Numa autêntica inovação – e em resposta à demanda cada vez mais exigente dos serviços turísticos nacionais – o Instituto Superior Dom Bosco introduziu, este ano em Maputo, o curso de bacharelato em serviços de garçons de bar, restaurantes e catering. Surpresa: a turma experimental de 32 estudantes está lotada, deixando de fora centenas de outros candidatos que só ingressarão em 2010!
Era ainda princípio de Fevereiro último e, nas páginas da imprensa, o País estava em brasa, vítima da febre de anúncios e propagandas de “caça” a candidatos a futuros doutores. Mas, dentre centenas e tantos, só um surpreendeu pela positiva tanto é que o Instituto Superior Dom Bosco, ISDB – erguido das ruínas da antiga Maquinag, um monstro que por longos anos adormeceu ali nas bermas da EN4 – anunciava a introdução de algo até hoje estranho na nossa praça académica: o curso de hotelaria e restauração, com especialidade de bacharelato em ensino de serviços de mesas e bar.
A surpresa, afinal, não se encerra aqui: bastava passar no teste de português e geografia – não vá o nosso garçon dar-se ao luxo de ferir a gramática diante de um turista ou comensal de gostos refinados e muito menos desconhecer o mapa turístico, pelo menos o nacional. O custo de inscrição, esse, é como chamar abelha a uma flor cheia de néctar: 350 meticais, contra cerca de 2.500 a 5.000 meticais praticados noutras faculdades!
Nesse caso, bastará os candidatos cumprirem 3 anos para que lhes seja conferido o almejado canudo de bacharéis. Será, então, a partir dessa altura que eles viverão de aventais e galochas – sapatos de pé alto que protegem eventual humidade – cultuarão chef e frequentarão restaurantes e snack-bars com olhar de especialistas. Adorarão o cheiro da cozinha e as cores das mesas e jamais conseguirão ficar muito tempo distante delas – ainda que quisessem.
Em meio e tantas coisas, esse novo curso também chama à atenção pelo surpreendente número de candidatos: entre pouco mais de uma centena de novos aspirantes a doutores, o de garçons – serviço de bar, catering e de mesa – é um dos cursos mais concorridos naquele estabelecimento de ensino superior inaugurado a 19 de Setembro passado pelo Presidente da República e ostenta o nome do não menos santo Bosco: as 32 vagas estrategicamente programadas para esta fase experimental foram ocupadas num ápice!
Mas, como o @VERDADE apurou na secretaria do ISDB, o que também os distingue de outros cursos superiores, afinal, são as aulas nas quais os alunos aprenderão noções básicas de contabilidade, logística e marketing, fundamentais para quem começa um negócio de género a partir de zero e pela primeira vez na vida.
O interesse despertado pelos donos da faculdade (incluindo os jovens universitários que mal sabem fritar um ovo) deve-se ainda a um novo “status” conferido à gastronomia no País ao longo das últimas décadas: panelas e facas deixaram de ser associados a uma tarefa enfadonha reservada às donas-de-casa para se tornarem objectos de cobiça e diversão pelos quais se pagam fortunas.
Mas, o que motivou tantos jovens a fazer essa “estranha” escolha diante de tantas opções? Além de algum apreço à culinária e uma alta tolerância às mazelas da cozinha, eles seguem esse caminho respaldados por um dado bastante promissor sobre o mercado: com o crescimento do sector turístico nacional – e da indústria hoteleira – a maioria se graduará com um ou mais empregos garantidos. É um choque contra a média dos cursos superiores ministrados mesmo nas mais antigas e históricas universidades nos quais a percentagem de estudantes que recebem propostas de emprego às vésperas da graduação (mesmo dos cursos como Direito, Economia, Agronomia ou Relações Internacionais) se conta com os dedos da palma de uma mão!
Mas também há outra explicação: impulsionados pelos bons números de economia, os mentores do ISDB descobriram que, inculcados por um fenómeno típico de cidades como Maputo em que seus habitantes já cultivaram o âmbito de comer fora de casa com mais frequência, Moçambique turístico já é um mercado em crescendo.
O prestígio da cozinha
Boa parte da população ainda pensa que trabalhar nessa área é divertido, engraçado ou tranquilo. Contudo, sem deixar de admitir que existe um grande prazer em exercer essa actividade, é sensato sublinhar que a história é bem diferente: enquanto o turista se diverte, degusta e aproveita os seus momentos de descanso, o bacharel em turismo, trabalha(rá) para que o turista tenha o melhor tratamento e serviço possíveis. E, certamente, tornar-se chef de cozinha ou de mesa não é tão fácil como parece. Nem tão glamouroso, mas o curso é decisivo para se conseguir um posto e funciona como porta de entrada para o complicadíssimo mercado de emprego.
Embora em alguns dos melhores restaurantes da capital, os chef não tenham passado pela sala de aulas de uma faculdade, nos escalões mais baixos, então, os bacharéis começarão a ser numerosos. A maioria deles entrará, sem dúvida, como estagiária.
E, só depois de sobreviver a concorrência semelhantes às que ocorrem nas multinacionais, se tornarão mestres de serviços de bar, mesa e catering!
Apesar de parecer recente, a nova visão e estratégias que são uma aposta do Governo inspirou, de certa maneira, o ISDB e tem os seus fundamentos estabelecidos pelo Governo nos tempos idos, quando transformou a então Secretaria Estado do Turismo (adstrita ao então MInistério da Indústria e Comércio) em Ministério do Turismo.
Até 2010, camarada Tcheco!
Muitos também procuram o curso superior de bar-man e de mesa sonhando um dia abrir um restaurante próprio. Porém esse é, por enquanto, um sonho adiado por mais um ano para o jovem candidato Filipe Tcheco, 23 anos, que encontrámos à entrada do ISDB. Estava amargurado porque não pôde matricular-se para este ano porque a turma experimental está lotada . “ Só para o ano”, disse, escondido num misto de tristeza – por não poder fazer parte desse grupo pioneiro do curso – e também de esperança porque lhe garantiram que, se ainda sonha ser futuro professor ou gestor de serviços de garçon, tem de ter cautela e acatar o aviso já dado: inscrever-se a 7 de Dezembro próximo, data em que arrancam as inscrições para as vagas de 2010!