas do Congo registam aumento de população.
Nem tudo está perdido na República Democrática do Congo. Mesmo após anos de guerra civil, que resultaram na morte de quatro milhões de pessoas desde 1998, os cientistas anunciaram recentemente o aumento da população de um grupo de gorilas do país – anteriormente chamado Zaire e vizinho da República do Congo.
O gorila de Grauer, uma das quatro raças desse primata existentes na natureza, é um parente próximo do gorila-das- -montanhas. O “primo famoso” comoveu o mundo em 2007, quando sete animais foram assassinados por homens ligados ao tráfico de carvão no país.
A equipa que realizou o censo dos primatas foi liderada pelas organizações conservacionistas internacionais Wildlife Conservation Society e Institut Congolais pour la Conservation de la Nature (ICCN), no Parque Nacional Kahuzi-Biega. A população, que era de 168 indivíduos em 2004, aumentou para 181, de acordo com contagem realizada no segundo semestre do ano passado.
O Grauer é a maior raça – ou subespécie – de gorila do mundo » pesando mais de 220 quilos. Ainda assim, é a menos conhecida pela ciência, em grande parte por culpa da mais de uma década de instabilidade política na parte leste da República Democrática do Congo. O animal é classificado como “ameaçado” na Lista Vermelha de Espécies em Perigo da International Union for Conservation of Nature (IUCN) e a sua população é estimada em menos de quatro mil indivíduos.
“Tomando em conta que a segurança no país se está a estabilizar a presença de pequenos grupos armados em algumas áreas do parque foi um dos nossos maiores desafios”, afirmou Deo Kujirakwinja, coordenador da pesquisa, “A estratégia foi utilizar equipas que cobriam grandes áreas em tempo limitado, mas colectavam dados em segurança, em colaboração com o Exército”, conta.
Entre 1998 e 2003, período da guerra civil – e mesmo antes disso –, a situação política do país afectou directamente os gorilas, dadas as precárias condições para o trabalho de conservação. Era impossível evitar a invasão do território dos primatas por guerrilheiros de diferentes facções.
“A melhoria da segurança no leste do país tem aumentado a presença de guardas na floresta”, diz Kujirakwinja. “Eles estão a cobrir mais áreas actualmente. Antes, os soldados limitavam- se a apenas uma parte do parque.” O censo pesquisou uma área de 600 quilómetros quadrados na parte alta do Parque Nacional Kahuzi-Bicga, o sector mais baixo, praticamente inacessível aos pesquisadores, graças à frequente presença de milícias.
Para estimar a população na área, os cientistas fizeram a contagem de ninhos – os primatas constroem um por noite – e analisaram o tamanho das fezes próximas de cada um deles. Essa observação indica quantos adultos, jovens e filhotes existem num grupo.
A Wildlife Conservation Society monitora as regiões de primatas desde os anos 1950, quando o biólogo George Schaller pesquisou pela primeira vez a distribuição dos primatas que mais tarde seriam classificados como gorila de Grauer e gorila das montanhas. Desde então, a população dos animais aumentou, até que um grande declínio ocorreu no início dos anos 2000, com a eclosão da guerra civil.
A reviravolta na situação dos primatas é um alento para a trágica situação da República Democrática do Congo. Apesar dos dez anos de presença da ONU e dos biliões de dólares gastos para estabilizar o país, a população continua desprotegida. Ainda assim, os soldados das Nações Unidas são considerados a última linha de defesa numa terra em que as Forças Armadas e a polícia possuem uma longa história de abusos. Que os gigantes sirvam de inspiração para a sobrevivência da nação.