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A moageira da salvação

A moageira da salvação

Há 21 anos, os moradores do bairro Acordos de Lusaka, no município da Matola, tinham de percorrer longas distâncias para moerem cereais. Presentemente, o problema é um assunto ultrapassado, graça à iniciativa (empreendedora) de Neto Manuel, que colocou a sua moageira ao serviço da comunidade.

 

 

Antigamente, os moradores do bairro Acordos de Lusaka precisavam de caminhar pelo menos quatro quilómetros para chegar até à moagem mais próxima. A viagem era sempre um martírio, pois, por falta de transportes, as pessoas eram obrigadas a carregar na cabeça sacos de 50 ou mais quilos de cereais.

O sofrimento por que passavam os residentes levou José Neto Manuel, de 56 anos de idade, a esboçar um projecto de investimento para ter acesso ao financiamento bancário. Transcorria o ano de 1989.

Um ano depois, obteve o crédito. “Já não me recordo do valor que me recebi. O que posso assegurar, é, do montante, levei 2.450 meticais para comprar uma máquina de moagem sem o motor. Tive de acrescentar 500 meticais para adquirir um motor de 30 cavalos”, conta.

Neto Manuel é natural da província de Maputo, e reside, presentemente, no bairro Acordos de Lusaka. Casado, ele é chefe de um agregado familiar constituído por seis pessoas.

Quando adquiriu a moagem na década 90, vivia algures na cidade de Maputo, local onde não havia condições para instalar a sua moageira. Por uma razão: “Nas zonas urbanas não há cultura de recorrer- se a uma moagem para moer os cereais. As pessoas preferem comprar farinha de milho já preparada a adquirir o cereal, pilar e depois transformá-lo”.

Essa foi também uma das razões que o levaram a instalar-se em Acordos de Lusaka para desenvolver o negócio. “Tratei todos os processos burocráticos junto ao Conselho Municipal da Cidade da Matola para a aquisição do espaço. E concederam-me a licença felizmente”, diz. Neto Manuel não só aliviou o sofrimento dos residentes daquela zona como também o de moradores dos bairros circunvizinhos e de Marracuene, Boane e Matola-Gare.

O número de pessoas à procura da sua moageira cresce todos os dias porque Manuel aposta na publicidade da mesma. No cruzamento da longa Avenida 4 de Outubro e a Rua Johane Malate, duas placas com dizeres “Moagem de cereais” sobressaem aos olhos.

“Sinto-me muito feliz por servir a população. Como a alimentação não tem feriado, eu também não paro de trabalhar, a moageira funciona todos os dias”, afirma.

Desde 1990 a máquina de processamento de cereais de Neto Manuel nunca avariou, facto que se deve à manutenção periódica. “A minha moageira com mais de 20 anos de funcionamento, nunca parou devido a uma avaria. Processa todo o tipo de cereal, começando pelo milho húmido e seco, mapira, feijão nhemba e manteiga, ervilha, passando pelo trigo em grão, massas esparguete e cotovelo, farinha tapioca até o amendoim, arroz e até mandioca seca”, diz.

Ele controla e maneja pessoalmente a moagem. Raras vezes, os filhos operam. “Ensinei quase todos os meus filhos os passos que devem seguir para pôr a máquina em funcionamento. Na minha ausência, eles fazem o trabalho”, diz.

Quando os clientes trazem cerais para serem moídos, antes de colocar-se no funil para o processamento, faz-se uma vasculha rigorosa do produto de modo a certifi car-se se contém ou não alguns objectos como ferro ou pedras.

Clientes exigem mais

Segundo Manuel, os clientes não se conformam só com a máquina de moagem ao seu serviço, eles querem uma de descasque do milho. Como forma de subscrever à exigência, afi rma que “na verdade há pessoas que não conseguem pilar o milho por falta de tempo. Nos últimos dias, tenho estado a envidar esforços para comprar uma máquina do género, embora até agora não saiba quanto custa”, diz e acrescenta que poderá recorrer ao Fundo de Investimento de Iniciativas Locais, vulgo “sete milhões” para materializar a ideia.

A moageira de fabrico local e com um motor de 30 cavalos consome bastante energia eléctrica. Há cada três dias, Neto Manuel tem de despender pelo menos 300 meticais. Ou seja, em média, ele empreendedor gasta nove mil meticais por mês.

“Esta máquina é grande em termos de potência, o que se podia esperar de um motor de 30 cavalos, que até põe todo o quintal a estremecer em como se de um pequeno abalo sísmico se tratasse. Já não aguento com este elevado consumo de energia, como se isso não bastasse, os preços de moagem dos diferentes tipos de cereais que pratico não compensam os custos de funcionamento da máquina”, lamenta.

Ganhar pouco e gastar muito

Quando Neto anuncia uma ligeira subida dos preços, os clientes não querem saber disso, sem papas na língua, reclamam. “Por mim, faria preços mais baixos possíveis, mas não posso devido aos custos que esta máquina acarreta. Para não atiçar os ânimos dos meus clientes, reduzi o preço”, afiança.

Por dia, em média, Manuel amealha 300 meticais diários. Mas há vezes que se torna difícil obter esse valor devido à ausência de clientes. Feito as contas – electricidade e acessórios para a máquina -, o negócio deixou de ser rentável para o proprietário da moageira, uma vez que gasta mais do que ganha.

Trabalho que depende da colheita

As condições climatéricas não só afectam, por exemplo, a produção agrícola, as processadoras de cereais também são vítimas.

Na sequência das cheias de 2000 e secas subsequentes que devastaram e comprometeram muita produção agrícola no país, a moageira de Neto Manuel andava às moscas, pois poucas eram as pessoas que apareciam com cereais para serem processados. Uma boa campanha agrícola influencia positivamente no funcionamento das moageiras e outras indústrias de agro-processamento.

“Quero apostar em mais moageiras”

José Neto Manuel quer instalar mais moageiras na Matola. “As pessoas não podem ficar sem consumir os cereais por falta de processamento. Não gosto de ver as pessoas a morrerem a fome. Vou continuar a servir cada vez mais os meus compatriotas”, garante.

A moagem tem a capacidade de moer 40 quilogramas de qualquer tipo de cereal de uma só vez, o tempo ou duração de processamento depende do tipo de cereal, mas não excede 30 minutos.

No entanto, para Neto Manuel, agora a prioridade é comprar uma máquina de descasque de milho, que poderá benefi ciar muitas pessoas, sobretudo aquelas que por falta de tempo não podem fazê-lo.

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