O presidente moçambicano, Armando Guebuza, sustenta que, numa primeira fase, a pobreza se manifesta no estado de espírito de cada pessoa. Guebuza, respondia a uma questão colocada pela AIM, pelo facto de a maioria dos residentes convidados pelo estadista moçambicano a se pronunciarem, durante os comícios populares por ele orientados, apresentarem os seus problemas pessoais, ao invés de propostas para a gestão do Fundo de Investimento de Iniciativas Locais, vulgo “Sete Milhões de Meticais” e propostas para acelerar o desenvolvimento dos seus distritos e acabar com a pobreza.
Acelerar o combate à pobreza é um dos objectivos da presente Presidência Aberta de Guebuza. “Isso mostra exactamente que a população entende o que é a pobreza. A pobreza manifesta-se primeiramente no estado de espírito. Para uma pessoa poder acabar com a pobreza tem que ter um estado de espírito rico”, explicou Guebuza, que falava durante uma conferência de imprensa, em Metoro, distrito de Ancuabe, cerca de 80 quilómetros de Pemba, capital de Cabo Delgado, norte de Moçambique, e que marcou o fim de uma visita de cinco dias a esta província.
Segundo Guebuza, as pessoas querem sentir-se livres de se exprimir à vontade e de contribuir para o seu desenvolvimento. Por isso, sempre que tiverem um problema grave, por exemplo a falta de emprego, ou um outro que carece de uma solução, as pessoas devem apresentar as preocupações que as afligem. Para Guebuza, os problemas pessoais e de d e s e n v o l v i m e n t o complementam-se. “Aqui, não se pode falar em termos de hierarquia de problemas, pois estes problemas complementam-se” disse Guebuza, para de seguir acrescentar “aqueles que apresentam os problemas em termos de estratégia e planificação de desenvolvimento e os que apresentam os seus problemas pessoais estão a abordar exactamente a mesma questão, ou seja o combate a pobreza”.
Comentando sobre a sua visita a Cabo Delgado, Guebuza disse sentir-se mais estimulado pelo facto de ter constatado um grande sucesso no trabalho desempenhado pela população e dos quadros do governo nesta província. Guebuza reconhece que vai regressar a Maputo com muitas preocupações que partilhou com a população e dirigentes desta província, entre as quais se destaca o processo de descentralização. “A descentralização é um caso que regista problemas de uma ponta a outra, ou seja, desde as estruturas centrais até a base e da base às estruturas centrais”, disse Guebuza.
Contudo, explicou, quando o processo de descentralização chegar a uma fase mais avançada vai determinar até que ponto que o desenvolvimento moçambicano é endógeno, bem como a sustentabilidade do desenvolvimento económico e social de Moçambique. “É precisamente isso que nos preocupa em particular, apesar de sentirmos que houve muitos avanços. Nos distritos já temos muitos fundos que são geridos a nível local”.
Por isso, segundo Guebuza, o governo pretende estimular uma maior capacidade a nível dos distritos para que sejam eles próprios a resolverem os seus problemas antes de pensarem em ir para as províncias e estruturas centrais. Para o efeito, os distritos devem ter a capacidade de usar os recursos e mecanismos estabelecidos por lei. O conflito Homem-Animal foi outra questão abordada pelos jornalistas presentes na ocasião.
Sobre o assunto, Guebuza explicou que “estatisticamente reduziu o número de vítimas, mas nós (governo) vamos continuar a trabalhar para acelerar o processo de redução e eliminação. Temos que encontrar uma forma de resolver o problema, as pessoas continuam a morrer quando não deviam”. O desempenho da Polícia de Moçambique (PRM), é um dos problemas abordados pela população em todos os comícios dirigidos pelo estadista moçambicano.
Contudo, Guebuza manifesta o seu optimismo afirmando ser positivo que as populações denunciem todas as irregularidades e excessos cometidos pelas forças de manutenção da lei e ordem. “É muito bom que isso aconteça mesmo quando se trata de autoridades policiais”, defende Guebuza, explicando que as estratégias desenhadas pelo governo já estão a produzir resultados. “Isso mostra que ainda temos um longo caminho por percorrer, que passa pela formação, actualmente em curso e uma maior disciplina.
Também passa por criar melhores condições materiais e financeiras para os nossos polícias”, disse Guebuza. Com relação a denúncias feitas no distrito de Palma, de que alguns cidadãos estariam a ser escorraçados de algumas ilhas, Guebuza disse que o governo já está a investigar para apurar aquilo que de facto se teria passado. “Não é admissível que moçambicanos sejam corridos sem nenhuma explicação. Na pior das hipóteses se esses moçambicanos aceitarem sair sob pressão do Estado, então deveriam ser indemnizados”, disse Guebuza.
Outro aspecto que espevitou a curiosidade dos jornalistas, é o facto de a delegação presidencial integrar como convidados alguns embaixadores estrangeiros, sendo no caso vertente o embaixador da Espanha, do Egipto e os encarregados de negócios da França e Zâmbia. Guebuza explica ser importante que estes diplomatas entendam a situação do país, para que eles tenham a possibilidade de melhor compreender posições de Moçambique.
O estadista moçambicano conclui a sua intervenção, explicando que a Anadarko, multinacional norte americana do petróleo, prossegue as suas actividades de acordo com plano inicialmente acordado. “Mas ainda falta muito em termos de resultados concretos. Contudo, eles estão satisfeitos”, disse Guebuza, para de seguida rematar “eu só vou ficar satisfeito quanto tiver os resultados que eu e muitos moçambicanos esperamos, ou seja a descoberta de gás natural e petróleo. Mas também se for apenas um dos dois também já não é mau”, concluiu.