Chegou ao fim, há treze dias, o histórico Mundial de futebol 2010, realizado na vizinhíssima África do Sul, “mova” (automóvel) da economia do Sul de Moçambique desde os tempos do trabalho migratório até a era actual do “mukherismo” e da integração económica regional. Com o fim do Mundial, morre na praia, como um castelo de areia, a grande mentira do aproveitamento da Copa do Mundo pela Pátria Amada. Veja linhas abaixo como @Verdade desmascara a falácia do “nosso” Mundial 2010.
Pré-comecemos pela boa nova – e que boa nova! De acordo com o Comando-Geral da Polícia da República de Moçambique, 80 mil turistas visitaram o país durante o Mundial de futebol. Portanto, para um país turístico que esperava colher pelo menos mil dólares de cada um dos 45 mil turistas projectados e planificados como residuais da Copa do Mundo que visitariam Moçambique, nos próximos dias o Comando Geral da PRM deverá “entregar” aos cofres do Turismo 80 milhões de dólares.
Trata-se de estatísticas encorajadoras, como bem referiu o porta-voz do Comando-Geral da PRM, Pedro Cossa, no habitual briefing com a imprensa. Enfatizá-las-íamos como estatísticas elucidativas do exercício desnecessário que foi o da criação de um Gabinete Técnico do Mundial 2010.
Deixemos de anedotas e passemos para os factos consumados sobre o planificado, propalado, decretado e anunciado aproveitamento do Mundial de futebol “Zakumi”, por Moçambique.
Comecemos então pelo Gabinete Técnico do Mundial 2010. Criado em conjunto pelo Ministério do Turismo e pelo Ministério da Juventude e Desportos, quando Fernando Sumbana Jr. acumulava as duas pastas há mais de dois anos, este gabinete foi ou é (porque não se anunciou o seu desmantelamento, apesar de que o mandato possa já ter expirado com o fim da Copa) uma espécie de “task-force” para o país maximizar os ganhos do Mundial 2010.
O lobby do Gabinete do Mundial 2010
No dia 27 de Maio de 2009, em matéria da autoria da pública Agência de Informação de Moçambique (AIM), e citada pelo Portal do Governo (www.portaldogoverno.gov.mz), a Secretária Executiva deste Gabinete anunciava que “Moçambique faz lobbies para atrair turistas e equipas”. Vejamos a seguir, a estória, sem tirar nem pôr, mas com sublinhados e negritos para destacar: Maputo, 27 Mai 09 (AIM) – Moçambique vai aproveitar a realização da Taça das Confederações de 14 a 28 de Junho próximo, na vizinha África do Sul, para vender a sua imagem como um destino turístico, bem como um país onde as equipas de futebol podem fazer os seus estágios durante o Mundial de 2010.
Esta informação foi revelada à AIM pela Secretária Executiva do Gabinete Técnico do Mundial de 2010, adstrito ao Ministro moçambicano do Turismo (MITUR), Isabel Macie. Segundo Macie, Moçambique está a fazer “lobbies” para que as selecções apuradas ao Mundial de 2010, a decorrer na vizinha África do Sul, estagiem em Moçambique.
“Acreditamos que se Portugal for apurado ao Mundial a selecção virá estagiar aqui em Moçambique. Mas isso não basta, temos que fazer lobbies para que as equipas venham para o nosso país e isso irá arrastar consigo os acompanhantes e os fãs. Nós vamos aproveitar a realização da Taça das Confederações para mostrar o que o país possui em termos de potencialidades”, disse.
Para Macie, a realização do Mundial de 2010 servirá de plataforma importante para Moçambique organizar os Jogos Pan-africanos de 2011.
“Todo o legado que estamos a construir no país, em termos de infra-estruturas e imagens de Moçambique, vai servir para podermos atrair mais turistas e investidores ao longo dos Jogos Pan-africanos e para preparamos a realização deste grande evento desportivo no país”, acrescentou.
