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‘@Verdade EDITORIAL: A nossa cortina de burrice

Indubitavelmente, nós, como um povo, perdemos o espírito voluntário e mergulhamos numa profunda e alienante cultura que se caracteriza por não adesão ao movimento social que não nos traz benefícios – pecuniários – imediatos ou mesmo a curto ou longo prazo.

Embora tenha falhado, não aprendemos quase nada do sistema socialista que Moçambique abraçou nos primeiros anos da sua reconstrução como uma nação independente e livre do jugo colonial.

Talvez se possa dizer que faltou uma educação cívica sobre a economia do mercado quando adoptámos o capitalismo, prevalecendo a ideia falaciosa segundo a qual o dinheiro é a única solução para todos os problemas da nossa sociedade, lançando-se, assim, para a lata de lixo o sentido de ajuda mútua, união e trabalho comunitário no seio da população.

Hoje em dia, poucos são os moçambicanos, senão nenhum, que se predispõem a fazer trabalho voluntário para o bem-estar da sua comunidade ou mesmo do seu país. E a desculpa é a mesma de sempre: somos um país pobre, somos um povo acometido pela desgraça, ou seja, uma população que sente na pele a ditadura da miséria todos os dias, e precisamos de ganhar dinheiro para o sustento diário em tudo o que fazemos, como se isso fosse um problema exclusivo de Moçambique.

Muitas vezes, no imaginário colectivo dos moçambicanos, esse comportamento também se justifica pelos altos índices de analfabetismo, desemprego, custo de vida e por sermos um país subdesenvolvido.

Até certo ponto há uma réstia de verdade nessa tese, mas, diga-se em abono da verdade, essa não é uma justificação plausível para o nosso espírito de apatia, indiferença e pensamento mercantilista em relação aos males que afligem a comunidade da qual fazemos parte.

Enquanto nos diversos países de África nascem movimentos sociais para provocar mudanças no seio da comunidade, nós fazemos o caminho inverso, apostando na mentalidade do atraso. Eis a nossa cortina da burrice!

A título de exemplo, em Moçambique, grande parte das associações ou organizações, aparentemente sem fins lucrativos, é criada com o objectivo de garantir uma vida folgada para os seus membros fundadores e não necessariamente para o bem-estar das comunidades e a sociedade em geral.

África de Sul, Quénia, Etiópia, Nigéria, Mali, Malawi, Tanzânia e Botswana são alguns dos exemplos de países africanos onde a participação voluntária dos cidadãos na mudança do status quo das comunidades locais, usando as redes sociais, cresce a um ritmo impressionante, levando-nos a reflectir sobre o tipo de sociedade que pretendemos construir em Moçambique.

Na cimeira sobre “Media Cidadã” realizada nos dias 2 e 3 do mês em curso na capital queniana, Nairobi, várias foram as experiências de sucesso apresentadas pelo país anfitrião e pelo Mali, onde os cidadãos estão a tomar a dianteira no espaço online, exigindo melhorias de vida, criticando a actuação dos gestores públicos, e forçando o Governo a responder às necessidades do povo.

Macaqueamos hábitos ocidentais a que assistimos nas telenovelas, videoclipes e filmes, mas temos dificuldades em aprender com a experiência dos nossos vizinhos.

Não será esta uma das razões que nos isola do resto do mundo como uma nação? Não estaremos a empurrar o nosso país para o abismo com essa mentalidade capitalista selvagem? Será possível construirmos uma nação decente quando a única coisa que nos move é o dinheiro?

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