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‘@Verdade da Manhiça: A confissão de um aluno

Eu sou o “radical-fundamentalista” líder dos Hezzbolah, muito bem conhecido nos corredores da minha escola, por sinal, a maior do país, Moçambique. Fui ano passado o aluno visto várias vezes embriagado e que despoletou os casos de embriaguez nas escolas. Confesso que vivi momentos de estrelato, porque embora mentalmente alterado, tive à minha frente câmaras das 4 estações televisivas do país. Foi para mim muito honroso ver a minha imagem aliada aos grandes analistas e estrategas do sector da educação que refl ectiram sobre o caso.

Mas o negativo disso, pois qualquer acção tem as suas consequências, que para além da suspensão de 2 semanas das aulas até a poeira baixar como o Director Pedagógico avançou e o castigo de não poder sair casa durante o período da suspensão, é sem dúvidas o facto de o Município ter decidido retirar as barracas ao redor da escola.

É uma chatice das pesadas, o meu atacador, já que não uso cinto para segurar as calças e dos companheiros do Hezzbolah, estará mais apertado, pois com esta medida retirar-seá a barraca da Dona Berta, a nossa esquina, onde se consumia até no interior da barraca para fugir dos olhares, onde se consumia por valer e já havia, graças à bondade daquela velha senhora, algo preparado ao intervalo e à saída da escola para a Hezzbolah.

Se calhar muitos não percebem esta coisa de Hezzbolah, mas os meus colegas de escola, muitos deles, sabem e muito bem o que é a Hezzbolah. Mas já explico de forma breve: Hezzbolah é um grupo de alunos, fundado e liderado por mim, que fomenta o radicalismo de pequena escala na escola.

A Hezzbolah resolve quase todo o tipo de problemas afectivos na escola. É este grupo que invade as escolas vizinhas para roubar telemóveis, lanche dos mais ricos e agredir os que, porventura, tenham provocado algum membro do grupo ou da escola, que manifestou vingança.

Mas também fazemos isto dentro da nossa escola, por isso é que somos temidos em demasia. Não temos grupos rivais, senão mesmo a Direcção que vezes sem conta nos tem mandado chamar os encarregados, mas sempre fazemos questão de chamar a empregada ou o empregado e a situação fica logo resolvida.

A Directora que era então a líder da ofensiva contra os Hezzbolah, já está controlada, criámos outra preocupação para ela, arranjámos um grupo de “fofinhos” que vivem atazanando a sua filha com “paqueras” de lhe tirar o sossego e de viver controlando a filha na escola.

Mas voltando ao assunto da retirada das barracas e da Dona Berta, mostramo-nos bastante inquietados, porque esta situação vai exigir de nós mudanças bruscas de estratégias, porém, se pensam que vão acabar com a prática do consumo do álcool nas escolas, estão excessiva e brutalmente enganados. O povo está acima de qualquer decisão e nenhum dirigente está acima do povo, se não teriam de se eleger para governarem.

Agora, como não podemos sair ao meio das aulas para a barraca da Dona Berta e muito menos adquirir o nosso catalisador com tamanha facilidade, vamos é adoptar constantemente o sistema alternativo que praticávamos ao fi nal de cada mês. Comprar a boina vermelha ou simplesmente Tequila (made in Mozambique) para os Comandos Ranger’s, Rick Ross (boss) para os mais fraquinhos e Red Bull para os superiores e El Salvador para os caloiros do Hezzbolah. Depois comprar naquela esquina perto de casa, um sumo Ceres ou Fizz para a nossa magnífi ca mistura, “caipirinha” à moda moçambicana.

Seremos bastante cautelosos no consumo, agora não poderemos beber antes das aulas, porque além do círculo se demonstrar fechado, temos o guarda que já nem aceita os nossos 20 paus para apanhar da ideia da Tequila.

Mas para este último, medidas estão sendo estudadas para domálo, ainda bem que temos no seio da Hezzbolah gente da elite deste país, Júnior filho do Ministro, Petter filho da Deputada e chefe da bancada, Pastor Brasileiro filho da Governadora e Vlado Boy Manager, o filho do Presidente do Conselho da Administração. Usaremos estas figuras para amedrontá-lo, aliás, são igualmente estas figuras que tornam alguns membros do Hezzbolah intocáveis na escola.

Com sumo Ceres e Fizz adulterado, ninguém perceberá patavina. Até poderemos entrar com o produto em mão, numa clara demonstração de que nenhuma decisão está acima do povo.

Pessoalmente, fico excessivamente chocado quando se diz que este problema parte de casa, não pode ser verdade, é uma ideia de quem não percebe nada e se acha analista no vazio e pretensiosamente querer puxar as responsabilidades aos nossos pais e mais nada. O problema está na rua, nas nossas companhias, nas nossas amizades.

Não falarei de mim como exemplo, mas sim do Júnior o filho do ministro, que ao chegar aqui era todo certinho quase “matreco”, bastaram-lhe poucos dias de contacto comigo para começar a ver o mundo de outra forma, mas, quando chega a casa ou quando lá vamos, sincera e honestamente ele vira outra pessoa e até só consumimos refrigerantes made in Italy.

E graças a Deus, hoje, ele é o maior financiador dos Hezzbolah, seguido pelo filho da governadora, do PCA e por fim, Chefe da Bancada, uma prova palpável de que directa ou indirectamente, a elite deste país fomenta o acto da embriaguez nas escolas.

Pelos contornos é possível concluir que pôr fim a esta prática é impossível e o braço- de-ferro que o Município e a Direcção da Escola instalaram contra os alunos só vai agravar a situação, porque até os professores de Física, Biologia, Química e Português apresentam-se na sala de aulas embriagados.

Uma solução talvez para apaziguar esta situação seria pressionando-nos a estudar, intensificarem os estudos, ocuparem-nos com matérias como também os docentes deixarem de nos cobrar a cada final do ano valores monetários para a nossa transição de classe para mesmo assim, nas classes com exame, reprovar.

Afinal o Ministério da Educação não questiona o porquê das reprovações em massa nas classes com exame? Até mesmo eu, que estudo só e só para passar de classe e entregar o certificado ao meu tio para me empregar na quarta maior empresa do país, a que ele dirige, empresa do Chefe maior, percebo um pouco das coisas.

Mas enfim, se o Município quer mesmo trabalhar, deve saber primeiro que o elenco que hoje o encabeça, chegou aqui e nos encontrou bebendo e não será alguma medida dele que nos fará parar. Juro palavra de Honra e sinceramente, vou morrer assim.

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