Moçambique está empenhado na construção e reabilitação de algumas infra-estruturas desportivas, que podem receber as selecções que vierem estagiar no país. Neste momento, estão em construção o Estádio Nacional do Zimpeto, arredores da capital, na região sul, e o Estádio Municipal de Pemba, em Cabo Delgado, zona norte, bem como a reabilitação do Estádio da Machava e do Campo do Costa do Sol, na cidade de Maputo. Macie considera que para o país tirar maior proveito do Mundial2010 é fundamental que os projectos de reabilitação do Aeroporto Internacional de Maputo, de criação da Paragem Única na fronteira de Ressano Garcia entre Moçambique e África do Sul, bem como de construção dos estádios sejam concluídos dentro dos prazos. Fim de transcrição.
Esta notícia, na íntegra, pode ser lida, salvo qualquer “limpeza de arquivo informático”, através da seguinte ligação: http://www.portaldogoverno.gov.mz/noticias/fo_news_turismo/turismo-2009/mundial-2010-mocambique-faz-lobbie-para-atrair-turistas-e-equipas/
Como se pode notar, destacamos quatro pontos:
1. O lobby feito durante a Copa das Confederações, no ano passado, para atrair selecções a fim de estagiarem em Moçambique – até hoje não houve prestação de contas sobre em que consistiu este lobby, só sabemos que nenhuma selecção sequer pisou Moçambique a caminho da África do Sul.
2. A crença de que, se Portugal se qualificasse (estava então a caminho do Play-off com a Bósnia Herzegovina) para a Copa recém-finda, a “selecção das quinas” viria estagiar cá – que se saiba o melhor que Portugal fez, muito por culpa do luso-moçambicano, o “macua” seleccionador de Portugal, Carlos Queiroz, foi pagar 25 mil dólares de “chachet” para os nossos Mambas defrontarem (e perderem por 3-0) com a selecção lusa num campo de críquete na África do Sul.
– A construção e reabilitação de infra-estruturas desportivas para que selecções que estiveram na África do Sul estagiassem em Maputo e Cabo Delgado – o Estádio Nacional só em Dezembro próximo está pronto, o de Pemba até ver não tem prazo certo para a sua conclusão, o Estádio da Machava e o Campo do Costa do Sol continuam tal e qual estavam há um ano, tirando um mural ali, uma pintura aqui, um arranjozinho acolá. – O cumprimento de prazos nas obras das infra-estruturas transfronteiriças e aeroportuárias
– o Aeroporto de Mavalane até hoje está em reabilitação, a paragem única na fronteira Moçambique/África do Sul essa pelo menos já existe, pelo que metade da tarefa foi cumprida…logo, era de esperar ganhos por aqui (talvez tenha sido por aqui facilitada a entrada de muitos dos 80 mil turistas que visitaram o país segundo as estatísticas da PRM).
Aguardamos, pois, no bom princípio de transparência e prestação de contas dos gestores da “coisa pública” apanágio da Boa Governação, que nos venham dizer, na hora do balanço do Mundial 2010 os quês e porquês de não estarmos a apalpar os ganhos deste evento.
O “irmão” Brasil estagiou cá, patrícios?
Passemos então para a Exposição 2, da falácia do Mundial 2010 que nos venderam durante os últimos anos, tendo inclusive direito a debates públicos e televisivos.
Na sexta-feira, dia 19 de Junho de 2009, em artigo citado online por várias publicações nacionais, outro da diligentemente cumpridora do seu serviço público de informação (AIM), anunciava-se: “Mundial 2010: Brasil pode estagiar em Moçambique”.
Chamamos a atenção aos leitores que a transcrição a seguir, até notificação nossa, é toda dessa matéria da AIM (voltamos a sublinhar e a pintar em negrito os pontos destacáveis). Leiam: A probabilidade da selecção brasileira de futebol estagiar em Moçambique é grande. A probabilidade da selecção brasileira de futebol estagiar em Moçambique durante o Mundial de 2010, a realizar-se na vizinha África do Sul, caso seja qualificada, é grande, garantiu o Ministro do Turismo do Brasil, Luiz Barreto.
O Governo de Moçambique, através do Ministro do Turismo, Fernando Sumbana, expressou formalmente ao Executivo do Brasil a sua intenção de ter a selecção brasileira a estagiar no país por ocasião do Mundial de Futebol de 2010, na África do Sul.
