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A velocidade e a competição

A primeira competição automóvel teve lugar em 1884, promovida pelo jornal “Le Vélo”. Disputou-se entre Paris e Bordéus, e o regulamento era muito liberal, dizendo que “qualquer modelo é aceite, desde que ande”

Os últimos anos do século XIX correram a um ritmo alucinante, marcado pelo desenvolvimento da nova invenção – “as carruagens sem cavalos” – que alguns já apelidavam de automóvel. A França e a Alemanha lideravam esta corrida, motivando a nobreza e a alta burguesia. Ao mesmo tempo que se deixavam cativar pelo veículo, encontravam um novo desporto que podia ser uma alternativa às corridas de cavalos que faziam o “chic” da Europa, como é perfeitamente descrito por Eça de Queiroz quando refere o hipódromo de Belém n’ “Os Maias”.

A primeira competição automóvel surgiu em França, o país que fora dotado com uma das melhores redes viárias pelo Império Napoleónico, que necessitava de mobilidade para deslocar as suas tropas, a exemplo do que na Antiguidade havia feito o Império Romano para as suas legiões. Em 1884, o jornal “Le Vélo” promoveu uma corrida entre Paris e Bordéus, com um regulamento muito liberal, que dizia que “qualquer modelo é aceite, desde que ande”.

Mas a primeira verdadeira corrida foi organizada pelo conde Albert de Dion, um aristocrata apaixonado pelos automóveis, e também ele um construtor. Segundo as crónicas, na época circulavam em França 350 automóveis e foi neste cenário que Dion fundou, em 12 de Novembro de 1885, o “Automobile Club de France” (ACF), em conjunto com o barão Zuylen de Nyevelt e Paul Meyan, redactor-chefe do jornal “La France Automobile”. Foram eles que nesse mesmo ano promoveram a corrida Paris-Bordéus-Paris, numa distância de 1178 km, que teriam de ser percorridos, sem paragens, num limite de 100 horas.

A vitória de Levassor

Esta foi a primeira verdadeira corrida. Pelo menos, a primeira com uma cronometragem oficial e um regulamento elaborado. A partida foi dada no dia 11 de Junho de 1895 e, dois dias depois, Emile Levassor reivindicou a vitória com o modelo de sua autoria, animado por um motor Daimler-Phoenix, que cumpriu o percurso a uma média de 24 km/h.

É certo que, apesar do impacto do automóvel na sociedade europeia, ele ficou algo esquecido durante a Grande Exposição Universal de Paris em 1899, devotada à Ciência e Tecnologia, embora num canto do Grand Palais 4500 veículos e 10 mil motociclos marcassem o arranque imparável da motorização. Ao mesmo tempo, a loucura da velocidade era um fenómeno crescente. Depois do Paris-Bordéus-Paris, surgiram outras competições entre cidades (Paris-Trouville; Paris-Rambouillet; Paris-Toulouse; Paris-Ostende; Paris-Amesterdão, Paris-Berlim; etc.). Tudo se passava muito rapidamente e, no Paris-Viena de 1902, Marcel Renault venceu com o Renault modelo K de 4 cilindros e 24 cv, a uma média de 60 km/h.

O aumento do número de concorrentes e a rápida evolução dos automóveis levava a desafios cada vez mais arrojados. Foi assim que, em Maio de 1903, surgiu o Paris-Madrid, uma verdadeira maratona que iria utilizar estradas que, em muitos casos, eram caminhos ou veredas.

Tragédia no Paris-Madrid

Cerca de 250 concorrentes alinharam à partida, mas logo no início os acidentes com veículos de tracção animal, animais domésticos e até camponeses, anunciaram o drama. Depois de seis mortes e 15 feridos, o Governo francês interrompeu a corrida. Entre os pilotos que perderam a vida, estava Marcel Renault, e o seu irmão Louis decidiu abandonar a competição, deixando a outros a tarefa de guiar os seus carros.

No ano em que os irmãos Wright conseguiram fazer voar o seu biplano Flyer I durante 59 segundos numa distância de 260 metros, foi equacionada a forma de competir com automóveis. É certo que continuaram a ser disputadas provas de estrada que são hoje vistas como os antepassados do Campeonato do Mundo de Ralis. Mas também começaram a ser organizadas corridas em circuitos fechados, que viriam a dar lugar aos Grand Prix que estão na origem da Fórmula 1 (que surgiu depois da II Guerra Mundial), bem como a provas de resistência, como as 24 horas de Le Mans, que surgiram em 1923 como um desafio aos automóveis de série.

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