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A morte lenta da população próxima à lixeira de Hulene

A morte lenta da população próxima à lixeira de Hulene

Os habitantes que residem ao redor da lixeira de Hulene, a maior e única na capital moçambicana, mas já sem espaço para acolher os detritos da capital do país , respiram ar impuro contaminado pelo fumo resultante da queima indiscriminada de resíduos sólidos. Há um exército inesgotável de ratazanas, moscas e mosquitos que infesta tudo naquela zona e arredores. A morte dá-se paulatinamente há anos perante uma aparente despreocupação do Conselho Municipal de Maputo, a quem os munícipes pagam impostos para usufruírem de uma vida com qualidade; porém, não é o que acontece.

Há pelo menos dez anos que a edilidade tem estado a fazer promessas de encerrar aquele sítio de deposição de lixo com vista a devolver aos moradores a saúde de que não gozam, mas até aqui tudo não passa de palavras. O processo que dará fim àquela lixeira ainda está em “banho-maria”. Está previsto que o encerramento da lixeira de Hulene aconteça até 2016, segundo o plano de actividades do município.

Em 2013, depois de muitas promessas falhadas, o município de Maputo e o Fundo do Ambiente (FUNAB) voltaram a encher os moradores daquela zona de esperança, anunciando encerrar definitivamente o espaço. Outra vez, nada aconteceu! O problema que apoquenta os residentes de Hulene prevalece.

Na altura, Júlio Parruque, técnico do FUNAB, disse a um jornal da praça que tinha sido rubricado um memorando de entendimento entre o Governo moçambicano e os sul-coreanos, os quais prometeram disponibilizar cerca de 60 milhões de dólares para a construção de um aterro sanitário para os municípios de Maputo e Matola. A infra-estrutura estaria situada em Matlhemele. Previa-se que no princípio de 2014 fosse rubricado o acordo de financiamento, o que não ocorreu.

Falar da lixeira de Hulene, do cheiro nauseabundo, das ratazanas, das moscas e de outros insectos que ali abundam não constitui, evidentemente, nenhuma novidade. Os habitantes de Hulene e Laulane queixam-se de outros males que também não constituem novidade: malária, cólera, diarreia e entre outras enfermidades que neste tempo chuvoso eclodem em consequência da deterioração das condições de saneamento do meio ambiente.

António Chirindza vive no bairro de Laulane, quarteirão 60. Segundo ele, em contacto com o @Verdade, aquela lixeira tem problemas que parecem não ter fim. O fumo resultante da incineração descontrolada dos resíduos sólidos entra em contacto directo com os moradores. A situação é de tal sorte insuportável que as pessoas passam a maior parte do tempo dentro das casas.

Estudos realizados por organizações não-governamentais que actuam em defesa do meio ambiente, denunciaram, no passado, que a lixeira de Hulene está mal localizada, causa doenças respiratórias e cólera à população circunvizinha. Há um grande risco de se contrair enfermidades cancerígenas.

Vanessa Fernando, reside no bairro de Hulene, quarteirão 78, disse-nos que o mau cheiro resultante da acção acima referida é a principal causa da tosse e de problemas relacionados com a visão. Neste tempo chuvoso, as diarreias têm sido comuns. “Por vezes, o lixo invade as nossas casas, principalmente quando a edilidade leva dois a três meses sem proceder à sua compactação”.

O chefe do quarteirão 77 no Hulene, António Matias, reagiu à nossa Reportagem nos seguintes termos: “O problema atingiu proporções alarmantes; por isso, sempre que o município de Maputo ergue o muro de vedação este facilmente desaba por causa da quantidade de lixo que é depositado. Consequentemente, uma parte desses resíduos sólidos é arrastada para as residências.

António Matias denunciou uma situação relacionada com o facto de determinadas pessoas, supostamente da edilidade, exigirem dinheiro para compactarem o lixo que se encontra nas proximidades das habitações no sentido de se transpor a área destinada à sua deposição.

O nosso interlocutor disse que os moradores da sua zona já desembolsaram três mil meticais para o efeito, mas esta medida não passou de sol de pouca dura porque mais ninguém desembolsou fundos para tal procedimento.

Rui Mirira, da Livaningo, uma organização não-governamental de advocacia e educação ambiental, desenvolvimento sustentável e justiça social, disse-nos que a lixeira de Hulene, a céu aberto, constitui um grave problema de saúde pública, porque liberta dioxina, um composto orgânico altamente tóxico (C4H4O2) e principal causadora de doenças cancerígenas e respiratórias.

Ademais, ela contribui para a alteração e contaminação do meio ambiente devido ao fumo resultante da incineração indiscriminada do lixo. Os lençóis de água subterrânea e os poços estão em risco. As pessoas estão a morrer aos poucos à medida que inalam o fumo, pois há uma degradação do sistema imunológico, entre outros malefícios.

Sobre este assunto, o @Verdade procurou ouvir a edilidade mas ninguém se mostrou disponível para se pronunciar, alegadamente porque a pessoa indicada para tal se encontrava fora da província de Maputo.

Entretanto, no seu plano de actividades para este ano, o município diz que vai “prosseguir com o processo de criação das condições para a implantação do aterro sanitário e encerramento da lixeira de Hulene até 2016”.

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