Sumbana apresentou a intenção ao seu homólogo Luiz Barreto durante a visita que este efectuou esta semana a Moçambique e voltará a abordar o assunto com o Ministro brasileiro dos Esportes (Desportos), Orlando Silva, que se encontra desde hoje de visita ao país.
Luiz Barreto aconselhou o Governo moçambicano a entrar em contacto com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). “Acho que é uma possibilidade a selecção brasileira estagiar em Moçambique. Mas Moçambique deve procurar a CBF que controla o futebol e que paga a hospedagem dos jogadores. Esta é uma relação com o sector privado que gere os desportos”, referiu.
Entretanto, Barreto prometeu interceder junto da CBF para que a selecção do Brasil estagie em Moçambique. “O Governo brasileiro pode intermediar as negociações. Há um grau de exigência muito grande. O Brasil ainda precisa de se qualificar para o Mundial, as eliminatórias estão em curso e acreditamos que até ao fim deste ano saberemos se a selecção vai ou não. Eu tenho a certeza de que o Brasil se classificará, a gente está em primeiro lugar nas eliminatórias”, salientou.
Acabamos de fechar mais este exercício de “copy and paste” do trabalho da AIM. Não sabemos se devemos exigir contas ao Ministro do Turismo brasileiro ou ao Governo Moçambicano, mas alguém tem de nos vir dizer porque é que o Brasil – país irmão da CPLP – foi estagiar no Zimbabwe, onde defrontou a selecção do país de Robert Mugabe e Morgan Tsvangirai e ainda passou pela Tanzânia a caminho do Mundial 2010.
Será que tínhamos infra-estruturas desportivas (centro de estágio completo) para que a selecção de Dunga viesse falar português-futebolês e comer camarão enquanto distribuía autógrafos a muitos fanáticos nossos cidadãos no seu aquecimento para a Copa?
Ou só faltou aquela conversa entre o Governo Moçambicano e a Confederação Brasileira de Futebol?
Optimistas e positivistas como somos, preferimos, ainda assim, olhar para o futuro e não apenas exigir a prestação de contas sobre factos (não) consumados.
No âmbito dos Jogos Africanos, a decorrerem em Setembro do próximo ano em Moçambique, o Primeiro-Ministro, em representação do Governo de que é coordenador em nome do Chefe…de Estado, lançou um desafio ao empresariado nacional, a 5 de Março último.
A reportagem do Jornal Notícias, na altura, referia e passamos a citar: “Segundo Aires Ali, a realização do Campeonato Mundial de Futebol de 2010 na África do Sul é um ensaio a ser devidamente explorado, tendo em conta que o nosso país, em particular o empresariado, já se prepara para colher dividendos desta ocasião ímpar de se ter uma competição futebolística tão importante mesmo aqui ao lado. Por isso, sublinhou, aquilo que puder ser feito agora deve ser capitalizado nos Jogos Africanos, com o envolvimento de todos os sectores.”
Estamos à espera, esperançosos e patrióticos, que o empresariado nacional tenha colhido os dividendos do Mundial 2010 e o país desportivo-empresarial tenha explorado devidamente o ensaio que foi a Copa “Zakumi” – em resposta ao repto de Sua Excelência o Primeiro-Ministro.
Uma breve nota final do apurado pela nossa reportagem:
– Não quisemos fazer eco da desilusão dos hotéis de Maputo por não terem beneficiado de turistas do Mundial 2010; e furtamo-nos de trazer aqui relatos de taxistas que se viram forçados a aderir a créditos bancários para a aquisição de frotas de táxis, mais ao nível dos turistas que iríamos receber e que lhes permitiriam ganhar muito dinheiro a transportá-los pela cidade dentro e fora. Só não o fizemos para que não os caricaturemos como “os coitados do Mundial 2010”, por respeito à sua dignidade e honra.
Em busca de motivos palpáveis para celebrar, sempre no nosso jeito orgulhosamente moçambicano de ser, descobrimos o grande benefício do Mundial 2010 que teve o guitarrista moçambicano dos Freshly Ground, Júlio Sigaúque. Julinho foi visto no mundo inteiro a performar ao lado de Shakira e da sua colega de banda Zolani nos shows de abertura e encerramento da Copa do Mundo. Há mais para celebrar?