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A magia transportada pelas faces do cubo

A magia transportada pelas faces do cubo

Todo o mistério deste livro começa com uma discussão entre mãe e filho sobre o destino de uma neta ainda por nascer. A começar pelo nome: Thokozane! Na verdade, cito: “A tua esposa dará à luz uma criança do sexo feminino a quem chamarão Thokozane. Será uma mulher poderosa, dirigirá homens, dominará a sabedoria do branco, dominará também a arte da cura dos males do corpo e da alma que enfermam o mundo”.

Mais ainda: “Não casará, se o fizer, esse casamento não perdurará porque ela será esposa dos espíritos por eleição natural.”

Ao iniciar a sua obra com este ensejo, o autor coloca-nos diante de uma perigosa ribanceira: ou descemos, ladeira abaixo, em segurança, para nos confrontarmos connosco próprios, ou ficamos no sopé da montanha contemplando a paisagem como se nada fosse connosco.

O autor coloca-nos perante ao faces de um cubo: frias, distantes umas das outras, anulando-se mutuamente, porém, sustentando-se (o que pode parecer um paradoxo)!

Cada uma das faces deste cubo representa valores, valores que se pretendem autónomos, únicos. Valores que reclamam para si o selo da autenticidade.

  • São os valores da tradição e o poder dos espíritos;
  • São os valores da Igreja e o poder divino;
  • São os valores do Estado que as leis impõem;
  • São os valores do nosso próprio ego que exaltam a paixão e o amor.

Sim, Thokosa, mãe de Rufaque, ficou zangada porque o filho não aceitou o seu discurso.

A neta nasceu, cresceu, estudou e fez-se engenheira agrónoma. Saberia, muito mais tarde, através de sonhos, que o seu nome tradicional é Thokozane e que era pertença dos espíritos.

A par da sua superior inteligência, Fátima, ou Fatinha como era tratada, sentia uma força interior enorme. E, contrariamente aos ditames da avó, duas vezes se casou e duas vezes enviuvou.

Volto a citar: “Quando ela nascer, advertira a avó, traga-a junto de mim antes da queda do cordão umbilical, para que eu a vacine contra todos os males do corpo e da alma. Para que eu a baptize e a apresente aos legítimos donos. Não permitas que ela seja baptizado com outro nome, onde habitam os seus donos. Não tentes nunca negar-lhe esta dádiva natural, ou a vida dela, no futuro, tornar-se-á em algo com sabor amargo e intragável. Nesse momento, ela te apontará com dedo indicador em riste, dizendo: pai, tu és o responsável pela minha desgraça!”

Apesar dos valores da modernidade terem rejeitado este pacote, esta engenheira agrónoma chegou a ministra.

E foi em plena sessão do Conselho de Ministros, depois de uma arrasadora intervenção, que os espíritos se apossaram dela embaraçando o colégio ministerial, os serviços de protocolo e de segurança.

Afinal, de que lado estamos na face de um cubo?

Para terminar, fixo esta pequena síntese: Do ponto de vista temático este livro resvala entre o tradicional e o moderno, assente numa construção clássica que nos remete para as nossas leituras do antigamente, desde a Coleção 6 Balas, ao Jorge Amado ou Eduardo Paixão.

Possui belíssimos diálogos, precisos e eficazes, prefácio do Marcelo Panguana e capa do Ídasse Tembe. Caso para dizer que se trata de uma estreia madura!

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