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A luta pela sobrevivência de uma idosa e os seus cinco netos

A idosa Mariamo Momade e os seus cinco netos, deixados à sua sorte pelos pais biológicos, e residentes no bairro no bairro de Namicopo, na província de Nampula, constituem uma família que luta desesperadamente pela sobrevivência. Para eles, o amanhecer é o prenúncio de mais um dia de amargura. Enquanto a anciã vende lenha algures na zona, os meninos, excepto os mais novos, madrugam e correm para a machamba. Mas nem sempre este esforço tem valido a pena porque não assegura que diariamente haja comida na mesa.

Todos eles desconhecem as suas idades e não fazem a mínima ideia da data em que cada um nasceu, uma vez que não têm sequer um documento de identificação pessoal. Aliás, a avó não consegue também dizer se os meninos, dos quais o mais novo aparenta ter quatro anos e o mais velho entre 13 e 14 anos, foram ou não registadas.

A anciã, de acentuada diferença de idades em relação aos seus dependentes, mora no quarteirão 22, na Unidade Comunal Palmeiras 2, periferia da cidade de Nampula, disse ao @ Verdade que as crianças foram abandonadas pelos pais há anos. Nenhuma delas vai à escola, alegadamente por falta de condições para o efeito. O seu progenitor encontra-se detido na Cadeia Industrial de Nampula, onde cumpre uma pena de prisão de oito anos por ter sido condenado por roubo.

Devido ao desamparo dos pais biológicos, as crianças passaram a ter outro tipo de vida muito diferente da dos meninos que crescem ao lado dos seus progenitores. A idosa não poupa esforços para garantir que em casa não falte pelo menos uma refeição ao dia.

A nossa interlocutora cuida também de uma sobrinha e queixouse do elevado custo de vida a cada dia que passa, facto que, na sua opinião, faz com que ter algo para comer seja uma autêntica dor de cabeça. O seu negócio de venda de lenha não rende o suficiente para garantir a refeição quotidiana.

Segundo Mariamo Momade, Mussa Issufo, o mais novo dos netos, foi abandonado pela mãe quando tinha apenas três meses de vida, supostamente porque a partir do momento em que o marido foi preso, ela não teria condições para cuidar dos seus descendentes, muito menos de um recém-nascido.

A nossa fonte contou-nos que a progenitora do petiz está em parte incerta

“Não foi fácil cuidar desta criança porque precisava do leite materno para o seu crescimento saudável. Lutei bastante para ela poder desenvolver-se. Comecei a dar-lhe de comer farinha de milho antes de ter uma idade pata tal devido à falta de condições.

Todavia, a força e a bênção de Deus ajudaram-me a garantir uma alimentação, embora à rasca, e um tecto para ela, não obstante faltarem muitas coisas a que tem direito, como o amor dos pais”, narrou a fonte visivelmente desesperada em relação ao futuro dos seus netos.

A avó, a companheira e alegria dos meninos, confessou-nos que quando o assunto é alimentação entra em pânico, fica deprimida e, por vezes, suplica para morrer como forma de se livrar de tanto sofrimento a que está votada. Entretanto, imediatamente arrepende-se porque, se porventura as suas preces se concretizarem, não restam dúvidas de que os miúdos ficarão completamente desamparados.

Apesar destas e outras dificuldades por que a família passa, a dado momento de conversa com a nossa Reportagem, Mariamo esboçou um sorriso reluzente e afirmou o seguinte: “A família goza de boa saúde, não obstante a fome ser a maior preocupação.”

Nenhuma criança estuda

A nossa entrevistada alimenta expectativa em relação ao futuro dos seus dependentes, mas ao mesmo tempo guarda reservas porque nenhum deles frequenta um estabelecimento de ensino. O mais inquietante para ela é o facto de alguns estarem a ultrapassar a idade escolar.

“Caso houvesse alguém que arcasse com as despesas de ensino dos meus netos, acredito que o seu desempenho ou aproveitamento pedagógico seria muito fraco e correriam o risco de desistir dos estudos devido à fome. Nenhuma das crianças tem documento de identificação porque os pais não lhes registaram quando nasceram”, disse Mariamo, que repudia o facto de os outros parentes e as autoridades administrativas no bairro de Namicopo ignorarem os seus pedidos de apoio.

Estes meninos, que por culpa dos pais correm o risco de um dia andarem por aí de pés descalços, maltrapilhos e famintos, não conhecem o abc. Devido ao sofrimento, o seu rosto denuncia a ausência da noção de que “as nossas crianças de hoje serão os homens de amanhã.”

Uma criança sem aspirações

Em conversa com o @Verdade, Amadinho Issufo mostrou sinais de quem o desamparo dos pais lhe afecta sobremaneira e o propalado “futuro melhor” não faz sentido na vida. Aparentemente vencido pelos embaraços da vida e sem alento nem fé para continuar a lutar pela sobrevivência, sem meiaspalavras, confessou: “Não cobiço ser alguém…”

Entretanto, a outra criança, Mussa Issufo, alimenta o desejo de um dia se sentar no banco da escola para aprender a pilotar aviões.

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